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Artigo de opinião: “Votar no Marcelo? Não, obrigado”

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Tendo nascido em 2002, as eleições presidenciais de janeiro de 2021 serão as primeiras eleições em que poderei votar. O sufrágio universal e a democracia são conquistas indispensáveis para a concretização de uma sociedade justa, e cabe à minha geração lutar por essa mesma sociedade e dar uso aos direitos que tanto suor custaram.

Como penso por mim mesmo e nunca segui modas e tendências momentâneas, não votarei Marcelo Rebelo Sousa. E não votarei por motivos morais, ideológicos e sociais.

Creio que sempre que falamos do nosso Presidente devemos nos recordar que figura política ele foi no passado (e continua a ser). Falamos de um político que avançou com uma plataforma, denominada de “Assim Não”, contra a despenalização da interrupção voluntária da gravidez (IVG). Segundo a interpretação de Marcelo Rebelo de Sousa, a mulher podia fazer um aborto, mas apenas às escondidas, nas condições em que pudesse pagar e arriscando-se a ser presa ou a morrer por complicações de saúde. Na prática, podia abortar num sítio sem o mínimo de condições higiênicas, mas nunca num local seguro e com as melhores condições de segurança e de dignidade. Ainda bem que a população não deu ouvidos a Marcelo e votou a favor do sim. Os ganhos da IVG são claros: zero mulheres mortas após a legalização da IVG e uma descida significativa no número de abortos em Portugal.

Mas as opções que Marcelo toma durante a presidência também nos devem preocupar. Como atravessaria este país a atual pandemia que vivemos, caso houvesse mais Parcerias Público Privadas na saúde, como o nosso presidente defendeu? O que seria deste país, nesta e noutras crises de saúde, sem a atual Lei de Bases da Saúde, que Marcelo Rebelo de Sousa se manifestou profundamente contra? Questiono-me igualmente se Marcelo, após o desastre levado a cabo por Bolsonaro nesta pandemia, continua a ter a mesma opinião que teve o ano passado, dizendo após uma reunião com o Presidente do Brasil que se tratava de “um encontro de irmãos”.

A minha geração, felizmente, tem uma visão do mundo mais progressista e ampla que a dos nossos pais. Visão essa que aceita o direito à diversidade sexual e de identidade de género. É pena que Marcelo Rebelo de Sousa aparente não o aceitar. Tanto aparenta que até vetou uma lei que permitia o “alargamento da possibilidade de mudança de identidade de género, tornando-a independente de qualquer avaliação clínica e passa a incluir os menores acima dos 16 anos no regime que se estabelece para os cidadãos maiores”. Mas, afinal, quem melhor que nós próprios para decidir quem somos e como nos queremos apresentar ao mundo?

No fundo, Marcelo Rebelo de Sousa é uma espécie de lobo em pele de cordeiro, que abraça meio mundo e dá muitos beijinhos, mas que estruturalmente é um homem alinhado com a política de centrão (tanto que já foi líder do PSD!) e que protege sempre os interesses do status-quo. Marcelo não representa nem a mim, nem às gerações que anseiam por prosseguir o caminho para um país mais livre e mais justo. Pode e será difícil tirar este populista astuto do poder, mas todos os votos contarão, um a um.

É tempo de mudança.

Eduardo Couto

At https://correiodafeira.pt/

Artigo de opinião: “Eu vou à praia!”

Vanda GuerraDepois de estar impedida de sair do meu concelho nos fins de semana de Páscoa e 1º de Maio, e de assistir ao que todos assistimos, querem-me dizer que só posso ir à praia fazer surf? Está tudo maluco?

Quando todos ficámos em casa antes mesmo das entidades oficiais o indicarem, para depois assistirmos aos corredores da AR no 25 Abril, ao desfile de autocarros na Alameda no 1º de Maio, quando o PCP tem a sua Festa do Avante, 24 horas depois de terem sido proibidos os festivais de verão, vêm-me dizer que não vou poder ir à praia?

Pois então prendam-me porque eu vou à praia! Vou à praia com aquilo que de melhor me acompanha. Com bom senso. Vou à praia da mesma forma que vou ao supermercado — vou manter a distância de segurança. Poderei levar máscara consoante a praia para onde vá e durante o percurso até encontrar o local que me permita estar tranquila e distante dos demais. E acredito que todos os restantes façam o mesmo.

Nestes dias assisti (por televisão) à polícia a mandar sair da água banhistas porque só se pode fazer surf… Qual é o sentido disto? O surfista está mais protegido que o banhista? Não nos podemos deitar numa toalha mas podemos caminhar? Mantenho mais distância enquanto caminho do que estando parada? Ou confundo o vírus? Ah e tal, este corpo está ali parado é mesmo bom para me hospedar! Aquele que vai a andar, é melhor deixar ir… espero que este corpo em cuja ponta da língua me passeio passe mais perto pelo que está deitado… e ver se não me magoo quando saltar lá para baixo!

Nas duas vezes que resolvi dar uma volta de bicicleta, fui questionada pela polícia. Não obstante estar sozinha e ter feito questão de ir por ruas desertas, resolveram deixar clara a sua autoridade. Ameaçando que “estavam a falar comigo a bem mas que podiam passar a mandar”! Logo a mim que adoro ameaças. Abandonei a discussão quando entretanto outras pessoas se aproximavam e já éramos seis num espaço de dois m2. Resolvi que era melhor tratar de mim própria já que com as autoridades, aí sim, eu estava a ser exposta ao possível contágio. E isto foi antes do 1º Maio.

Depois destes dois episódios e de estar impedida de sair do meu concelho nos fins de semana de Páscoa e do 1º de Maio, e de assistir ao que todos assistimos, querem-me dizer que só posso ir à praia fazer surf? Está tudo maluco?

Se em vez de inventarem proibições, distribuíssem máscaras de forma gratuita, incutissem bom senso na comunidade e aprendizagem quanto ao uso correcto das protecções necessárias era o melhor que faziam.

Bom senso que deve começar nas entidades oficiais que ora dizem uma coisa, ora dizem outra. Ora não se deve usar, ora se é multado por não usar. Na AR usam mas para falar tiram. Pousam as mãos em tudo, põem máscara, tiram máscara. Cada um de nós já mostrou ter mais bom senso que os polícias e governantes.

Eu percebo que as informações podem e devem evoluir ao ritmo a que o conhecimento também evolui mas não é com proibições impossíveis de implementar – pelo menos de forma transversal ao país e às populações — que lá vamos.

Vão fechar que praias? As urbanas, a que todos podem ter acesso? Passam a ter direito a praia apenas os que têm casas com praias (quase) privadas? Neste país, com areais a perder de vista e acessíveis a poucos? Até a praia passa a ser exclusivo de alguns?

E nas praias urbanas, em que o acesso é possível a partir de qualquer ponto – vamos pensar na costa do Estoril ou da Costa da Caparica – vão estender um cordão humano policial ao longo da costa? Ou acham que as pessoas, fartas de ser gozadas pelo PCP, com o vergonhoso compadrio do PS que tem medo de ser confrontado com dificuldades em governar, não vão saltar fitinhas? Está mais que visto que a preocupação do governo não é a saúde publica. Foram, são e serão os resultados eleitorais. E a garantia de se manter no poder por muitos e bons anos. Se fosse a saúde e os idosos, o SNS não estava no estado em que está, não havia filas de espera de anos para consultas e cirurgias, não havia alas pediátricas anos em espera para serem construídas, não havia falta de cuidados paliativos, não havia falta de lares com condições dignas para quem deles precisa, etc. etc. etc.

Não é opinião geral médica de que é mais saudável estar ao ar livre do que confinado em casa? De que problemas respiratórios se tratam na rua e não em casa? De que a prática do exercício físico é saudável? De que o uso da máscara reduz o contágio? Então distribuam máscaras e deixem-nos em paz. Há uma série de gente – de todas as idades – a precisar de tratar outras doenças tão ou mais graves e estão enfiados em casa a definhar. À espera de morrer, não da doença, mas da cura!

E os idosos … aquele grupo que tem de ser protegido. Já dei a minha opinião sobre esta protecção em artigo anterior. Decorrido mais 1 mês, não tenho qualquer dúvida ou restrição. Com alguns cuidados, os “velhos” têm todo o direito a estar com os seus. A viver os últimos anos que têm pela frente, da forma que mais prazer lhes dá. A estar com os filhos e com os netos.  A passear e desfrutar do ar livre. A ir almoçar a um restaurante com uma vista bonita que lhes recorde o bom que é viver, quando já muitos dos seus amigos partiram.

Deixem-nos em paz. Os portugueses têm-se revelado (demasiado) calmos mas temos o nosso limite. Aguentamos a carga fiscal que enviesa o mérito do nosso trabalho. Aguentamos a corrupção que enviesa a nossa economia.  Aguentamos o Ferro Rodrigues que enviesa a nossa moral. Aguentamos o Novo Banco. Aguentamos as mentiras. Aguentamos os tachos. Mas a praia… a praia é o que nos aguenta a nós e não vamos deixar que nos tirem!

Vanda Guerra

At https://observador.pt/

Artigo de opinião: “A pandemia do medo”

Margarida Abreu img_4495-2É assim que neste tempo de pseudociência global, das «fake-news» e da manipulação massiva da opinião pública pela comunicação social, se instalou a pandemia do medo, a maior pandemia de que há memória.

Estamos perante a maior pandemia existente desde os primórdios da humanidade: colocou os aviões em terra e fechou as pessoas em casa, parou o mundo!

Não, não estou a falar da pandemia de Covid-19, que, até agora, de forma confirmada, afetou pouco mais de 2,5 milhões de pessoas, dos 7 mil milhões que somos, e causou a morte de cerca de 170.000.

Estou a falar do medo, esse monstro tenebroso que foi alimentado até à exaustão pelo alarmismo e disseminação do terror, numa escala sem precedentes, pelas redes sociais e pela comunicação social, cuja estratégia não olha a meios para atingir os seus fins.

O exibicionismo, apanágio das redes sociais, a pseudociência indiscriminadamente veiculada, pelos inúmeros pseudo-especialistas de tudo, que existem nestas redes, contribuíram ativamente para a situação perniciosa em que todos nos encontramos hoje.

A mesma pseudociência que no campo da medicina, instiga as pessoas a não vacinarem as suas crianças, assistindo-se ao ressurgimento de surtos de doenças potencialmente fatais que há muito se encontravam controladas, a mesma pseudociência que aconselha a suspensão de medicamentos com eficácia testada e comprovada, para serem substituídos por sumos das mais variadas substâncias e dentes de alho. A mesma pseudociência que leva utentes a exigirem aos seus médicos exames estapafúrdios e sem nexo, medição de parâmetros em análises que nem existem ou irrelevantes e com custos elevadíssimos ( sim, para que é que servem 6 anos de curso de medicina e até mais 6 anos de especialidade se quaisquer 2 linhas que se leiam na internet nos tornam especialistas em tudo!)

Essa pseudociência, de que se vangloriam milhões de pessoas por esse mundo fora, que nunca abriram um livro ou dedicaram sequer uma hora de estudo àquilo que vêm veicular para as redes sociais, alimentou o maior monstro de que há conhecimento na história da humanidade: O MEDO.

Também a comunicação social, de forma criminosa e impune, manipulou a opinião pública, fornecendo sempre apenas uma parte da história, a que mais vendia, a que mais ganhava audiências, a mais terrível e aterradora. Metralhou a nossa casa com imagens de caixões atrás de caixões italianos, nunca explicando que tal acontecia em Itália porque todos os doentes com Covid19 eram referenciados para hospitais centrais, estando os regionais às moscas, e que não podiam ser transportados para os seus locais de origem, ficando as funerárias centrais com muito mais trabalho que o habitual, enquanto as regionais se encontravam desertas. Metralharam-nos com a gravidade da doença em 4 ou 5 países, nunca abordando as dezenas de países para quem a doença não tinha repercussões muito piores que a da gripe. Nem nunca, sequer, fizeram uma comparação séria entre os números de covid19 no nosso e noutros países e os números da gripe sazonal, quer em termos de número de indivíduos atingidos num pico de gripe, quer em número de mortos resultantes dos surtos de gripe. A mesma comunicação social que mostra as unidades de cuidados intensivos cheios de doentes no Porto, onde o surto está a ser mais grave, mas não mostra a quantidade de UCI que estão às moscas ou quase, noutras regiões do país.

Comunicação social essa, que em vez de entrevistar epidemiologistas, microbiologistas e infeciologistas, decidiu colocar nas luzes da ribalta matemáticos com modelos numéricos apocalípticos, que não têm sequer a noção de que as doenças infeciosas que se manifestam por surtos, apresentam um aumento rápido de casos, depois um planalto e por fim uma descida. Os casos não aumentam exponencialmente até ao infinito.

As frases foram sempre «já chegámos às X mortes e aos Y infetados» Nunca foram «ainda só temos estas mortes e estes infetados, quando num surto normal de gripe os números costumam ser tal e tal…».

E é assim, que neste tempo de pseudociência global, das «fake-news» e da manipulação massiva da opinião pública pela comunicação social, se instalou a pandemia do medo, a maior pandemia de que há memória.

Pandemia que atingiu 7 mil milhões de seres humanos, está a destruir, a uma velocidade alucinante, milhões de postos de trabalho, está a causar graves perturbações na saúde mental de milhões de pessoas, colocou de forma obrigatória, em habitação concomitante, agressores e vítimas, durante horas, dias, semanas, aumentando de forma dramática a violência sobre mulheres e crianças e está a alterar profundamente o normal funcionamento dos sistemas de saúde mundiais, levando a um aumento da mortalidade por muitas outras causas não Covid19.

Tudo porque alguns, ou se calhar muitos, querem ter audiências, querem ter visualizações e não olham a meios para atingirem os seus fins.

Quanto mais apocalíptica a notícia maior a audiência, quanto mais vezes repetida, maior a audiência.

Saiu-lhes o tiro pela culatra porque agora veem os seus postos de trabalho em risco, uma recessão económica provavelmente sem precedentes e da qual também vão fazer parte, o seu tempo de férias e lazer completamente ameaçado, os seus filhos em casa e uma disrupção completa da sociedade e da sua forma habitual de funcionar.

Agora pagamos todos a fatura do monstro que criámos e alimentámos, uma fatura elevadíssima, com um atingimento mais vasto do que o de uma Guerra Mundial, com a vida em suspenso, à espera…

A questão que se coloca é a seguinte: tendo as redes sociais entrado nas nossas vidas para ficar, sendo a comunicação social muitas vezes criminosa na forma como seleciona e fornece a informação, ficando muitas vezes impune e tendo como única e última intenção as audiências, quantas outras pandemias de medo se vão criar daqui para a frente, quantas mais vezes vamos assistir áquilo a que estamos a assistir agora?

Margarida Abreu

At https://observador.pt/

Conferência Digital “Crise Climática: A Outra Ameaça Global”

Dia da Terra

Assista em direto no facebook na Quarta-Feira dia 22 de Abril de 2020 pelas 21 horas, com Cesária Gomes, Filipe Duarte Santos, Francisco Veiga Simão, Luis Loures, Mariana Abrantes, Nelzair Vianna, Ricardo Campos e Ricardo Pinheiro.

At https://www.facebook.com/events/1524433474403349/

Artigo de opinião: “A justiça criminosa”

ClaraPor uma vez gostava que em Portugal alguma coisa tivesse um fim, ponto final, assunto arrumado. Não se fala mais nisso. Vivemos no país mais inconclusivo do mundo, em permanente agitação sobre tudo e sem concluir nada.

Desde os Templários e as obras de Santa Engrácia que se sabe que nada acaba em Portugal, nada é levado às últimas consequências, nada é definitivo e tudo é improvisado, temporário, desenrascado. Da morte de Francisco Sá Carneiro e do eterno mistério que a rodeia, foi crime, não foi crime, ao desaparecimento de Madeleine McCann ou ao caso Casa Pia, sabemos de antemão que nunca saberemos o fim destas histórias, nem o que verdadeiramente se passou nem quem são os criminosos ou quantos crimes houve. Tudo a que temos direito são informações caídas a conta-gotas, pedaços do enigma, peças do quebra-cabeças. E habituámo-nos a prescindir de apurar a verdade porque intimamente achamos que não saber o final da história é uma coisa normal em Portugal e que este é um país onde as coisas importantes são “abafadas”, como se vivêssemos ainda em ditadura. E os novos códigos Penal e de Processo Penal em nada vão mudar este estado de coisas. Apesar dos jornais e das televisões, dos blogues, dos computadores e da Internet, apesar de termos acesso em tempo real ao maior número de notícias de sempre, continuamos sem saber nada, e esperando nunca vir a saber com toda a naturalidade. Do caso Portucale à Operação Furacão, da compra dos submarinos às escutas ao primeiro-ministro, do caso da Universidade Independente ao caso da Universidade Moderna, do Futebol Clube do Porto ao Sport Lisboa e Benfica, da corrupção dos árbitros à corrupção dos autarcas, de Fátima Felgueiras a Isaltino Morais, da Bragaparques ao grande empresário Bibi, das queixas tardias de Catalina Pestana às de João Cravinho, há por aí alguém que acredite que algum destes secretos arquivos e seus possíveis e alegados, muito alegados crimes, acabem por ser investigados, julgados e devidamente punidos? Vale e Azevedo pagou por todos. Portugal tem um défice de responsabilidade civil, criminal e moral muito maior do que o seu défice financeiro, e nenhum português se preocupa com isso apesar de pagar os custos da morosidade, do secretismo, do encobrimento, do compadrio e da corrupção. Os portugueses, na sua infinita e pacata desordem existencial, acham tudo “normal” e encolhem os ombros. Quem se lembra dos doentes infectados por acidente e negligência com o vírus da sida? Quem se lembra do miúdo electrocutado no semáforo e do outro afogado num parque aquático? Quem se lembra das crianças assassinadas na Madeira e do mistério dos crimes imputados ao padre Frederico? Quem se lembra que um dos raros condenados em Portugal, o mesmo padre Frederico, acabou a passear no Calçadão de Copacabana? Quem se lembra do autarca alentejano queimado no seu carro e cuja cabeça foi roubada do Instituto de Medicina Legal?

Em todos estes casos, e muitos outros, menos falados e tão sombrios e enrodilhados como estes, a verdade a que tivemos direito foi nenhuma. No caso McCann, cujos desenvolvimentos vão do escabroso ao incrível, alguém acredita que se venha a descobrir o corpo da criança ou a condenar alguém? As últimas notícias dizem que Gerry McCann não seria pai biológico da criança, contribuindo para a confusão desta investigação em que a Polícia espalha rumores e indícios que não substancia. E a miúda desaparecida em Figueira? O que lhe aconteceu? E todas as crianças desaparecida antes delas, quem as procurou? E o processo do Parque, onde tantos clientes buscavam prostitutos, alguns menores, onde tanta gente “importante” estava envolvida, o que aconteceu? Arranjou-se um bode expiatório, foi o que aconteceu. E as famosas fotografias de Teresa Costa Macedo? Aquelas em que ela reconheceu imensa gente “importante”, jogadores de futebol, milionários, políticos, onde estão? Foram destruídas? Quem as destruiu e porquê? E os crimes de evasão fiscal de Artur Albarran mais os negócios escuros do grupo Carlyle do senhor Carlucci em Portugal, onde é que isso pára? O mesmo grupo Carlyle onde labora o ex-ministro Martins da Cruz, apeado por causa de um pequeno crime sem importância, o da cunha para a sua filha. E aquele médico do Hospital de Santa Maria suspeito de ter assassinado doentes por negligência? Exerce medicina? E os que sobram e todos os dias vão praticando os seus crimes de colarinho branco sabendo que a justiça portuguesa não é apenas cega, é surda, muda, coxa e marreca.

Passado o prazo da intriga e do sensacionalismo, todos estes casos são arquivados nas gavetas das nossas consciências e condenados ao esquecimento. Ninguém quer saber a verdade. Ou, pelo menos, tentar saber a verdade. Nunca saberemos a verdade sobre o caso Casa Pia, nem saberemos quem eram as redes e os “senhores importantes” que abusaram, abusavam, abusam e abusarão de crianças em Portugal, sejam rapazes ou raparigas, visto que os abusos sobre meninas ficaram sempre na sombra. Existe em Portugal uma camada subterrânea de segredos e injustiças, de protecções e lavagens, de corporações e famílias, de eminências e reputações, de dinheiros e negociações que impede a escavação da verdade. Este é o maior fracasso da democracia portuguesa e contra isto o PS e o PSD que fizeram? Assinaram um iníquo pacto de justiça.

Clara Ferreira Alves

22/10/2007

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Opinião: “Carta aberta a uma maluca.”

Ana Gomes

Cara Ana Gomes. Durante toda a sua carreira política foi acusada de mentirosa, difamadora, caluniadora e maluca por expor, sem papas na língua, vários esquemas de corrupção e os seus protagonistas. Agora, os mesmos que a acusaram de maluca quando atacou Isabel dos Santos, pelas ligações criminosas e aproveitamento de fundos públicos, estão calados e aflitos.

Foi acusada de maluca quando denunciou os milhares de milhões de euros transferidos de Portugal para paraísos fiscais sem pagamento de um único imposto. No ano passado alertou que a investigação a esse desfalque fiscal está parada há dois anos.

Enquanto eurodeputada foi acusada de maluca por denunciar as jogadas de Ricardo Salgado, ainda ele era o Dono Disto Tudo, e teve a coragem de denunciar os donos do Novo Banco às autoridades europeias, por criarem um esquema de “enriquecimento” indevido com ativos do banco para obter fundos europeus. Foi dos poucos políticos que pediu a Bruxelas que actuasse contra os ex-gestores e credores que abusaram do banco público para benefício próprio. Esteve e está na linha da frente pela proteção legal de quem denuncia grandes redes de corrupção em Portugal e na Europa.

Foi um dos rostos principais contra um esquema financeiro de lavagem de dinheiro que envolveu bilionários e grandes políticos mundialmente.

Foi das primeiras pessoas que expôs os casos de corrupção de José Sócrates e pediu a sua saída do partido socialista, enquanto todos os outros, incluindo António Costa, caluniavam o ministério público por fazer o seu trabalho: investigar. Talvez por isso tenha sido afastada no partido.

Foi acusada de maluca quando teve a coragem de gritar “vergonha” ao primeiro-ministro socialista de Malta, enquanto todos batiam, depois do assassinato de uma jornalista que investigava o seu governo.

Ainda ontem, depois da tentativa de intimidação, teve a coragem de acusar a Procurada-Geral da República, a CMVM e Banco de Portugal de conivência com os esquemas alegadamente fraudulentos da empresária angolana Isabel dos Santos.

Por isso, cara Ana, embora seja vítima de uma campanha de intimidação e difamação, é para mim alguém que alimenta o meu orgulho em ser português, independente dos partidos. Provou vezes sem conta que não está na política para apenas sorrir e falar, mas sim para agir. Continua, mesmo depois de afastada, na linha da frente no combate à corrupção.

Há por aí quem ambicione poder apenas para ser poderoso. Esses, servem-se apenas a eles próprios. A senhora serve os outros, até mesmo quando poder a faz de si um alvo a abater. Para isso, só mesmo um maluco.

Tenho dito.

Gaspar Macedo

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Opinião: “Os piores gestores”

Rui Calafate 39524_159372397419164_632670_nHoje na capa do Público: “Temos dos piores gestores da Europa”, num especial sobre Executivos. Sem dúvida. As nossas elites são medíocres e os principais presidentes de empresas portuguesas são peritos em Excel mas são completamente incultos e desconhecedores da natureza humana. Sugeria que lessem Shakespeare – Rei Lear, Otelo, Macbeth, Ricardo III, pelo menos – para tentarem perceber a segunda e depois aprenderem a frequentar exposições, a irem à Cinemateca – onde nunca vi nenhum gestor e políticos só vi dois, honra lhes seja feita – a investirem na criação de uma biblioteca própria em vez de terem carros topo de gama e uma casinha na Comporta ou na Quinta do Lago. E sugiro que não tenham como modelos duas de Suas Medíocres Excelências como Mexia ou Zeinal Bava e tentem ver lá fora quem tira horas para obter mais conhecimento como Bill Gates por exemplo. Não sejam sumidades dos números, sejam magníficos por serem homens completos.
Bom dia

Rui Calafate

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