Artigo de opinião: “No todo vale”

No son líderes caricatura, no son villanos de cómic, son representantes de la ciudadanía

Llegó una pandemia sin precedentes y como era evidente, estos populistas, volvieron a utilizar la negación, intentaron crear un propio relato, pero esta vez las consecuencias eran demasiado serias, eran directamente mortales. ¡Ay ese «la muerte es el destino de todo el mundo» de Bolsonaro! ¡cuándo sufrimiento tendrá como consecuencia!

Se atrevieron con las medidas de prevención e higiene ¡cómo si no salvasen vidas! Salvini se jacta de no llevar mascarilla y afirma que «el saludo con el codo es el fin de la especie humana», seguro que se siente incluso satisfecho.

¿Cómo puede el juego del poder sobreponerse a algo que cuesta vidas? ¿Son conscientes de que quienes les votan están corriendo un riesgo tan grave? ¿No resulta más que evidente? ¿No hay límites?

Trump ha combinado todas las afirmaciones de sus colegas e incluso aderezándolas con el desinfectante bebible, pero no ha sido suficiente, supongo que como fanfarrones adolescentes a jugar ¿a que no …? va más allá y se atreve a poner en cuestión las próximas elecciones, incluso de poderse celebrar, ya adelanta fraude en el resultado (democrático). ¿Serán los sondeos los que le han hecho tomar consciencia sobre la pandemia y su contagio? ¿es el propio interés el que le lleva a jugar ahora con la democracia? ¿o es que nunca creyeron en ella más que en su utilización para su ascenso?

No son países lejanos, no son líderes caricatura, no son villanos de cómic, son representantes de la ciudadanía con la responsabilidad que eso otorga, no son ignorantes quienes les votan, una sola mirada de superioridad moral hacia ellos les convierte en invencibles, el aquí no pasa eso, el aquí … juegan, manipulan y conocen muy bien qué políticas aplican y para quién. Los derechos y las libertades se construyen y mantienen cada día, en cada gesto, en cada discurso.

Esta semana se anunciaba una moción de censura como si todo fuera un juego de niñas y niños irresponsables para ver quién manda en el patio, eso sí, después del recreo, siempre en esa etapa infantil resulta sagrado. Las mentiras, las deslealtades al país, y aún más los actos irresponsables, con el dolor, la incertidumbre, las ganas de luchar para seguir viviendo que clama la ciudadanía todo ello resulta sinceramente impúdico.

Aquí están, sabemos qué representan, mantengámonos firmes en la defensa de la democracia, de la vida, de la libertad, quien afirma que todo es lo mismo permite y abre la puerta al todo vale, cueste lo que cueste. Un precio muy caro.

Lara Garlito

At https://www.elperiodicoextremadura.com/

 

Artigo de opinião: “Negar o racismo é racismo”

luisa-semedo-imigranteEnquanto se continua a pôr em causa se há racismo, se há racismo estrutural ou se a sociedade portuguesa é racista anula-se o espaço para a responsabilização, para a reflexão e discussão sobre a mudança, e silenciam-se as vozes das pessoas vítimas de racismo, as suas vivências e as suas propostas para o progresso da Igualdade entre todas e todos os cidadãos em democracia. Negar o racismo é distração e sabotagem.

Após a execução racista de Bruno Candé Marques começou desde logo a cantiga usual: “agora tudo é racismo”, “isto não é racismo”, “o idoso só estava mal disposto”, “acordou do lado errado da cama” ou “talvez se tenha enganado porque vê mal” (verdadeiro comentário). Excluindo o negacionismo deliberado e oportunista, utilizado como arma política e chamariz mediático de profissionais do racismo como André Ventura, este nível delirante de negação é perturbador e é também um sintoma do racismo estrutural que gangrena a sociedade de forma mais ou menos velada para os que dele beneficiam.

O medo que o grupo racial, com o qual os negacionistas se identificam, possa ser associado a um crime racista é de tal ordem que todas as recriações e revisionismos contorcionistas do que se passou naquela Avenida de Moscavide são possíveis, pouco importam os inúmeros testemunhos públicos e as declarações da família da vítima. Como explica Herbert Blumer em Race Prejudice as a Sense of Group Position (1958), quando falamos de racismo estamos a falar de uma relação entre supostos grupos raciais e não de uma relação interpessoal entre os membros desses grupos, ou seja, o pânico moral que sentem os negacionistas em relação à sua reputação não acontece porque se identificam com o indivíduo que matou Bruno Candé Marques, mas com o grupo racial ao qual ele é suposto pertencer.

Assistimos, desde logo, a um movimento de solidariedade de grupo cujo objetivo é o de salvar a sua reputação, porque se Portugal não é racista, se não somos racistas, um dos nossos também não pode ser. Se considerassem Bruno Candé Marques como fazendo parte do seu grupo as reações seriam distintas, e não teríamos outro clássico racista que é a desculpabilização do ato criminoso através da inculpação da vítima, que afinal “não era nenhum santo” – como se houvesse uma licença para matar, uma exceção à lei da pena de morte quando essa morte é a de um corpo negro. Negar o racismo é racismo.

Esta estratégia de defesa da sua reputação tem custos elevados para as pessoas racializadas e para a sociedade no seu todo. Negar o racismo é ser cúmplice, através da utilização de um dos eficazes instrumentos, da preservação de um sistema supremacista que beneficia há séculos uns em detrimento de outros. Negar o racismo protege os opressores, vulnerabiliza as vítimas, deslegitima o combate antirracista e “enfraquece a resistência”, como defende Teun A. van Dijk em Denying Racism: Elite Discourse and Racism (1992). Enquanto se continua a pôr em causa se há racismo, se há racismo estrutural ou se a sociedade portuguesa é racista anula-se o espaço para a responsabilização, para a reflexão e discussão sobre a mudança, e silenciam-se as vozes das pessoas vítimas de racismo, as suas vivências e as suas propostas para o progresso da Igualdade entre todas e todos os cidadãos em democracia. Negar o racismo é distração e sabotagem.

Quando se nega a existência do racismo estrutural, está-se a apagar a História de Portugal e o seu passado esclavagista e colonialista, está-se a apagar a História das pessoas racializadas, está-se a negar-lhes um qualquer tipo de ancestralidade, de herança histórica, de transmissão, sem terem direito a “avós”, como se fossem seres fora do espaço e do tempo. Negar o racismo é alienação.

Quando se nega o racismo estrutural está-se a apontar o dedo de forma racista à responsabilidade coletiva de negros e ciganos por fazerem parte da população mais pobre, com menos acesso a trabalho, educação, alojamento e saúde, mais discriminada pelas instituições e violentada pela polícia. Como se fossem, de novo, seres fora do espaço e do tempo, fora dos condicionamentos da sociedade onde vivem. Negar o racismo é omissão de auxílio.

A perversão da chamada cegueira cromática, outra manifestação da negação do racismo, que se verbaliza através dos típicos “eu não vejo raças”, “eu não vejo cores” e, portanto, sou um bom cidadão, é que ao não ver a cor de Bruno Candé Marques também não se pode compreender a sua vida e a sua morte e a influência que a tal cor que não veem exerceu nesse percurso letal. Será assim tão complexo compreender que raças biológicas não existem, que fazemos todas e todos parte da raça humana – ou outras belas frases que se queiram inventar –, mas que as raças existem enquanto construção social e política hierarquizante? Não existe qualquer problema em falar de cores, tal como não há qualquer problema em dizer que um indivíduo tem os olhos castanhos e outro os olhos azuis, o problema está na construção de hierarquias entre essas cores. Se não se vê a cor, não se vê a hierarquia e não se vê o racismo, e se não se vê o racismo nada é feito para o combater. Negar o racismo é perpetuar o racismo.

A negação do racismo é um privilégio mascarado de falsa ingenuidade que resulta em violência psicológica e política, pois corresponde a dizer na cara das pessoas racializadas que a sua vivência em sociedade é uma quimera, que aquilo que sentem é falso. Não se pode confundir o seu universo com o universal. A negação do racismo é tão ridícula como seria ridículo se uma pessoa cega nos dissesse que um objeto que conhecemos de forma distinta não existe porque nunca o viu. Negar o racismo é uma negação de existência.

Negar o racismo é racismo.

Luísa Semedo

At https://www.publico.pt/

Artigo de opinião: “Os amigos que eu amo”

claudia-lucas-ilheu_5A amizade é aquela cena íntegra, sem juízo de valores, e com humor, respeito e admiração e pela diferença.

Durante muito tempo, e desde a adolescência, assumi a minha condição de amiga desnaturada. Tenho melhorado ao longo do tempo, fiquei mais dedicada e presente. Mas na adolescência, enquanto os meus amigos andavam em pares ou em grupos (de que eu também fazia parte, claro), eu não andava sempre acompanhada. Sempre fui muito independente. Tanto alinhava em programas com os amigos, como me baldava às aulas para ir ao cinema sozinha.

Gostava genuinamente de andar sozinha, e ainda gosto. Vou para todo o lado só com a minha chatíssima presença. A companhia é invisível para mim, e eu gosto disso — jantar fora, ir ao teatro, ir à praia, até já fui de férias sozinha. Contudo, nos últimos anos, comecei a olhar para os amigos de forma diferente, a sentir e a perceber algo que já tinha ouvido muitas vezes, mas a que não tinha dado importância: talvez a amizade seja a relação mais duradoura e importante que uma pessoa pode ter na vida. Mais valiosa do que o amor. Porque a amizade também contém amor, mas sem as recorrentes chatices do amor amoroso.

A amizade é aquela cena íntegra, sem juízo de valores, e com humor, respeito e admiração e pela diferença. Mesmo que às vezes nos zanguemos com um amigo, aquilo passa logo, logo, tem a duração de um amuo no recreio da infância. Nem sempre, mas quase sempre. Também há chatices a sério e definitivas, embora raras.

Adoro os meus amigos. Sinceramente. São poucos, mas acompanhamo-nos há várias décadas. Nos últimos tempos, fiz mais um ou dois e fiquei mesmo feliz. Com eles, os mais antigos e os mais recentes, vivo e aprendo tantas coisas importantes — quanto valem um abraço, um telefonema no momento certo, uma palavra de conforto, um silêncio punidor quando se esteve menos bem, uma proibição fingida de algo que sabem que nos vai fazer mal. Gosto tanto deles, de cada um de forma diferente, e tenho sempre a sensação de que não lhes dou a atenção devida.

E também já perdi amigos. Custa muito, sobretudo se estes não morreram de verdade. Talvez custe mais do que perder um amor. Perder um amigo é, de certa forma, perder a imaculabilidade do bibe. Perder ou ter de deixar um amigo que considerámos incondicional é um desgosto inultrapassável. Aconteceu-me recentemente ter de deixar amigos para trás; afinal, a nossa amizade não era para a vida, ou a vida muda e eu, aos quarenta e dois, ainda não sabia. Mesmo que a decisão de deixar um amigo seja nossa, é necessário fazer um luto, por respeito a tudo o que vivemos. Mesmo que o motivo pelo qual nos desentendemos tenha sido o amigo não nos ter tratado com o respeito devido. Não lhe desejamos mal, apenas seguimos caminhos diferentes.

Por isso, há que cuidar dos amigos que temos, mantê-los como roupa lavada sobre o corpo e sermos também uma peça quente para os agasalhar quando é preciso. A palavra é cuidar. Cuidar dos amigos se, de facto, os amamos. Eu amo os meus.

Cláudia Lucas Chéu

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A 27 de Julho, partiu um ditador: faz 50 anos

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…O Salazar era um saloio, um merceeiro, só sabia fazer contas de “deve e haver “… Tínhamos os cofres cheios de ouro mas 68% do povo não sabia ler nem escrever, não tínhamos uma única auto-estrada, mais de 58% da população viviam em barracas ou casas abarracadas, o povo morria de fome e de frio, morriam enterrados na lama dentro das barracas onde se protegiam da chuva, a maioria das crianças andavam descalços por não ter dinheiro para comprar sapatos, aos 5, 6 anos começavam a cavar batatas sem nunca terem frequentado uma escola, e chamam a este imbecil um grande economista. Um verme como o Salazar que tinha os cofres cheios de ouro mas deixou o país em ruínas, não passa de uma besta sem a mínima noção do que é governar o país. Era a mesma coisa de eu andar de helicóptero, ter os melhores carros e viver à grande e os meus filhos andarem descalços, rotos, cheios de fome, doentes, tuberculosos, morrerem por falta de assistência médica enquanto eu andava a exibir os meus anéis. O Salazar não passava de um saloio sem qualquer género de preparação para governar um país. Aliás, Era um indivíduo sem hábitos de trabalho porque nunca soube o que era trabalhar, nunca entrou numa fábrica ou em qualquer género de empresas. Organizou uma “família” mafiosa de criminosos que capturaram o país e ele também acabou por ser capturado por esses criminosos que mandavam para o Tarrafal os seus opositores onde os assassinavam. O Salazar fica na história como um dos ditadores mais sanguinário, a seguir ao Hitler. É esta merda que vocês defendem???”

Tó Marceneiro

At Facebook

Na mesma data, em 1976, “o general Ramalho Eanes foi eleito presidente da república nas primeiras eleições após a Revolução do 25 de Abril e da promulgação da nova constituição.”

Artigo de opinião: “Mais do mesmo”

José RibeiroAo fim de 11 jogos, com os mesmos adversários, eis o resultado: Silas, 21 pontos; Rúben Amorim, 21 pontos. Silas saiu em 4º, Rúben terminou em 4º. O futebol não é “fácil, fácil”

De punho cerrado, a festejar sozinho na tribuna do estádio em Braga. A imagem de felicidade, seguida de discurso de ‘vingança’, no qual lembrou que o Sporting ainda lhe deve os muitos milhões pela contratação de Rúben Amorim. António Salvador, nas imagens e nas palavras, humilhou o Sporting em toda a linha: a desportiva, primeiro; a financeira, de seguida, e por fim a moral. Sim, o Sporting ‘roubou-lhe’ um treinador que ainda nem sequer pagou (já lá vão quatro meses), pensando que também lhe ‘roubava’ o 3º lugar e a entrada direta na Liga Europa. Afinal, conseguiu… zero, mas de uma forma ou de outra já garantiu aos bracarenses qualquer coisa como metade do orçamento daquela SAD na época 20/21. É obra!

Podem dizer-me que se Salvador humilhou alguém foi Frederico Varandas. Não. Quem sai humilhado é o Sporting, porque é a equipa de futebol verde e branca que termina em 4º lugar; é a SAD leonina quem tem de pagar a conta Rúben Amorim. Sim, é o Sporting quem fica humilhado, e por consequência, como Sócio, partilho desse sentimento. Salvador sonhava há cinco anos com uma noite assim. Finalmente aconteceu. Coincidência? Nada disso.

Leão

1 – OS DIRIGENTES. Se aqueles que administram a SAD tivessem um pingo de vergonha na cara, já a tinham mostrado para pedir desculpas aos Sócios pela pior época de futebol profissional da nossa história centenária. Até agora… só ouvimos o chilrear de passarinhos. De facto, imagino as desculpas de Varandas depois da bazófia exibida na pré-época, quando garantiu que o Sporting terminaria o campeonato 19/20 “acima do 3º lugar”. De facto, imagino as desculpas de Salgado Zenha depois da bazófia exibida já com a época a decorrer, quando vaticinou grandes resultados para 19/20 porque “os nossos adversários perderam alguns dos seus melhores jogadores e o Sporting reforçou-se”. E nem vou perder muito tempo com a bazófia de Miguel Cal quando, já depois da demissão, veio falar nas redes sociais num Sporting em modo “foguete”, que estava imparável. Enfim, são apenas garotos deslumbrados, a quem foi dado um brinquedo que não sabem como funciona. O futebol “fácil, fácil”, nas palavras de Frederico Varandas, não existe. No futebol pouco interessa o que se faz nas primeiras 10 jornadas, ou nas 10 jornadas do meio. Interessa é como acaba. E para o Sporting acabou de tal forma mal que me recuso aqui a fazer a lista de recordes negativos que conseguimos, repito, na pior temporada da nossa história.

2 – OS TREINADORES. Silas teve como primeiro adversário o D. Aves; Rúben Amorim começou a aventura Sporting precisamente frente ao mesmo opositor. Silas entrou para um Sporting 5º classificado e deixou-o na 4ª posição. Rúben começou e terminou no 4º lugar. Silas nos primeiros 11 jogos à frente da equipa somou 21 pontos na Liga. Rúben fez de leão ao peito os mesmíssimos 11 jogos, e contra os mesmos adversários. Somou… 21 pontos. Goste-se mais de um ou outro, a verdade é que em matéria de resultados, e no futebol é isso que conta, fizeram igual. Silas ganhou 7 jogos e perdeu 4; Rúben ganhou 6 jogos, empatou 3 e perdeu 2. Não considero como bons os resultados de Silas, bem pelo contrário, mas os de Rúben também não o foram. Era evidente que com Silas o Sporting não ia lá. Mas é evidente que com Rúben chegamos ao destino que desejamos? Para mim, está longe de o ser.

3 – AS CONSEQUÊNCIAS. Ficar fora do pódio da Liga não veio mesmo nada a calhar para quem queria vender o ‘projeto formação’ como uma grande vitória. Sejamos claros: os miúdos foram lançados porque, a dado momento, ficou claro que têm mais qualidade do que as nulidades contratadas em ano e meio e que custaram 43 milhões de euros! Mas lançar estes miúdos no meio de tanta mediocridade é estar a ‘matá-los’. Apesar de tudo, numa época desastrosa, o Sporting recebeu uma excelente notícia: Max é guarda-redes top e só tem de continuar a ser o dono da baliza. Mas, então, para quê contratar Adán e gastar com ele 2 milhões por ano em salário bruto? Para Max aprender com ele? Com um guarda-redes que não jogou nos últimos dois anos? Não brinquem com o dinheiro do Sporting! Aquilo que Max já é como guarda-redes, Adán nem perto disso andou em momento algum da carreira dele. Teve o seu pequeno momento de glória quando José Mourinho quis afrontar Casillas no Real Madrid. Nada mais.

O problema aparentemente inultrapassável neste Sporting é este: os erros sucedem-se, cada vez de forma mais gritante, e não há consequências para ninguém. Os medíocres vão-se defendendo uns aos outros e por lá continuam.

P.S. Maria Serrano, elemento do Conselho Diretivo com a pasta dos Núcleos, deu uma entrevista ao Jornal Sporting, publicada na última edição. Foi-lhe perguntado várias vezes e de diversas formas, como poderia o Sporting ajudar os Núcleos a manterem as portas abertas ou a crescer. A resposta concreta nunca surgiu. Apenas aquele tipo de palavreado que as Miss Universo utilizam no concurso, ao pedir paz no Mundo e alimentos para todos. Maria Serrano adaptou o discurso ao tema e teceu loas aos Núcleos, mas dizer o que fazer, como fazer, está quieto. Um vazio absoluto de ideias. Imagino, portanto, o tempo que a senhora gasta a pensar em soluções, ou a capacidade que tem para as encontrar… Ah, mas conseguiu colocar a cereja no topo do bolo ao explicar que i-voting também serve para ajudar os Núcleos. Percebeu-se que o périplo desta senhora pelos Núcleos (por alguns…) serviu apenas para os enganar com a história do i-voting. É que se algo pode ajudar a desenvolver os Núcleos é precisamente o voto electrónico presencial (como já se faz no nosso Estádio) no maior número possível de locais. Porque isso, sim, iria dar maior visibilidade e maior movimento aos Núcleos. Estreitaria a relação do Sócio com o Núcleo. O i-voting, que permite a cada um votar a partir do seu próprio telemóvel, ajuda os Núcleos em quê? Se esta gente tivesse tanta capacidade para gerir o futebol como tem para mentir aos Sócios, hoje estaríamos a festejar o bicampeonato!

José Ribeiro

At https://leonino.pt/

Editorial “Linhas de Elvas”: “Sociedade de Animais”

FB_IMG_1595498220588Leu bem o título, sociedade de animais e não sociedade animalista.

Uma nação onde, a diário, os telejornais dão primazia e destaque a notícias sobre salvamento de duas tartarugas, ao resgate de uma gato pela PSP, se arrecadam milhares de euros e toneladas de rações para alimentar animais e se ignora olimpicamente o crescente número de pedintes humanos a viver nas ruas das grandes cidades, é uma sociedade de animais e não animalista.

A prova do que escrevo, e assumo, vai ser a chuva de críticas que imediatamente irão surgir de quem não consegue ler o que acabo de transmitir. Não, não estou contra o salvamento de animais, obviamente luto pelo seu bem-estar e pela condenação exemplar de quem os mal-trata. Mas isso não implica esquecer os seres humanos, aqueles que hoje em dia o politicamente correcto ignora e despreza.

As sucessivas crises financeiras, a ganância humana, os desgovernos eternos a que a sociedade actual tem assistido estão a salpicar as grandes urbes com milhares de pessoas sem qualquer tipo de apoio familiar, sem abrigo, sem carinho, sem amor nem compreensão. São olhados com desdém por quem passa, a não ser que tenham junto a eles um pequeno animal que lhes garanta alimento, pois cheiram mal e instalam-se em frente de montras de roupas luxuosas e isso incomoda esta geração de meninos mimados e arrogantes.

Editorial solidariedade

As televisões, desde as públicas às sensacionalistas e histéricas, só lhes dedicam reportagens nas vésperas de Natal e quando as temperaturas descem abaixo de zero. Adoram mostrar a gratidão pela sopinha, a esmola caridosa que se dá quando chega a autorização dos comandantes da nova ordem mundial e a selfie presidencial. Depois, nos 364 dias que restam de cada ano, as atenções são canalizadas para condenar quem impeça, no entender de tanto intelectualoide, o salvamento de algo que tenha mais que duas patas.

A manipulação da opinião pública, por parte de redes bem organizadas, prontamente abraça causas e condena, na praça pública, quem ouse ir contra os seus ideais. Castigar quem abandona um idoso, um doente, um desempregado, um pedinte? Porquê, se não paga impostos, não está filiado em qualquer sindicato nem sequer se pode levar para casa nem passear à trela? A favor destes ninguém se organiza nem há quem aponte o dedo aos responsáveis por tanta desumanidade.

Vivemos numa sociedade de animais. Que tristeza!

João Alves e Almeida

Director

Editorial é escrito de acordo com a antiga ortografia

Artigo de opinião: “Pandora relacional”

ArleteAs nossas escolhas, caminhos e decisões têm um património comum: um passado. O que está para trás de nós desenha-nos. O caminho que cada um percorre tem fragmentos de: um desígnio superior e abstracto, aquilo que vulgarmente chamamos “destino”; da capacidade de tomarmos as rédeas das nossas vidas , ou seja, de fazer escolhas; do devir, o conceito filosófico que significa a mudança pelas quais passam as coisas. A expressão “Nenhum homem jamais pisa o mesmo rio duas vezes” pertenceu ao Filosofo grego Heráclito de Éfeso, o pensador que desenvolveu o conceito de devir e que defendia que nada neste mundo é permanente, excepto a mudança e a transformação.

A nossa convivência social e a nossa vivência privada não escapam ao conceito de devir. As relações não são estáticas. Há uma dinâmica permanente. Veja-se os relacionamentos de amizade. Não nos relacionamos linearmente com os nossos amigos. Vamos ajustando o tempo que estamos com eles, em função das possibilidades de cada um, e porque aamizade tem implícito o conceito de desobrigação. Os amigos são para todas as oca siões, sem que haja uma obrigatoriedade de comparência. Não perdem o rasto um dos outros, apesar dos percursos diferentes e das mudanças que potenciam o distanciamento físico. A amizade verdadeira é um laço que nunca se parte, que cria cumplicidades, e a capacidade de responder às insuficiências dos outros. Sem julgamentos, nem exigências de qualquer espécie. Talvez por isso a amizade seja uma forma de relacionamento tão robusta. Frequentemente mais que os relacionamentos amorosos, que muitas vezes colapsam perante o grau de exigência e cobrança que se vão instalando e sobrepondo à génese do sentimento.

No início das relações amorosas somos todos compreensivos, tolerantes, praticamos a generosidade e a compaixão perante o presente e o passado da pessoa a quem nos unimos. Aceitamos, queremos saber, sorvemos informação, com um grau de doçura que apela à confidência de tudo, mas tudo mesmo, até aquilo que não aguentamos saber. Não raras vezes, mais tarde, por acção do devir, da natural mudança resultante da progressão, lá vem um dia a carta (suja) que atiramos para cima da mesa. Às vezes basta uma discussão, por mais comezinha ou doméstica que seja, ou uma dor de cabeça que se instala de sopetão, para fazer saltar das entranhas a cobrança. E logo a seguir a exigência. E como a implicância é democrática, instala-se a desarmonia. E começam os tiros no próprio pé e na cabeça do parceiro. Este juízo é válido para ambos os sexos sendo que, justiça seja feita, muitas vezes somos nós as mulheres as doutoradas na matéria. Tidas como uma carochinha, airosa e formosinha, que se uniu a um rato que aparentava merecer-nos e que entretanto assumiu trejeitos de adversário. Se a saúde da nossa relação já se alimentou da expectativa positiva, da benevolência e da quantidade de coisas que amorosamente quisemos saber um do outro, é incongruente, para além de estúpido, não ter capacidade para entender que aquilo que se ouve, não pode ser “desouvido” e, por consequência “dessentido”. Se andamos todos na busca do Santo Graal, que é ser felizes por via do amor, mais vale aprender a conter o ar como se estivéssemos a treinar para os campeonatos de apneia, em vez de soltar a verve.

A verdadeira felicidade alcança-se através das relações afectivas. É por isso que o nosso mundo tomba quando o insucesso se dá. Ter alguém de quem gostamos e que faz eco em nós é um achado demasiado valioso para ser entrecortado por erros de palmatória. Idealmente a vida deveria ser um filme de amor, mas também um thriller e uma comédia. Não um drama, ou uma película de terror. Sob pena de fraturarmos o crânio, com as cabeçadas que damos na parede. E nos dias de maior fluxo emocional doi que se farta!

Arlete Calais

At Linhas de Elvas

Artigo de opinião: “Ao Pingo Doce sabe bem pagar tão pouco”

mariana mortagua_0Um acordo europeu para medidas de urgência de resposta à crise (se existir) não é um ato de “solidariedade” e quem assim o apresenta apenas alimenta uma caricatura: transferências do grupo “frugal”, liderado pela Holanda, para os “esbanjadores”, que Portugal integra.

A ideia da “solidariedade” é errada, em primeiro lugar, porque a UE tem capacidade para financiar um ambicioso plano de recuperação através do BCE, sem exigir qualquer outra transferência entre países.

Em segundo lugar, porque o que os países europeus precisam é de instrumentos para lidar com a crise. A integração europeia eliminou e/ou centralizou esses poderes (como a emissão de moeda) e agora os “frugais” sequestraram-nos. Aos países que necessitem de financiamento, querem impor um programa liberal-autoritário, mesmo se essa não foi a escolha democrática dos seus povos. Uma espécie de servidão por dívida, já não à troika mas agora à Holanda (o que não parece desagradar a direita em Portugal, a julgar pela palavras de Rui Rio). Não deixa de ser irónico que o projeto europeu seja posto em xeque por governos da família socialista, mas esse sempre foi o prognóstico de quem, à esquerda, criticou a UE: uma Europa que, uma e outra vez, falha aos seus povos está condenada ao fracasso.

A ideia de um acordo europeu como ato de solidariedade é, finalmente, errada porque a “frugalidade” que tornaria os Países Baixos moralmente superiores é obtida à custa dos impostos que deveriam ser cobrados em outros países europeus. Todos os anos, o paraíso fiscal holandês cobra 10 mil milhões de impostos sobre os lucros que são desviados dos restantes países da UE. Um regime que nenhum país bloqueia, devido à livre circulação de capitais na UE, e que não é alterado porque os Países Baixos têm o poder de vetar legislação fiscal a nível europeu. Se considerarmos que a contribuição líquida dos Países Baixos para o orçamento europeu é de 4,9 mil milhões, o nosso parceiro “frugal” do centro da Europa é afinal financiado anualmente em 5 mil milhões de euros por estados como Portugal, que veem essa receita desaparecer das suas contas públicas.

Ratos holanda (2)

Esta hipocrisia é a mesma que, ao longo dos tempos, serviu as maiores empresas portuguesas: ao mesmo tempo que exigiam em Portugal leis e regras à medida dos seus interesses, não hesitaram em registar as suas sociedades em Amsterdão. Entre elas estão todas as maiores da Bolsa portuguesa. Em período de crise, o que se pede a essas empresas não é solidariedade. É apenas decência: mudem as vossas sedes para Portugal e paguem cá os vossos impostos.

Mariana Mortágua

At https://www.jn.pt/