Crónica: “Sem ovos não se fazem omeletes”

Data tradicional do Concelho de Portalegre (Feira das Cebolas), um cartel bem pensado, composto por uma mescla de veterania e juventude, um curro de toiros bem apresentados pertencentes a uma afamada ganaderia, dois grupos de forcados de créditos firmados e uma tarde quente de verão, deveriam ter sido os ingredientes necessários e suficientes para uma grande tarde de toiros, sucede que, como diz o povo e bem, os toiros são como os melões, só depois de abertos é que poderemos saber o que levam dentro, e os animais que saíram à praça, em nada contribuíram para o sucesso do espetáculo.

Com efeito, o curro de Condessa de Sobral teve nota negativa, pois embora os toiros estivessem bem apresentados na generalidade, o que é certo é que lhes faltou raça, codícia, casta e bravura, acusaram falta de mobilidade e nalguns casos escassez de forças.

Quanto a este aspeto, nada há a apontar à empresa que se esforçou por trazer a Portalegre um curo digno e com condições de proporcionar um bom espetáculo ao muito público que se deslocou à praça.

Ainda assim, assistimos a um espetáculo com pormenores interessantes e com momentos intensos, uma vez que, todos os intervenientes sem exceção, mostraram uma predisposição de entrega máxima para não defraudarem as expectativas daqueles que pagaram o seu bilhete.

João Moura a jogar praticamente em casa não quis deixar os seus créditos em mãos alheias, rubricando duas lides distintas, mas ambas com qualidade e máximo respeito pelo público, mostrando o grande profissional que é.

A primeira lide foi mais morna, tendo o cavaleiro de se esforçar bastante para deixar com acerto a ferragem da ordem, pois o toiro que lhe tocou em sorte, além de ser perdido de manso, acusou em demasia a falta de força, tapando-se um disparate e fechando-se em tábuas dificultando de sobremaneira o labor do ginete de Monforte que lhe conseguiu dar a volta, saindo por cima do oponente.

Na sua segunda lide e depois de ter visto Rui Salvador a triunfar, saiu com ganas redobradas, deixando o primeiro comprido numa emocionante sorte gaiola, num toiro manso e que revelou mais alguma mobilidade que os seus irmãos de camada.

Nos ferros curtos, imperou o temple do veterano cavaleiro, desenhando sortes ao piton contrário com reuniões bem marcadas e “ralentizadas” . Destaque para os dois últimos curtos que foram extraordinários, atacando o toiro que se encontrava fechado em tábuas para cravar de alto a baixo. Grande lide de João Moura que se encontra a atravessar um grande momento.

Rui Salvador foi também autor de duas boas e esforçadas lides, tendo tido pela frente dois toiros mansos que acabaram por valorizar todo o trabalho desenvolvido na arena pelo cavaleiro de Tomar.

No seu primeiro que havia de ser o sobrero, por se ter inutilizado o primeiro que lhe havia calhado em sorte, Rui Salvador esteve superior e em plano triunfal, preparando bem as sortes e cravando com poderio.

No seu segundo, que apresentou mais dificuldades, o toureiro não virou a cara à luta e com a dignidade que o caracteriza, deixou ferros com a marca da casa, ferros à salvador metendo bem o toiro debaixo do braço.

João Salgueiro da Costa, o mais novo da terna, não se deixou intimidar pelas boas prestações dos seus companheiros de cartel, rubricando duas lides em que o denominador comum foi a emoção.

Ante dois toiros que apresentaram bastantes dificuldades, o jovem Cavaleiro entrou nos terrenos dos oponentes para cravar feros que tiveram impacto nas bancadas e aqueceram o público que correspondeu com estridentes ovações.

No cômputo geral, dos três cavaleiros foi talvez o mais irregular consentindo alguns toques, mas também foi aquele que pisou terrenos de mais compromisso. Saiu de praça em ambas as lides sob fortes aplausos do público o que demonstra que o seu labor e entrega foram reconhecidos.

Nota geral, todos os cavaleiros tiveram por cima dos toiros que lhes tocaram, demonstrando cada um à sua maneira ter argumentos para dar a volta às dificuldades apresentadas nesta tarde, que não foram poucas.

No capítulo das pegas, pelos Amadores de Santarém, grupo com grande tradição em Portalegre, donde são oriundos vários elementos e ex elementos, pegaram e bem o primeiro de cernelha com uma entrada decidida e de valor, os portalegrenses José Miguel Carrilho e Miguel Moura Tavares. Esta sorte foi brindada a Jaime Moura Tavares, antigo cernelheiro dos amadores de Santarém e pai do atual rabejador do grupo Miguel Moura Tavares.

Manuel Ribeiro de Almeida consumou uma boa pega à segunda tentativa, depois de na primeira tentativa ter sentido algumas dificuldades no momento da reunião. Fechou praça pelos Amadores de Santarém António Queiroz e Melo, que apenas à quarta tentativa com ajudas carregadas conseguiu ficar no oponente, depois de nas três tentativas iniciais não se ter conseguido acoplar a cara do hastado fruto de reuniões deficientes.

Pelos Amadores de Portalegre que pegavam perante o seu público, foram solistas Gonçalo Costa à primeira tentativa, numa pega pouco ortodoxa, pois após uma boa reunião e uma viagem vistosa, deu a sensação de sair da cara do toiro já no seio do grupo, tendo os ajudas “auxiliado” o forcado da cara a entrar novamente na cara do oponente.

André Grilo também efetivou ao primeiro intento, com toiro a afocinhar depois da entrada do primeiro ajuda, embora tenha estado correto tecnicamente. Fechou com chave de ouro José Lobo, que à primeira tentativa consumou a pega da tarde, aguentado um forte derrote inicial tornando a pega espetacular levantando o público das bancadas, que correspondeu com uma estrondosa ovação.

Dirigiu a corrida o Exmo. Sr. Diretor Marco Gomes, que esteve mal na tardia substituição do primeiro toiro que tocou a Rui Salvador, que apresentou desde início evidentes dificuldades de locomoção logo após ter levado o primeiro “capotazo”, mas que ainda assim, o Sr. Diretor de Corrida insistiu inexplicavelmente para que levasse dois ferros, para depois o mandar recolher. Caso a empresa quisesse, não haveria obrigatoriedade de substituir o toiro, pelo que, quem sairia prejudicado desta situação seria a público que pagou o seu bilhete.

Praça de Touros José Elias Martins, 11.09.2021

Cavaleiros:

João Moura

Rui Salvador

João Salgueiro da Costa

Ganadaria: Condessa de Sobral

Grupos de Forcados Amadores de Santarém e Portalegre, capitaneados respectivamente, pelos senhores João Grave e Gonçalo Louro

Manuel Mata

At https://tauronews.com/