O mau cartão de visita do Caminho de Santiago em Nisa

Para quem siga o apelo das instituições locais e regionais para fazer o Caminho de Santiago no concelho de Nisa, e nos visite (o que todos desejam), vai-se deparar com quilómetros de cancelas/porteiras feitas de arames e pauzinhos:

Depois do excelente trabalho realizado por quem esteve no terreno, a pressa à publicidade do percurso passou por cima de condições elementares. O cuidado que poderia e deveria ser exemplo sobre o que deve ser obrigatório para os proprietários em caminhos públicos. Arames e arametes, pauzinhos e pauzetes, cordéis e baraças a ‘poluir’ a paisagem. Com a taxa local recentemente criada de “salvaguarda da paisagem”, haverá aqui uma boa fonte de rendimento:

Inconcebível aos olhos de países evoluídos nesta União Europeia. Soluções são simples:

  • Substituição, a cargo dos proprietários, destes separadores degradantes por CANADIANAS;
  • Em alternativa, as cancelas/porteiras têm que ser em MADEIRA ou FERRO, de abertura fácil (veja-se o que se fez para o Menir do Patalou e, que se saiba, as vacas e ovelhas ainda não sabem abrir portas):
    • Se os proprietários não tiverem rendimentos suficientes para as substituir, os executivos autárquicos poderão dar algum apoio;
    • Se tiverem rendimentos suficientes e não o quiserem fazer, cancelas/porteiras actuais deitadas abaixo. Se o gado existente colocar em risco a vida de qualquer cidadão, os proprietários deverão ser levados a responder judicialmente.

À memória do Senhor João Francisco, autarca nisense, que sempre se pautou pela exigência na correcção às condições dos caminhos públicos no concelho.

Artigo de opinião: “Anuncio que me despeço do Natal”

Enquanto ali se encontravam, chegou o dia de ela dar à luz. E teve o seu Filho primogénito. Envolveu-O em panos e deitou-O numa manjedoura, porque não havia lugar para eles. (Lucas 2, 7)

“Não havia lugar para eles”. Esta é a brutal expressão que dá origem àquilo a que chamamos Natal. Não são as luzes nem as ofertas, nem o gorducho Pai-natal vermelho da Coca-Cola, nem as visitas ao Menino, nem o peru ou o bacalhau, nem a árvore iluminada de incandescências e bolas brilhantes, nem o presépio cheio de leivas e pastores e ovelhas e casas mimosamente rurais, nem bolos-rei, nem as doçuras e bombons, nem árvores de natal gigantes e luminosidades a embebedar as ruas comerciais das nossas cidades. O Natal é um lugar onde não havia lugar para Jesus.

Os nossos presépios cheirosos e asséticos, com reis magos curvados e boizinhos e burrinhos amáveis, com uma Nossa-Senhora maviosa e um são José de cabeça à banda, um menino Jesus de cabelos loiros e olhos azuis, não são o Natal das Escrituras. Qual é a mãe que adoraria ver o seu filho nascer e ser acomodado numa gamela onde comem as bestas, numa cocheira a cheirar a estrume? O Natal das Escrituras não fala das lágrimas de Maria nem da angústia de José. Mas não é difícil adivinhá-las.

No Natal pensamos nos pobrezinhos, coitadinhos, e inventamos os extraordinariamente prolíficos cabazes de Natal, para narcotizar as nossas consciências sujas de desprezo pelos pobres. O que são os pobres hoje, perante um Menino que, há dois mil e vinte anos, não passou de um refugiado, enjeitado, filho de pobres de uma Nazaré esquecida, numa Belém abstrata e sem estrelas a não ser uma?

Pobres? Em que raio de pobres pensamos nós no Natal? O que é um pobre para nós, civilizados e com gravatas, missa do galo ao fim da consoada, ou sem missa do galo ou missa nenhuma, quando muitas vezes o Natal não passa de uma nédia celebração numa família que não existe nos outros dias do ano?

Nunca me esqueço daquele rapaz de onze anos que levou um valente pontapé na barriga, dado pelo pai, porque ficou a jogar aos berlindes connosco, quando lhe devia ir comprar cigarros à venda da freguesia.

Os pobres, aqueles que odiamos porque recebem subsídios e não trabalham, tirando dinheiro dos nossos bolsos, aqueles que gastam esse dinheiro na droga e no álcool, que roubam e nos atazanam a vida, têm o privilégio de nunca terem sido amados. O cérebro de um pobre desses é equivalente ao de uma pessoa em depressão: não tem passado nem futuro. Só tem um presente execrável de que se tem de livrar. Por isso compra carros e telemóveis e televisores, porque tem de esquecer que existe, que nunca foi amado. E quem nunca foi amado não tem razões para existir. Tem que empurrar a existência com a barriga para a frente, porque existir é simplesmente impossível. Porque é que os odiamos e temos a distinta desonra de nos chamar cristãos?

E lembro-me daqueles “agrobetos”, filhos de boas famílias, eventualmente cristãs, que vieram de Espanha até à Quinta da Torre Bela, chacinar 540 animais, encurralando-os e dizimando-os em pelotão de fuzilamento, provavelmente só para demonstrarem um record. Esses, que pagaram sete mil euros cada um para gozar do prazer de massacrar animais, a quem o Estado Português não fará nada porque é do terceiro mundo frente a Espanha, nasceram de rabo virado para a lua, filhos de boas famílias e de “boa educação”, tirando “selfies” diante da chacina, preparados para um doce Natal com carne de veado e canções suaves de “I Wish you a Merry Christmas”, com as cabeças e os cornos dos veados pendurados nas suas salas a cheirar a pinheiro. Serão felizes, enquanto os pobres, ausentes de amor e de sentido de vida, completamente arrasados porque ninguém nunca lhes declarou o direito à dignidade do amor, passarão um Natal a injetar cavalo nas veias.

Meus amigos. Eu renuncio a esse Natal. Eu renuncio a receber e a dar ofertas, eu renuncio às luzes e à árvore de Natal. Peço desculpa, mas não vou dar ofertas a ninguém. Não me permito a dar presentes simpáticos a quem não precisa deles, sem me lembrar do “Badofa” do bairro da Terra Chã, que nunca fez mal a ninguém senão a si próprio, que arrancou o seu corpo à heroína mas o entregou ao álcool, e não tem esperança de vida senão beber para não morrer e se benze todas as vezes que passa diante de uma igreja. E de muitos outros para quem o Natal será mais um dia para morrer devagarinho. É demais para mim, padre católico, que amo a Jesus Cristo mais que a qualquer coisa neste mundo. Eu renuncio a um menino Jesus de olhos azuis e cabelos loiros, enquanto os pobres que nós odiamos, como inconscientemente esquecemos o verdadeiro Menino Jesus, não tiverem lugar no presépio das nossas preocupações.

O meu Menino Jesus é o enjeitado, o perseguido e odiado, o abortado, o negro, o filho de uma família sem pão, o refugiado que não tem direito a viver.

Nasceu enfim o menino

Foi posto aqui à falsa fé

A mãe deixou-o sozinho

E o pai não se sabe quem é

É isto que diz “O Presépio de Lata” de Rui Veloso e Carlos Tê. Os meninos que nunca foram amados nunca terão a mínima hipótese de sobrevivência digna. E isso não tem cura. E o nosso desprezo é a sua tumba final.

É por isso que eu renuncio a este Natal.

Padre José Júlio Rocha

At https://www.igrejaacores.pt/ e http://www.diarioinsular.pt/

FELIZ NATAL PARA TODOS, PAZ E BEM!

O Natal de Jesus é sempre um motivo de alegria e de esperança fundadas na presença de Deus que se fez homem e habitou entre nós.

É o Deus connosco, o Deus próximo!…

O Natal é uma ocasião de reencontro de muitos e de maior convívio familiar para matar saudades e partilhar os valores da solidariedade, da amizade e da fraternidade a que Cristo nos veio desafiar.

Estes valores, porém, em tantas partes do mundo, ainda não existem nem existe a devida compaixão de quem os rejeita e provoca o sofrimento de tantos, com a conivência de quem o não quer ver, travar ou ajudar a resolver. Cristo que veio para o que era seu, muitos dos seus, infelizmente, ainda o não conheceram, e, muitos dos que o conheceram, ignoram-no, ou adaptam-no à sua medida, dizendo-se cristãos!
Só o verdadeiro encontro com Jesus Cristo e o seu seguimento como Caminho, Verdade e Vida, fará converter o coração humano à amizade social e à fraternidade universal.

A mensagem de Jesus continua a ser verdadeiramente revolucionária quando se escuta com os ouvidos do coração, se interioriza e assume como instrumento de transformação pessoal e de toda a comunidade humana, dando a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.
O Cristianismo não é uma ideologia ou coisa sem importância. É uma Pessoa, é Jesus Cristo, o Salvador, o Filho de Deus com a sua mensagem de amor, de verdade, de justiça e de paz, para, sem uniformizar o pensamento ou a ação das pessoas e no respeito pela sua dignidade e missão, as desafiar a serem responsáveis pela instauração de um mundo melhor, apoiado na verdade, no amor, na justiça e na paz.

A todos os diocesanos e leitores, desejo um Santo Natal e um Feliz Ano 2021 com muita alegria e paz, em Cristo Jesus, o Menino do Presépio, aquele que dá sentido à vida e às coisas da vida!
Que cada pessoa, todas as Famílias e todas as instâncias de serviço à sociedade na diversidade dos seus setores, sejam capazes de criar um espaço de beleza interior para acolher o Menino Deus que a todos segreda com amizade e esperança: “Aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração”.

Feliz Natal para todos, paz e bem!

Antonino Dias
Portalegre-Castelo Branco, Natal 2020.

Artigo de opinião: “Os porões”

Da intervenção que o Presidente da República dirigiu aos portugueses, em 20 de Novembro último, a propósito da Renovação do Estado de Emergência, retenho o seguinte parágrafo:

“E se é verdade que estamos todos no mesmo barco e todos sofremos, há uns que sofrem na 1.ª classe, outros na 2.ª, outros na 3.a, outros nos porões. Tudo a lembrar que quem mais sofre mais deverá ser apoiado.”

O Presidente da República, neste pequeno parágrafo da sua comunicação , confronta-nos a todos com a realidade conhecida e muitas vezes esquecida.

Confronta-nos a todos com a dimensão social e ética da nossa própria existência enquanto Homens.

Todos nos teremos presente os porões reais em que os nossos antepassados fugiram, com toda a sua pobreza, para as terras da América do Sul ou de África, ou os longos percursos percorridos a pé entre as fronteiras portuguesa e espanhola, ou entre esta e a terra prometida da Europa livre e próspera. Verdadeiros porões da segunda metade do século XX português, ocupados por este povo de marinheiros que, em muitos casos, viu primeiro o Arco do Triunfo ou as margens do Reno, do que viu o mar português que Camões cantou.

E se sabemos que Portugal se mantém um país desigual e com muito portugueses “nos porões” – basta sabermos que o RSI abrange hoje 100 mil famílias para o confirmarmos – não é menos verdade que o país viu, durante as ultimas décadas, muitos portugueses “saírem dos porões”.

Porque os seus rendimentos aumentaram, porque a educação pública se generalizou, porque a saúde chegou a todos, porque as barracas quase acabaram, enfim porque o Estado cumpriu, ainda que nem sempre da mesma forma e ao mesmo ritmo, a sua função redistributiva. E também porque milhares de empresas foram gerando e remunerando o trabalho de milhões de portugueses.

Acontece que se as palavras do Presidente da República pressupõem um passado que cremos de vez ultrapassado e um presente que queremos não se perpetue, olvidam o futuro com que nos iremos confrontar.

Futuro esse que se constrói a partir do presente que hoje vivenciamos.

Bem sabemos que os principais responsáveis estão concentrados no que se passa no campo de batalha. Nos hospitais superlotados, nas mortes sempre excessivas, nos doentes em sofrimento, nas empresas incapazes de satisfazer os seus compromissos ou no desemprego que carece de imediato apoio.

A interpelação que me atrevo a formular é a de começarmos a pensar no “pós-guerra”.

Se e quando lá chegarmos, teremos um quadro de referência mundial e nacional de que aqui se deixam alguns apontamentos quantitativos já hoje conhecidos e que só poderão agravar-se.

A dívida mundial estará, hoje, 360% acima do PIB total do mundo.

A dívida portuguesa total subiu para 736 mil milhões de euros. Desta, cerca de 268 mil milhões de euros é a estimativa para a dívida pública no final do corrente ano, numa evolução que a pandemia veio agravar significativamente.

Em 2020 e 2021 a OCDE estima que sejam destruídos em Portugal 224 mil empregos e que o salário médio por trabalhador não tenha variações.

Na Índia, cerca de 140 milhões de pessoas (10% da população) perderam o emprego desde o início da crise sanitária.

Em Portugal cerca de 45 mil milhões de euros de empréstimos a famílias e empresas estão neste momento “adiados” porque abrangidos pelas moratórias entretanto concedidas.

A nossa carga fiscal, 34,8% do PIB, está ao nível mais alto de sempre.

Claro que muitos outros dados macroeconómicos se poderiam acrescentar, infelizmente todos na mesma direcção.

Também sabemos hoje que a salvífica vacina só produzirá plenamente os seus efeitos após o verão do próximo ano, pelo que 2021 não será, ainda, o ano de recuperação que todos desejávamos.

Aqui chegados é altura de voltarmos ao início desta crónica para nos perguntarmos: no final da pandemia teremos, ou não, mais pessoas nos porões? No final da pandemia seremos, ou não, capazes de, por uma vez, começar a recuperação pelos porões?

E que se os porões se mantiverem cheios e sem esperança, as consequências políticas estão à vista e políticos experimentados não poderão alegar nem surpresa nem espanto.

E também é bom que percebamos que o que está em causa não se resolve com a cosmética paroquial ou corporativa de alterações orçamentais a esmo, ou com gongóricas e inúteis proclamações que procuram diferenças onde elas não existem.

O que está em causa resolve-se com Política. À escala nacional, europeia e mundial.

Com completa reestruturação das dívidas públicas, com capitalização das empresas viáveis, com o encerramento ou falência das empresas inviáveis, com uma Administração Pública capaz e que honre os seus compromissos e com uma cultura e uma remuneração do trabalho que assegure a dignidade da pessoa humana.

Se à saída desta pandemia as opções forem outras, cuido que “os porões” alimentarão o populismo, os abstencionistas e esse exército de descontentes que historicamente sabemos no que se transforma.

Por favor preocupem-se e mudem!

Luís Parreirão

At https://ofigueirense.com/

‘Consumismo sequestrou o Natal’, alerta o papa Francisco

O papa Francisco criticou neste domingo (20) o consumismo associado às comemorações do Natal, pedindo aos fiéis que relacionem a data em que é celebrado o nascimento de Jesus com a atenção e ajuda aos mais necessitados e com a oração.

“O consumismo sequestrou o Natal. O consumismo não está na manjedoura de Belém, ali está a realidade, a pobreza, o amor”, disse o Pontífice durante oração do ângelus, no Vaticano.

O argentino pediu para as pessoas não se deixarem levar pelo consumismo, mas sim se importar com o que verdadeiramente importa: Jesus. ” ‘Ah, tenho de comprar os presentes, tenho de fazer isto’, o frenesi de fazer coisas, coisas, coisas? O importante é Jesus”, disse.

Além disso, o argentino fez referência ao “momento difícil” provocado pela pandemia do novo coronavírus Sars-CoV-2.

“Neste momento difícil, em vez de reclamarmos do que a pandemia nos impede de fazer, façamos algo por quem tem menos. Não seja o enésimo presente para nós e para os nossos amigos, mas para um necessitado em quem ninguém pensa”, afirmou.

Durante a oração na praça São Pedro, Francisco aconselhou todos os presentes para que use a celebração do Natal como uma “oportunidade de renovação interior, de oração, de conversão, de passos em frente na fé, e de fraternidade”.

“Para que Jesus nasça em nós, preparemos o coração, vamos rezar, não deixemos nos levar pelo consumismo”, declarou.

O líder da Igreja Católica pediu atenção especial para todos que estão “na indigência, o irmão que sofre, onde quer que se encontre”.

Por fim, o Papa disse que a pandemia criou especiais dificuldades aos trabalhadores marítimos. “Muitos deles – estima-se que 400 mil, em todo o mundo – estão presos nos navios, para lá do termo dos seus contratos, e não podem regressar a casa”, alertou.

Jorge Bergoglio fez uma oração à Virgem Maria, para que conforte estas pessoas e todos os que vivem situações de dificuldade, pedindo aos governos que “façam o possível” para que os trabalhadores possam voltar a estar com os seus entes queridos.

Presépio – “O Papa elogiou a mostra ‘100 presépios’ que, este ano, acontece na Praça de São Pedro, enfatizando a “catequese da fé para o Povo de Deus”.

Francisco destacou como a arte procura “mostrar como nasceu Jesus”, numa “grande catequese” da fé cristã.

A exposição “100 Presépios no Vaticano” acontece ao ar livre, sob a colunata de Bernini, devido às limitações impostas pela pandemia. A mostra percorre 30 países e expõe as diversas tradições do Natal. (ANSA)

At https://noticias.uol.com.br/

Artigo de opinião: “Populismo é dizer que Portugal é socialismo”

A imbecilidade de chamar socialismo à social-democracia tem um verdadeiro objectivo: criar medos e fantasmas na cabeça das pessoas para as convencer a rejeitar a social-democracia.

Portugal é uma República, uma democracia liberal pluripartidária, com um sistema económico de mercado. É assim desde 1974. É o que se designa por social-democracia. Não há como fugir desta verdade. Todas as classificações alternativas são, pura e simplesmente, mentiras.

O nosso regime político, consagrado na Constituição de 1976 e nas suas sucessivas revisões, é claro: temos uma democracia com liberdade partidária e um sistema económico baseado na iniciativa empresarial privada (os dados mostram como Portugal é dos países da Europa onde mais se criam empresas), ou seja, vivemos em capitalismo.

Sei bem que a Constituição de 1976 fazia a referência ao “rumo ao socialismo”, mas tal nunca passou de uma proclamação.

Na prática, tivemos nos Governos o PS, o PSD e o CDS. Tivemos Presidentes da República do PS, do PSD e do PRD. Podemos notar as infiltrações no poder da Igreja Católica, da Opus-dei e da Maçonaria. Mas nunca tivemos o PCP ou o BE no poder. Mesmo a gerigonça não teve ninguém dessa área política no Governo.

Mais, desde 1986, pertencemos ao bloco europeu ocidental, o espaço mundial, por excelência, da social-democracia.

Dizer, assim, que Portugal é um regime socialista, que estamos no socialismo, como se fossemos a Venezuela, Cuba, a Coreia do Norte, ou a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, só porque somos governados por um partido que tem “socialista” no nome, é parvo, infantil, de uma menoridade intelectual indesculpável.

Na verdade, isso de chamar “socialismo” a tudo o que não seja ultraliberalismo ou anarcocapitalismo é um tique dos EUA, que sempre tentaram fugir da social-democracia, agitando o papão do socialismo e, “livrais-nos do mal!”, do comunismo.

É verdade que a social-democracia surgiu na Europa como forma de encaixar algumas reivindicações humanistas que, supostamente, os países do socialismo real diziam estar a atingir, como os direitos laborais, a baixa desigualdade, a igualdade de oportunidades e a mobilidade social, o acesso livre ao ensino e à saúde, a protecção na doença e na velhice, ou o direito ao lazer.

De facto, foi nos países europeus mais verdadeiramente social-democratas (os cinco nórdicos, a Suíça, o Luxemburgo, a Holanda, a Bélgica e a Áustria, que completam o top 10 dos países onde a mobilidade social é mais elevada, onde o “sonho americano” é possível, e não apenas um sonho, como nos EUA) que se conseguiu cumprir mais os objectivos enunciados.

Na prática, a social-democracia foi a forma encontrada de humanizar o capitalismo e é, ainda hoje, o melhor equilíbrio que temos.

A imbecilidade de chamar socialismo à social-democracia (para logo meter o palavrão “comunismo”) tem um verdadeiro objectivo: criar medos e fantasmas na cabeça das pessoas, para as convencer a rejeitar a social-democracia e a aceitar formas mais extremas, logo menos respeitadoras dos direitos humanos e do ambiente, de capitalismo. E eis o populismo em todo o seu esplendor: dizer uma mentira sonante para enganar as pessoas.

Esta técnica importada tem tido, entre outros, alguns protagonistas: Nuno Melo, João Miguel Tavares e o discurso oficial da Iniciativa Liberal. Depois, circula entre a direita, nomeadamente em partilhas alarmistas por WhatsApp.

É péssimo para a honestidade intelectual e política trocar os nomes aos “bois”. Se é certo que alguns dos nossos partidos têm nomes desadequados para a política que defendem (o PS não é socialista, ou não se lembram que Mário Soares enfiou o socialismo na gaveta logo nos anos 70?) e o PSD é mais popular-democrata que social-democrata (a este respeito, os grupos parlamentares do Parlamento Europeu estão com nomes mais actualizados), temos que ter a maturidade suficiente para ver além dos nomes.

O socialismo real manifestou-se através de regimes de partido único e de planificação central da economia. E ambas as tecnologias falharam: não há democracia com um só partido, nem uma economia se sustenta com planificação central. Nada disso temos em Portugal.

Quem se quer portar condignamente no debate político-ideológico não pode acusar de socialista/comunista quem defende a social-democracia, vigente em Portugal como na Finlândia: economia de mercado, com impostos progressivos, redistribuição do rendimento e forte peso do Estado na saúde, segurança-social e educação.

Os defensores de um modelo mais liberalão, com Estado mínimo e só regulador, com impostos baixos e fixos, em que os humores do mercado ditam as sortes da gente acima de uma “safety net” mínima de sobrevivência, que tenham a coragem de dizer ao que vêm: menos interajuda, mais competição, mais para quem ganha, menos para quem perde, seja a desigualdade qual for. E apontem os EUA como o caminho do paraíso.

Gabriel Leite Mota

At https://jornaleconomico.sapo.pt/

Parlamento Europeu dá-te a oportunidade de ver 7 filmes gratuitamente no âmbito do Prémio Lux de Cinema

O Parlamento Europeu em Portugal, juntamente com a Filmin Portugal, plataforma de streaming dedicada ao cinema europeu e de autor, apresentam “Lux Film Days Online”, uma mostra de filmes europeus no âmbito do Prémio Lux de Cinema, disponíveis gratuitamente de 18 a 24 de Dezembro em www.filmin.pt.

O Parlamento Europeu criou o Prémio Lux de Cinema para melhorar a distribuição dos filmes europeus em toda a Europa e estimular o debate à escala europeia sobre as principais questões sociais da atualidade.

Esta iniciativa tem por objetivo celebrar a União Europeia como espaço comum de liberdade criativa, a Europa que apoia a sétima arte e encoraja os seus criadores, nomeadamente no âmbito do Programa Europa Criativa.

A programação conta com dois filmes que competem pelo Prémio Lux de Cinema 2020: Corpus Christi, A Redenção, de Jan Komasa, nomeado para o Óscar de Melhor Filme Internacional (em representação da Polónia), uma poderosa reflexão sobre fé, religião, o indivíduo e a sociedade;

Martin Eden, de Pietro Marcello, vencedor do Prémio Melhor Actor no Festival de Veneza, uma adaptação lírica do romance homónimo de Jack London, que dialoga com os dias de hoje. 

A seleção de filmes inclui ainda vários vencedores e finalistas do Prémio LUXnomeadamente os vencedores A Mulher em Guerra, de Benedikt Erlingsson (LUX Prize 2018), Sami Blood, de Amanda Kernell (LUX Prize 2017) e Welcome, dePhilippe Lioret (LUX Prize 2009), e os candidatos A Minha Vida de Courgette, de Claude Barras (finalista do LUX Prize 2016), e Inimigo da Turma, de Roc Bicek (finalista do LUX Prize 2014).

Programação Lux Film Days Online: 

– Corpus Christi, A Redenção, de Jan Komasa (Films4You)
– Martin Eden, de Pietro Marcello (Leopardo Filmes)
– A Mulher em Guerra, de Benedikt Erlingsson (Films4You)
– Sami Blood, de Amanda Kernell 
– Welcome, de Philippe Lioret 
– A Minha Vida de Courgette, de Claude Barras (Outsider Films) 
– Inimigo da Turma, de Roc Bicek (Legendmain Filmes) 

A visualização destes conteúdos é oferecida pelo Parlamento Europeu, tornando este ciclo totalmente gratuito para todos — subscritores e não subscritores da plataforma Filmin. 

At https://www.comunidadeculturaearte.com/

“Vitalina Varela” é o novo candidato português aos Óscares. Substitui “Listen”, que não cumpria as regras

O filme “Vitalina Varela”, de Pedro Costa, será o candidato português à categoria de Melhor Filme Internacional, nos Prémios da Academia Americana de Cinema. A exclusão de “Listen”, de Ana Rocha de Sousa, que não cumpria as regras de elegibilidade (no que à língua falada dizia respeito), levou os membros da Academia Portuguesa de Cinema a fazerem uma segunda votação. A decisão foi tomada para “garantir nova oportunidade de voto a todos os que haviam selecionado o filme na primeira votação”, lê-se em comunicado enviado pela organização.

A longa-metragem conta a história de uma mulher que viveu grande parte da vida à espera de ir ter com o marido, emigrado em Portugal. Sabendo que ele morreu, Vitalina Varela chegou ao país três dias depois do funeral.

Estreado no Festival de Locarno, na Suíça, em 2019, “Vitalina Varela” recebeu o prémio máximo, o Leopardo de Ouro, assim como a protagonista, Vitalina Varela, duplamente premiada como melhor atriz. O Festival de Cinema de São Francisco, nos Estados Unidos, em Abril, deu ao realizador o prémio Persistence of Vision.

A 93.ª edição dos Óscares acontece no dia 25 de abril de 2021, no Teatro Dolby, em Los Angeles. A Academia Americana de Cinema irá distribuir prémios em 23 categorias.

At https://expresso.pt/ – já a 21/12/2020

Artigo de opinião: “A Maçonaria e os desafios de 2021”

Chegamos à reta final deste terrível 2020 com uma nota de esperança, à medida que o processo de vacinação contra a Covid-19 vai sendo conhecido. Sabemos agora, que ao longo do próximo ano e começando pelos grupos de cidadãos em maior risco, poderemos então, em diferentes fases, inocular-nos para proteção contra um vírus que, desde há cerca de 12 meses, paralisa sectores económicos inteiros, encerra empresas lançando milhões no desemprego e retira a vida aos que nos são próximos, com a contagem das vítimas da Covid em todo o planeta a ultrapassar já o milhão e meio de seres humanos.

Perante isto, a revista Time fez mesmo, recentemente, uma das suas capas com a declaração de que 2020 terá sido “o pior ano de sempre”. Não o encaramos assim com base na nossa coletiva consciência histórica, assente na memória de períodos igualmente difíceis ou ainda piores. Bastaria lembrar o ano de 1918, último de uma guerra mundial e assolado por outra pandemia, a da designada “gripe espanhola”, que só terminaria em 1920 depois de provocar a morte de um número nunca efetivamente apurado de pessoas, mas que hoje se considera não ter sido inferior a 50 milhões. Muitos maçons também à época se empenharam no apoio aos doentes e aos seus familiares das mais variadas formas, como se encontra documentado nos arquivos históricos de diversos países.

No entanto, e para além das comparações, não haverá ninguém que não suspire de alívio ao ver este ano por trás das costas, ao mesmo tempo que – citando Jorge de Sena – vemos, finalmente, “uma pequena luz bruxuleante, brilhando incerta, mas brilhando, aqui no meio de nós”.

Desde março deste ano, a Maçonaria Regular esteve em recolhimento, mas não em isolamento. Substituímos as sessões presenciais pelas virtuais, os abraços pelos emojis, os rituais pelas conferências e debates online. Reforçámos as nossas ações de apoio às instituições da sociedade civil, procurando ir, de acordo com as nossas capacidades, ao encontro de quem mais precisa. Oferecemos máscaras para proteção às IPSS dos países lusófonos, motas totalmente equipadas ao INEM e viseiras aos bombeiros portugueses, entre muitas outras ações que por todo o país foram levadas a cabo a nível local e regional pelas diferentes Lojas maçónicas.

Numa carta enviada a todos os maçons regulares por ocasião do equinócio do Outono, data importante para a Maçonaria, tive ocasião, na qualidade de Grão-Mestre, de alertar para a urgência de intervirmos, onde for e como for, visando a recuperação da normalidade da vida em sociedade. Temo-lo feito e reforçaremos ainda mais essa intervenção ao longo do desafiante ano de 2021, à medida em que, sempre de acordo com as normas do Governo e a proteção de cada um de nós e dos outros, formos regressando a uma prática maçónica assente, como é desejável e mesmo indispensável, na proximidade física como na espiritual. Para os maçons, os rituais, sendo actos simbólicos, representam os valores que produzem uma comunidade coesa, que é capaz de harmonia e de um ritmo comum, sem os quais cada um de nós se encontra isolado na sua humanidade.

As repercussões do ano que termina far-se-ão sentir fortemente naquele que agora se inicia. Os cenários macroeconómicos são preocupantes e os Portugueses deverão preparar-se para atravessar um período social e economicamente desafiante, antes de chegar então, finalmente, a tão desejada recuperação. Será um ano cujo desafio primordial passará por demonstrarmos, com ainda mais vigor, a nossa solidariedade perante os outros, não apenas através do apoio social, económico ou material a quem mais necessita, mas também do suporte espiritual e moral, da presença, das palavras de incentivo e de coragem.

Também na mesma carta, por ocasião do equinócio, chamei a atenção para o grande desafio dos próximos anos e que será o de nos unirmos contra o que desregula a natureza e prejudica a sobrevivência humana e todo o ecossistema planetário, com a sua incontável biodiversidade. Mais do que não devermos, não podemos deixar que as justificadas preocupações com as nossas condições a curto e médio prazo nos façam ignorar uma calamidade com data marcada no calendário se, em cada atitude e em cada gesto, individual e coletivamente, nas famílias como nas empresas, não contribuirmos para a sustentabilidade do planeta e para minorar os efeitos negativos ao nível ambiental.

Apesar do confinamento em massa, registado a nível mundial por causa da pandemia da doença Covid-19 ter desencadeado uma quebra nas emissões (até 8% a nível mundial, de acordo com algumas estimativas), os cientistas já salientaram que o desenvolvimento global não irá abrandar sem mudanças sistémicas, particularmente nas áreas da energia e da alimentação. De acordo com os especialistas da área do ambiente da ONU, a emissão de gases com efeito estufa teria de diminuir 7,6% por ano durante a próxima década.

Como salientou o secretário-geral da ONU, António Guterres, a ameaça climática é “muito mais grave do que a pandemia em si”. “É uma ameaça existencial para o planeta e para as nossas próprias vidas”, referiu. “Ou estamos unidos ou estamos perdidos”, avisou o secretário-geral da ONU, apelando, em particular, à adoção de “verdadeiras medidas de transformação nos domínios da energia, transportes, agricultura, indústria, no nosso modo de vida, sem as quais estamos perdidos”.

Outros líderes mundiais, como a presidente da Comissão Europeia, Ursula Gertrud von der Leyen, vieram já reforçar a necessidade de acelerar o passo, passando por um aumento da meta de redução de emissões, até 2030, de 40% para 55%. Para isso, Bruxelas pretende financiar 30% do próxima Geração UE (750 mil milhões de euros) através da emissão de chamadas obrigações verdes.

Por causa da pandemia do novo coronavírus, várias reuniões internacionais sobre questões ambientais agendadas para este ano tiveram de ser adiadas, suscitando receios de novos atrasos na luta contra as alterações climáticas. A boa notícia é que os EUA, após a eleição de Joe Biden, deverão regressar ao Acordo de Paris, cujo objetivo é o de limitar o aumento da temperatura média mundial “bem abaixo” dos 2º C em relação aos níveis pré-industriais e em envidar esforços para limitar o aumento a 1,5º C. O alcance de tal meta está assente na aplicação de medidas que limitem ou reduzam a emissão global de gases com efeito estufa.

Estas questões não podem ser-nos alheias, nem devemos vê-las com distanciamento. Devem, pelo contrário, ser motivo das nossas preocupações e ações diárias, para que as gerações futuras tenham a oportunidade de existir com uma qualidade de vida equivalente àquela que nós próprios herdámos.

Com essa convicção, os mais de 3500 maçons que integram a Maçonaria Regular iniciarão o ano de 2021 motivados e energizados, para um trabalho quotidiano de melhoria de si mesmos, dos outros, da sociedade e do mundo a que todos pertencemos. Só assim, solidário e envolvente, faz sentido o trabalho maçónico. Um ano virá, que poderá ser visto como “o melhor de sempre” se assim o quisermos.

Armindo Azevedo

Grão Mestre da Grande Loja Legal de Portugal – Grande Loja Regular de Portugal

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