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Opinião: “Ainda a Rita Rato”

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Acho óptimo que se faça uma revisão das votações da Deputada Rita Rato. Estou a ver, com interesse , a pureza cristalina com que dedos em riste analisam a posição da então Deputada em vários votos relativos a regimes políticos e direitos humanos . Curiosamente , muitas das pessoas que lhe apontam o dedo , repito , gente pura da direita que ama a democracia e os diretos humanos , nunca é confrontada com as suas próprias votações . Assim de repente , estou a lembrar – me da quantidade de votos que condenaram a política miserável de Israel de anexação, uma política violadora do direito internacional e dos direitos humanos , que vem contando com a conivência de uma certa ala parlamentar. Assim de repente, estou a lembrar – me da conivência dessa mesma ala parlamentar com Trump e Bolsonaro , porque política é política , já sabemos , não contem com eles para condenarem veemente actos bárbaros daqueles atuais agressores dos direitos humanos ou para condenarem inúmeros atentados ao direito internacional cometidos pelos EUA. Aqui, o PS também não se safa . Nem eu, portanto. Assim de repente , estou a lembrar – me da longa conivência com um regime angolano ditatorial e corrupto , do chumbo do voto de condenação da prisão de ativistas daquele país .
Querem mais ?
Algum decoro neste ataque pidesco à Rita Rato. Já nem falo no sexismo aviltante.
Quem está de boa fé já percebeu que os amigos dos preteridos no concurso não resistiram a expelir a raiva da sua classe . O elitismo subjacente à barulheira recorda – nos o que de pior se tem escrito sobre esta pátria . Um Portugal onde, de facto , o povo sempre foi melhor do que as elites . E continua a ser . Faz – se uma tempestade porque um museu marcadamente político vai ser dirigido por alguém com um perfil marcadamente político . Queriam que fosse um senhor historiador . Ou uma senhor da museologia . Respeitinho. Lamento . Não quero esse país . O do respeitinho . Quero criatividade . Essa que levou a que se escolhesse a Rita Rato . Com o seu projeto . Era o que faltava que a directora de um museu político tivesse de ser historiadora , por exemplo . Tem de ter um
Projeto . E saber rodear – se das pessoas certas . A Rita sabe fazer isso tudo . Não pede desculpa por ser comunista , já agora . E não nos deve explicações por ter sido escolhida . Pelo caminho, vejam as direções de todos os museus deste país tendo em conta o perfil de cada um . E façam barulho , não é? Bom trabalho , Rita.

Isabel Moreira

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Opinião: “A desistência do respeito mútuo”

Raquel 9719966António-Coimbra-de-Matos-e-Raquel-VarelaQuando fui com 18 anos viver para a Alemanha pensei que Portugal era o fim do mundo. Não porque por terras de germânicas há mais riqueza. Nada me causou nos primeiros dias tanta estranheza como ver a minha colega de casa, estudante de medicina, ir às 6 da manhã, feliz, de patins, com frio, neve, para a Faculdade. Havia esfera pública. Pensei, caramba!, que lugar evoluído. Na aldeia onde temos em casa, em Portugal, que terá de distância de uma ponta à outra 1 km e meio, uma parte das pessoas vai ao café de carro e acham graça eu por lá andar de bicicleta – olham para mim como um antropólogo em África no século XIX olha o seu objecto de estudo. Os filhos estão na sua maioria fechados com uma Playstation, porque, entre outras razões, a rua é dos carros e é efectivamente perigosa. A acumulação e a circulação de mercadorias e pessoas não pode parar, por isso fecham-se as crianças em casa. Somos, nesta matéria, hoje, mais primitivos. Temos uma das mais altas taxas de morte nas estradas.

Recordo-me de, muito pequena, uma cena inesquecível. Conto-vos como a memória me trouxe ela até hoje. Estava o meu irmão e o seu grande amigo a jogar ténis num passeio na Zambujeira do Mar e nós todos a brincar na rua, e os nossos pais a conversar animados nos cafés, na altura em que era uma vila de pescadores a sério. E dois ou três homens entraram na terra, num carro, muito rápido, voaram pelo passeio, quase os atropelaram e foram bater num muro, que destruíram. E que os salvou, impedindo-os de cair na falésia. Todos no velho café Rita ficaram chocados com aqueles assassinos à solta, que por pouco não tinham morto dois jovens e a si próprios, e depois de os tirarem do carro e ver que não estavam feridos, deram-lhes um valente murro. Hoje, na Zambujeira, ou na aldeia onde tenho casa a norte do Tejo, ou na minha rua histórica, na área de Lisboa, onde o limite legal é 30km/hora, todos os dias passam uns animais, que fora do carro até podem ser pessoas humanas, a 50 e 70 km/hora. Aliás, na aldeia já por duas vezes o nosso muro foi destruído por embates de carros. E ninguém ousa dar um murro, que seja um grito, neste delírio individualista em que estamos sufocados. Não há posições colectivas de defesa da comunidade. Isto levou a uma situação em que pedestres, crianças, ciclistas e idosos, todos vivemos com um arma apontada à cabeça – essa arma chama-se carro. Ontem morreu uma jovem de 16 anos, pode ter sido um acidente, um outro jovem que teve um AVC ao volante, por exemplo. Pode, mas é pouco provável. O que é mais provável é que ali não há limites de velocidade correctos, as passadeiras não têm lombas, avisos sonoros, listas vermelhas, e a educação para a condução é “prego no fundo” – aliás os anúncios de vendas de automóveis continuam a estimular a velocidade como acto de liberdade.

Somos prisioneiros no espaço público. Que foi completamente dominado ou por estradas ou por parques de estacionamento. O Governo, complacente com a indústria automóvel, lava as mãos disto anunciando todos os anos mortos na estrada, atropelamentos, como “acidentes”. Há, é verdade, acidentes. Mas, a maioria dos mortos não resultam de “acidentes” mas de erros evitáveis. Naturalizou-se o que é social, e não acidental – a falta de educação, de civismo, de respeito, de fiscalização, de serviço público de segurança rodoviária, e de estradas decentes. Em vários países da Europa zonas residenciais e aldeias ou ficaram sem carros ou têm um limites claro, e fiscalizados, de 30 a 50km/hora. Onde há crianças e escolas, como no Campo Grande, sempre 30km/Hora. Cá em Portugal vê-se de tudo: animais colados à traseira do carro da frente; a fazer marcha atrás acelerando; atravessando aldeias a 70 km/hora, 90 km/hora; estradas que são elas mesmo criminosas. E a polícia tem como função de quando em quando passar umas multas que visam recolher impostos. Campanhas de educação deixou de haver de todo. As pessoas, ao contrário da Zambujeira há 40 anos, desistiram de ser uma comunidade que luta e age pelo respeito mutúo.

Tenho muitos amigos, alguns próximos, que são maravilhosos e quando pegam no carro são uns animais. Disney fez um dia uma ilustração Mr Walker e Mr Wheeler – o Sr Pedestre é um homem delicado e educado, quando entrava no carro transmuta-se no Sr Rodas, uma besta incontrolável.

Raquel Varela

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Artigo de opinião: “A ministra, o barrete e a pega”

joaquim-nascimentoO que agora nos governa são políticas exclusivas em que o preconceito ideológico está ao serviço do mais primário sectarismo e em que a ministra não só não sai em defesa da cultura do seu país, como é ela própria a intérprete da agressão.

O mantra “entendamo-nos”, ou o ainda mais imperativo “entendamo-nos bem” fazem parte da linguagem fria frequentemente utilizada no discurso autoritário de uma certa clique que se tem por vanguardista e sabichona para policiar e chamar à razão as massas. Em aparente paradoxo, o pacote proveniente do espectro político mais frequentado por estas luminárias costuma também trazer uma atitude religiosa consubstanciada na utilização de uma moral de culpa tão tipicamente judaico-cristã. Insuportáveis, na sua unção, gostam então de se pôr a julgar: Aficcionado? Culpado de crueldade. Come carne? Culpado das alterações climáticas. Caçador? Culpado de atentar contra a biodiversidade. Agricultor? Culpado pela insustentabilidade. Feliz? Culpado pelo desuso. Isto é, o rabo racional esconde o gato inquisidor e, quando acaba a assumir responsabilidades governativas, o felídeo faz questão de não deixar os seus créditos por garras alheias.

Forcados

Há já quase dois anos, qual Rá, chegou para nos iluminar a actual ministra da Cultura. Dando-se ares de quem das coisas do campo sabe que serão “tipo uma maçada com vegetação, bichos e assim”, trouxe, no entanto, com ela um verdadeiro estado da arte na produção de “civilizações”. Recentemente, foi ao indigenato transtagano que ela concedeu a honra de pastorear na sua descida até à planície. Embora entre Évora e Elvas lhe tenham ocorrido diferentes versões da esfrega, veio então a Sra. ministra mostrar-nos como funciona o departamento da cultura democrática.

“São palavras ofensivas e atacam as pessoas que têm uma paixão e um sentimento positivo por uma prática que no nosso país é considerada cultural”. Esta foi a pronta resposta do ministro da Cultura espanhol ao dono da empresa Neat Burger, mais conhecido por ser o actual campeão mundial de Fórmula 1. Esta empresa comercializa hamburgers vegan e as ofensivas palavras “verdadeiramente repugnante, Espanha!” surgiram num post ao lado de um touro de lide morto que seguramente não seria destinado a ser servido nos seus restaurantes. Como agora em Espanha, em Portugal também já tivemos autoridades como o Presidente Jorge Sampaio a providenciar as adequadas condições para o enquadramento institucional da tauromaquia a partir da dialéctica que deve ser intrínseca a estas temáticas. Chamou-lhe “pluralismo cultural”, por forma a promover a diversidade e a tolerância de políticas inclusivas.

Em vez disso, o que agora nesta matéria nos governa são políticas exclusivas em que o preconceito ideológico está ao serviço do mais primário sectarismo e em que a ministra não só não sai em defesa da cultura do seu país, como é ela própria a intérprete da agressão. “Há valores civilizacionais que diferenciam políticas” e “a tauromaquia não é uma questão de gosto, é uma questão de civilização” são pérolas retóricas com que nos acossou na Assembleia da República antes de vir a Évora para, de forma acintosa e grosseira, se recusar a receber um barrete de forcado da parte do “incivilizado” grupo desta cidade-museu e património mundial UNESCO.

É que Évora, sendo uma cidade histórica, é também cosmopolita e expoente de uma moderna ruralidade e aquele barrete de forcado era bem a representação dessa síntese de tempos e de gentes no centro do amplo espaço cultural nacional do touro bravo. Se é legítimo o desacordo individual de alguém que, por receber um barrete de forcado teme ser sugada para uma máquina do tempo que a transporte até à Idade da Pedra, da ministra da Cultura de um país civilizado são inaceitáveis a acrimónia, a soberba e a falta de respeito a um símbolo identitário com as cores nacionais. É duma reminiscência de origem militar que procede a farda de forcado. Pontuada pelo vermelho por referência ao perigo, ao sangue mas também à paixão, tem três elementos principais: o barrete verde e o calção cor de trigo simbolizando os ciclos contínuos de uma natureza perene com o que nela começa verde para depois amadurecer, e a jaqueta com as ramagens a aportarem uma estética significativa da capacidade do Homem para elaborar em complemento ao que é natural.

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Ficando assim qualificada a indumentária para a solenidade, é, no entanto, o barrete a peça de maior protagonismo. Distingue o forcado da cara na pega, é com ele que é feita a saudação aos representantes do Estado através da Inspecção Geral das Actividades Culturais e serve também para a dedicatória prévia e posterior agradecimento dos aplausos. Por ser a peça de maior significado institucional, a jaqueta é devolvida ao grupo no fim do tempo de participação do forcado. Já o barrete é guardado como relíquia pessoal para poder ser passado de geração em geração, até ser recusado pela Ministra da Cultura do mesmo país em que é um símbolo cultural. Para além disso, é também a síntese de um sistema de valores tal como ele vem sendo divulgado a partir de 1915. Deste então, com a sua fundação, o Grupo de Amadores de Santarém, estabeleceu as actuais referências técnicas, estilísticas e comportamentais para os intérpretes da moderna arte de pegar touros e por isso já foi condecorado por três presidentes da nossa República.

Haverá desconsideração pela condição da mulher em Podence porque os diabólicos Caretos perseguem e chocalham as raparigas no Entrudo? Será a Falcoaria um anacronismo por ser uma forma de caça com luta entre animais? E será para estes humilhação a Arte Chocalheira? O Cante alentejano ser quase sempre interpretado por homens e os Bonecos de Estremoz serem originariamente só feitos por mulheres porão problemas de desigualdade de género? A questão é qual o enquadramento adequado e em que plano é relevante estas matérias serem analisadas. Porque se para a UNESCO há justiça na sua classificação como património cultural imaterial da humanidade, para a nossa sensível e ensimesmada ministra, o mais provável é haver também por aqui problemas com os “valores civilizacionais”.

A tauromaquia é uma das genuínas expressões culturais que enriquecem o nosso país, devendo por isso encontrar representação e ser acarinhada no ministério da cultura. Tendo também ela a sua principal expressão na geografia e no caldo cultural que já ofereceu a Portugal a maior parte do nosso património cultural imaterial da humanidade. Se somos assim culturalmente tão reconhecidos pela UNESCO, por que vem cá a nossa própria ministra da Cultura para desconsiderar e discriminar sem a mínima civilidade e em completa ausência de sentido de Estado?

Diletante, começou por nos informar que havia 170 obras de arte no seu ministério que não se encontravam desaparecidas, do que precisavam era de uma localização mais exacta! Negligente, já em pandemia, propôs um Festival de Artistas Confinados TV Fest, em que num esquema de pirâmide, a cada artista caberia indicar os seguintes a actuar! Trapalhona, arranjou confusão não só com os critérios que lhe permitiram eleger as Edições Avante para ajudas covid-19 à comunicação social, mas também com as contas no apuramento dos montantes para a atribuição desses apoios extraordinários! Refém do politicamente correcto, não consegue a sra. ministra inspiração que lhe desentorte um ministério disfuncional e asséptico, nem desígnio que possa oferecer à cultura do seu país! Inconsciente, no seu radicalismo afectado, não se dá conta que a sua incompetência técnica e a sua falta de elevação acabam a alimentar um radicalismo oportunista de sinal contrário, ultramontano e demagogo. Alguém disse que “decente é não tratar mal ninguém”. Se à Sra. ministra custa a inteligência, ao menos lhe valesse a decência para a demissão.

Agricultor (Olivicultor – Ervedal-Avís)

At https://www.publico.pt/

Artigo de opinião: “Portugal e a Maçonaria em tempos de pandemia”

Antonio VenturaEste tempo de excepção é para a Maçonaria um tempo extraordinário, sem paralelo, pois, para existir, reclama a essencialidade insubstituível da presença física e da partilha presencial e simultânea do mesmo espaço e do mesmo tempo.

Constitui uma ideia pacificamente aceite que temos vivido tempos de excepção. Tempos de excepção que nos têm privado de comportamentos de proximidade, de comportamentos sociais que são essenciais ao Ser Humano. Numa palavra, temos sido privados de parte da nossa humanidade.

A ausência de proximidade física, a necessidade que temos sentido em estarmos mais distantes, tem feito com que, frequentemente, olhemos para os outros não como parte de uma mesma humanidade, mas antes como um potencial factor de risco a evitar. Todos nós, ao sairmos das nossas casas, em tempos de pandemia, já sentimos essa necessidade de nos afastarmos, de evitarmos os outros, de traçarmos outra rota, condicionados pelo medo que nos assola enquanto sociedade.

A Humanidade enfrenta, por isso, um enorme desafio: recuperar a confiança; uns nos outros, nas relações sociais, nas relações profissionais, nas relações familiares, nas relações de amizade, mas sobretudo nos afectos; ao mesmo tempo que convivemos com um vírus que corrói diariamente essas relações.

Este tempo de excepção é para a Maçonaria um tempo extraordinário, sem paralelo, pois, para existir, reclama a essencialidade insubstituível da presença física e da partilha presencial e simultânea do mesmo espaço e do mesmo tempo.

Assinalámos muito recentemente os 85 anos da publicação da Lei n.º 1901, de 21 de Maio de 1935, que proibia as “sociedades secretas”. O projecto inicial, da autoria do deputado José Cabral, foi apresentado em 19 de Janeiro na Assembleia Nacional – a primeira do Estado Novo –, destinado a proibir as associações secretas e punir os que a elas pertencessem, obrigando os funcionários do Estado e dos corpos administrativos, civis e militares, a declarar por sua honra que não pertenciam nem jamais pertenceriam a tais associações, obrigatoriedade que também era exigida aos alunos de qualquer grau de ensino pertencente ou subsidiado pelo Estado, a partir dos 16 anos de idade. Depois do parecer favorável da Câmara Corporativa, em 27 de Março, foi votado e aprovado por unanimidade em 6 de Abril.

Começava uma nova época para a Maçonaria Portuguesa, que teve de combater o triunfo momentâneo das forças do obscurantismo, da intolerância e do fanatismo.

Mas nem mesmo nesse tempo fomos privados da egrégora fraterna que nos eleva, pois, mesmo na clandestinidade, apesar dos riscos daí decorrentes, havia a cumplicidade da partilha presencial do mesmo tempo e do mesmo espaço.

No caminho para a recuperação da confiança, colocam-se à sociedade portuguesa – tanto quanto a outras – exigentes tarefas que importa enfrentar e que devem merecer o trabalho dos democratas em geral e de cada um dos maçons em particular, enquanto cidadãos empenhados na construção do bem comum, numa intervenção na sociedade que, não sendo orgânica, não pode nem deve deixar de ser feita.

Os tempos difíceis que enfrentamos afectam e continuarão a afectar de forma decisiva a nossa vida em comunidade. Aos que, como os maçons, encontram na democracia o caminho para a realização social impõe-se uma vigilância e uma actuação permanentes, face à nova realidade que vivemos

Vejamos seis tarefas que reputamos como essenciais.

A pandemia chamou-nos a atenção, de forma dramática, para a essencialidade da existência de um Serviço Nacional de Saúde, enquanto instrumento fundamental da promoção da dignidade humana e da igualdade entre os cidadãos. Abstraindo-nos das opções políticas concretas tendentes ao alcance desse desiderato, nas quais não nos imiscuímos, consideramos que esta é uma matéria em relação à qual se torna imperativo promover uma cultura de compromisso na sociedade portuguesa.

Os tempos difíceis que enfrentamos afectam e continuarão a afectar de forma decisiva a nossa vida em comunidade e terão sérias consequências nos planos económico, financeiro e social.

Aos que, como os maçons, encontram na democracia o caminho para a realização social impõe-se uma vigilância e uma actuação permanentes, face à nova realidade que vivemos.

Desde logo, combatendo, por todas as formas, os populismos e os extremismos de todos os matizes que, historicamente, tendem a crescer em períodos de excepção como o que vivemos e que também tenderão a crescer na sociedade portuguesa, quer de forma mais organizada, quer de forma mais inorgânica, mas igualmente preocupante.

Por isso, é imperioso continuar, como sempre temos feito, a defesa intransigente dos direitos, liberdades e garantias, que, também historicamente, nas épocas com maior propensão securitária, tendem a ser colocados em causa.

A crise económica e financeira que se desenha e que já afecta muitos dos nossos concidadãos trará, inevitavelmente, sérios problemas sociais, com o aumento dos níveis de desemprego à cabeça. A firme defesa da coesão social, as preocupações com os mais desfavorecidos e com as novas formas de pobreza são questões que nos devem ser particularmente caras, de forma a que, no progresso colectivo, “ninguém fique para trás”. Os números dos mortos, dos internados, dos infectados, dos desempregados, dizem respeito a pessoas concretas, a dramas pessoais e humanos concretos, que exigem a nossa atenção.

Esta crise multifacetada, económica, financeira e social, afectará a sociedade portuguesa de forma marcante e, para a sua resolução, impõe-se uma prática de intervenção pública e cívica centrada nos problemas, de forma a que os interesses da colectividade prevaleçam sobre os interesses individuais ou de grupo, com base numa promoção de inevitáveis compromissos, de que os maçons não se devem alhear, como homens que devem promover o diálogo no seio da Humanidade.

Por fim, as referidas crises afectarão a sociedade portuguesa num momento em que se tem assistido, ao longo dos últimos anos, a um enfraquecimento geral do peso das instituições, aliado a uma incapacidade crescente de renovação e de envolvimento das novas gerações. Impõe-se, por isso, uma intervenção cidadã e empenhada nas diversas instituições da sociedade portuguesa, fortalecendo-as. Impõe-se ainda uma credibilização dos actores públicos e devolução do sentido de nobreza à gestão da coisa pública. Ao fazê-lo fortaleceremos o país.

Cremos que a materialização deste “caderno de encargos” – valorização do Serviço Nacional de Saúde; combate aos diversos populismos e extremismos; defesa dos direitos, liberdades e garantias; defesa da coesão social; preocupação com o bem comum, assente numa cultura de compromisso; fortalecimento e renovação das instituições – contribuirá para a reconquista da confiança na sociedade portuguesa, objectivo que é de todos os democratas, mas também da Maçonaria. Como afirmava Magalhães Lima, em 1907, após a sua eleição como grão-mestre, “É precisamente para fomentar a confiança entre os homens que existe a maçonaria”.

António Ventura e Carlos Vasconcelos

At https://www.publico.pt/

Forcados e toureiros também vão a Elvas amanhã

 

maxresdefaultOs chefes de estado de Portugal e Espanha vão estar presentes, amanhã, dia 1 de Julho, na cerimónia de abertura das Fronteiras. Os presidentes da ANGF e o da ANT apelam a que todos os profissionais da tauromaquia estejam presentes no Castelo de Elvas, pelas 10h30, onde se vai realizar a cerimónia.
“Mesmo sendo em cima da hora era bom estarmos presentes para continuarmos a ser vistos e reivindicarmos aquilo a que os nossos governantes nos têm vindo a privar, medidas de retoma da actividade iguais aos restantes sectores culturais. Devermos estar as 10h00 junto à entrada do castelo de Elvas. É importante a presença de todos os que se puderem juntar. Deveremos ter especial atenção ao distanciamento social e ao uso de máscara”, revela o comunicado da ANGF.

Tauronews contactou o presidente da ANGF, Diogo Durão, que irá estar presente na cerimónia. “Embora seja um dia de trabalho normal e numa altura em que precisamos todos de trabalhar, espero que os que são profissionais do sector da tauromaquia estejam presentes”, começa por revelar Diogo Durão. E acrescenta: “Os Forcados, embora sejam amadores vão estar presentes”.

Quem também vai marcar presença são os toureiros, segundo Nuno Pardal, Presidente da Associação Nacional de Toureiros que avança à Tauronews: “Já convoquei todos os profissionais a estarem presentes pelas 10h15 ao pé do Castelo de Elvas. Eu vou estar presente e acredito que os toureiros também vão, afinal temos que continuar a lutar pela tauromaquia!”.

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Os Verdes amanhã em Elvas em contestação contra Almaraz

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☢️ ALMARAZ

ENCERRAR #ALMARAZ! – Amanhã em #Elvas – Voz de Os Verdes na Abertura das Fronteiras!

🌻 #OsVerdes marcarão presença, amanhã de manhã, durante o decorrer das cerimónias oficiais de reabertura das fronteiras, junto ao Caia, em Elvas, a exigirem o encerramento de Almaraz.

Leia aqui: http://www.osverdes.pt/pages/posts/encerrar-almaraz—amanha-em-elvas—voz-de-os-verdes-na-abertura-das-fronteiras-11095.php

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Artigo de opinião: “Demissão”

Luis GodinhoO velho pescador cubano – Santiago, de seu nome – está há vários meses sem conseguir pescar um único peixe, apesar de todos os dias sair para o mar. “Era um velho que pescava sozinho num esquife na corrente do Golfo e saíra havia já por oitenta e quatro dias sem apanhar um peixe”. Quando a sua sorte muda, um enorme espadarte morde o isco e arrasta o barco para alto mar, para longe, cada vez mais longe, da costa. Santiago conseguirá capturar o animal mas será subjugado pelo destino no decurso do longo regresso a casa.

“O Velho e o Mar” é uma ode poética à coragem humana, um dos mais comoventes romances de Ernest Hemingway. Valeu-lhe o prémio Pulitzer em 1953. No ano seguinte seria distinguido com o Nobel da Literatura. “O Velho e o Mar”. Li-o pela primeira vez ainda adolescente. Era, aliás, um dos livros de leitura obrigatória no secundário – não sei se continuará a sê-lo. “Por Quem os Sinos Dobram” – um relato impressionista da guerra civil espanhola – é outra das obras que me tem acompanhado ao longo da vida. “Se era assim, bem, era assim. Mas que lei me obriga a aceitar isto? E nunca pensei que pudesse sentir o que estou agora a sentir. Nem que isso me pudesse acontecer”. O livro é de 1940. E, três anos depois, ainda Hitler dominava boa parte da Europa, Sam Wood adaptava-o ao cinema, num belíssimo filme com Gary Cooper e Ingrid Bergman.

“O Velho e o Mar”, com o pescador Santiago, e “Por Quem os Sinos Dobram”, a trágica história do americano Robert Jordan por terras de Espanha, integrado nas brigadas internacionais que resistem ao avanço das tropas fascistas de Francisco Franco… até ao início da pandemia era este o meu conhecimento – muito limitado, reconheço – da obra de Ernest Hemingway. E eis que com a covid-19, o confinamento e as compras online, lá surge por inesperada obra do acaso a oportunidade de uma leitura de toda a obra – ficção, não ficção, contos e pequenas histórias – de um dos mais marcantes escritores do século XX, em novas edições da Livros do Brasil. “Às vezes, a verdadeira vitória não se pode mostrar, nem a verdadeira coragem é tão visível ou evidente quanto se pensa”. Hemingway.

Foi assim, como que por acaso, que descobri a genialidade de obras como “Ilhas na Corrente” (1970) ou “Na Outra Margem, Entre as Árvores” (1950), além, é claro, de “Fiesta – O Sol Nasce Sempre” (um romance de 1926 centrado nas festas de Pamplona) e de “Verão Perigoso” (1960), livro que resulta de uma encomenda da revista “Life” que lhe atribuiu a missão de narrar os acontecimentos extraordinários do verão de 1959, quando dois dos mais célebres toureiros de todos os tempos – António Ordóñez e Luís Miguel Dominguín – se defrontaram nas arenas de Espanha.

Claro que Graça Fonseca, a senhora que está como ministra da Cultura, não deverá apreciar a obra de Hemingway. Mas sendo ministra, e da Cultura, não é aceitável que continue a tentar impor os seus preconceitos. A tauromaquia é uma arte, tutelada enquanto tal pelo Ministério da Cultura. O Campo Pequeno abriu para deixarmos o pimba em paz. Também é tempo de Graça Fonseca deixar a tauromaquia, e já agora o mundo rural, e já agora a cultura, em paz.

Luís Godinho

At Diário do Alentejo

Artigo de opinião: “Peixinhos ignorantes e miseráveis”

Catarina TavaresA ignorância é uma página em branco que não admite discussão e teme o debate que fragiliza a sua autoridade; a autoridade que advém de nada saber. É assim, ponto. Por isso, ao longo da História as bibliotecas, os edifícios e as estátuas foram, e são, vítimas preferenciais da ignorância totalitária. Assim foi com os autos de fé e com os índexes que colocaram fora de lei o conhecimento, e assim é, ainda hoje, com a censura que cerceia o conhecimento e a criatividade em nome de religiões ou, de ideologias.

A ignorância tem uma lógica própria, uma lógica simples e aparentemente sem falhas: todos os Homens são mortais, Sócrates é homem logo é mortal. Mas ai!… Pode ser um erro crasso agir com base em pressupostos simplistas, mas no caso de António Vieira é ingratidão.

António Vieira não foi um colonialista, foi um homem do seu tempo, um visionário, e acima de tudo, um orador extraordinário. Ao contrário de muitos outros pregadores da sua época é, ainda hoje, um gosto lê-lo. Imagino o que seria ouvi-lo perorar do cimo do púlpito em apaixonado sermão… As palavras, cada palavra, pensadas à medida, as ideias arrumadas numa hierarquia perfeita. Um mestre da língua portuguesa, mais que isso, um padre que foi perseguido na sua época por se opor à escravatura e à corrupção. Não é só o seu português que é actual são muitas das suas ideias aliás, a Santa Inquisição perseguiu-o porque estava incomodada com as críticas que ele verbalizava relativamente igreja e aos poderosos. O sermão de Santo António aos Peixes, além de um clássico da literatura é uma crítica cerrada à sociedade da época com as suas vaidades, as corrupções, e os inquestionáveis poderes que subjugavam os “peixes” mais humildes.

O que diria António Vieira dos vândalos que grafitaram a sua estátua? Imagino-o, como no Sermão de S. António aos Peixes, a dizer : “…peixinhos ignorantes e miseráveis, quão errado e enganoso é este modo de vida que escolhestes” ou, talvez a perdoar num encolher de ombros. Afinal, o que é uma estátua esborratada para quem passou pelos cárceres da Inquisição?

Caminho enganoso deveras, já que muita da energia posta a destruir estátua(s) poderia ser canalizada para lutar conta a escravatura moderna já que 30 a 40 milões de pessoas são, hoje, vítimas da escravatura. Os mercados de escravos não são “coisa do antigamente” são uma realidade arrepiante dos nossos dias. Sabia que 25% dos escravos, de hoje, são crianças? Quantos dos produtos que estão nas prateleiras das nossas lojas resultam de trabalho escravo? Agricultura, minas, pescas, indústria têxtil, construção civil sectores que usam o trabalho forçado para colocar nas nossas prateleiras produtos a preços acessíveis e nós consumidores queremos ignorar, quase sempre, a dura realidade que se esconde por detrás dos produtos ditos “baratos”.

CRÓNICAS DISTO E DAQUILO
Catarina Tavares
Dirigente Sindical

At Semmais