Artigo de opinião: “Fraternidade”

Tive o privilégio de ouvir, por várias vezes, o saudoso Dr. Fernando Valle dizer que “o século XIX tinha sido o século da luta pela Liberdade, o século XX o da luta pela Igualdade e que o século XXI seria o século da Fraternidade”.

Quando nos deixou, em 2004, o século mal começava mas a sua longa vida, a sua longa reflexão sobre o percurso da humanidade, as suas profundas convicções, conduziam-no a uma reflexão sobre a importância da fraternidade entre todos os membros da humanidade e os laços que devem unir todos os homens sobre toda a superfície da terra.

Nestas primeiras duas décadas do século XXI temos vivido momentos contraditórios neste percurso no sentido da afirmação e da vivência da fraternidade.

Se há múltiplos sinais positivos e, até, inovadores quer do ponto de vista programático quer, ate, do ponto de vista jurisdicional, há também momentos em que tudo parece ser posto em causa.

O ressurgir de nacionalismos sem sentido, a regressão de alguns estados no que tange ao respeito pelos direitos humanos, a limitação às liberdades individuais adentro das fronteiras da União Europeia, são impressivos sinais que devem induzir em todos aqueles que assumem a liberdade, individual e colectiva, como valor essencial, preocupações reforçadas com a marcha da humanidade.

Mais, devem impor a todos nós a disponibilidade que a responsabilidade da cidadania exige.

Atente-se, a este propósito, no que escreve Edgar Morin no seu recente livro “La Fraternité, porquoi(‘) ?”:

“A fraternidade, meio de resistir à crueldade do mundo, deve tornar-se num objectivo sem deixar de ser um meio. O fim não pode ser um termo, antes se deve transformar num caminho, no nosso caminho, o caminho da aventura humana”.

Esta afirmação é uma quase convocatória para o nosso quotidiano.

Convocatória que  retoma o que já no início do século XVIII (1723) as Constituições de Anderson(2) afirmavam de forma lapidar: “a fraternidade não é só uma palavra, mas antes uma profunda realidade que se exprime nas obras de solidariedade”.

Ter sido assinalado, em 2021, o 1.° Dia Internacional da Fraternidade Humana, efeméride instituída pela ONU, deve encher-nos de satisfação.

Da trilogia que se afirma desde a Revolução Francesa e cuja defesa tantas vítimas fez em tempos de obscurantismo, a fraternidade sempre foi a mais difícil de caracterizar e aquela à qual sempre foi mais difícil dar forma vinculativa. Na vida e nos diversos ordenamentos jurídicos. Parece que estamos agora no caminho certo.

Neste primeiro Dia Internacional da Fraternidade Humana foi distinguido o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, e a activista franco-marroquina Latifa Ibn Ziaten https://youtu.be/wOv2DA66B2k.

Valerá a pena realçar o que a propósito foi dito pelos responsáveis pelo prémio: “Este prémio independente e global foi concebido para encorajar e reconhecer aqueles que nos inspiram a todos a desempenhar o nosso papel na criação de um mundo mais compreensivo, inclusivo e pacífico. Ao examinar o trabalho e o impacto de ambos os homenageados de 2021, fica claro que ambos são modelos para a próxima geração, líderes mundiais, empenhados em actividades igualmente nobres para a paz.

A propósito da atribuição deste prémio e da sua quase não divulgação na comunicação social o Padre José Maria Brito, SJ, escreveu um pequeno artigo com um título que, em si mesmo, diz quase tudo – “A fraternidade não é notícia?”.

Impõe-se que seja notícia!

Mas, impõe-se também, cada vez mais, que o Princípio da Fraternidade, tantas vezes enunciado em textos jurídicos, maxime em textos constitucionais, numa perspectiva essencialmente proclamatória, passe a ser densificado e fundamento e limite de concretas decisões jurisdicionais.

Este é um combate que aqueles que defendem a fraternidade e o primado do Estado de Direito devem assumir como imperativo ético do nosso tempo.

Suportados nalguns exemplos normativos relevantes.

Desde logo no artigo 1.° da Declaração Universal dos Direitos do Homem: “Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas as outras com espirito de fraternidade.”

Mas, também, dos textos preambulares de algumas Constituições, como é o caso da Portuguesa ou da Brasileira: “tendo em vista a construção de um país mais livre , mais justo e mais fraterno” ou “assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos…Ou, last but not feast, o estatuído no artigo 2.° da Constituição Francesa ”O lema da Republica é: “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”.

Impõe-se, por isso, elevar o Principio da Fraternidade a verdadeiro princípio fundador, informador e enformador da nossa ordem jurídica e, mais, das decisões jurisdicionais dos nossos tribunais.

De forma sintética referem-se alguns fundamentos para isso.

  • A Fraternidade enquanto expressão máxima da dignidade da pessoa humana.
  • A Fraternidade como promotor de uma relação igualitária entre todos os membros da humanidade.
  • A Fraternidade como princípio, fundamento e limite na relação de cada individuo para com o outro e com a sociedade.
  • A Fraternidade como princípio essencial da relação entre iguais e, sobretudo, entre iguais livres.
  • A Fraternidade à escala mundial e com uma dimensão intergeracional como suporte do desenvolvimento sustentável.
  • A Fraternidade como valor universal, com dignidade constitucional superior, porventura supraconstitucional, que deve constar de todas as Constituições democráticas.
  • A Fraternidade consagrada no direito positivo, com um conteúdo de largo alcance, e que constitua um comando para normas futuras, permitindo uma aplicação segura e previsível.
  • A Fraternidade como princípio jurídico no qual se fundamentam disposições jurídicas concretas como o da protecção de imigrantes, o direito de asilo e de regularização, o direito à assistência, à segurança social ou à educação universal.
  • A Fraternidade como princípio conformador da dignidade da pessoa humana e a obrigatória conciliação entre o dever de fraternidade e o direito de propriedade.
  • A Fraternidade como sinónimo da assimilação de cada um, qualquer que seja a sua origem, no seio de uma colectividade de pessoas iguais em direitos e deveres.

Sabemos que este é um combate que nunca estará ganho, sabemos que a natureza humana é sempre capaz de gerar perversões que não conseguimos imaginar, nem prever.

Sabemos, também, que sempre houve, e sempre haverá, à face da terra homens livres que tudo sacrificam em nome das suas convicções e, desde logo, em nome da liberdade, da igualdade e da fraternidade.

E sabemos que a fraternidade tem agora uma vocação universal, uma vocação para englobar a humanidade na sua totalidade e que, independentemente do caminho percorrido por cada um de nós para lá chegar, todos temos a ganhar se considerarmos o nosso semelhante como um irmão. ■

(1) La Fraternité, de Edgar Morin, edições Actes Sud, 2019

(2) Constituições de Anderson- texto fundador da maçonaria moderna

Luís Parreirão

At https://ofigueirense.com/

Opinião: “A princesa estuda, a plebe fica online”

Está a criar-se uma ideia simpática mas a curto prazo devastadora para o ensino – a de que o ensino online não funciona nas crianças pequenas mas tem vantagens nos adolescentes e jovens adultos. É o mal menor. Outra vez. Nada online tem vantagens a não ser curto período, para pesquisa, por exemplo. Mas isso não é ensino – o que os jovens vão desenvolver online é a rapidez, multitasking, compulsão, que lhes permite aguentar quando entrarem no mercado de trabalho uma linha de montagem, uma tele consulta, uma “aula” online. Ensino é desenvolvimento das funções psíquicas superiores, conhecimento, concentração, abstração, atenção dirigida.

Por estes dias a “casa real espanhola” anunciou que Leonor vai estudar num colégio de ensino secundário em Inglaterra onde, cito “o programa académico dura dois anos letivos (2021-2022 e 2022-2023), com disciplinas de ciências e letras e fica completo com “um curso interdisciplinar comum sobre teoria do conhecimento e uma monografia de caráter investigativo”, “também participará e num programa especial de criatividade com formação em teatro, música, arte, desportos e serviço à comunidade, consistente com o apoio em escolas locais, trabalho com crianças com incapacidade intelectual, terceira idade e primeiros socorros”. Do currículo consta ainda “a aquisição de conhecimentos de manutenção de costas e bosques, controlo de índices de contaminação do meio ambiente e recuperação de espécies animais”. De manhã teoria do conhecimento, com livros, à tarde cultura, arte e vida na comunidade – um ensino quanto a mim perfeito.

A conclusão é óbvia. A plebe fica a carregar num botão, e a olhar para um ecrã 6 horas por dia, seguidos de mais 6 “lúdicas” para garantir que nunca se cansarão numa linha de montagem. A elite vai estudar literatura, filosofia, os fundamentos da ciência, e da vida em comunidade. Os dirigentes e quem tem poder estudam classicamente, enquanto criam teorias sobre as vantagens do online para a plebe que dirigem. Os outros são operadores de máquinas, ainda que possam ser médicos ou professores – o que são chamados é a ser apêndices de um computador. A distopia tecnológica é isto. A escola real é um castelo cada vez mais vedado à maioria da população, que assiste pelo ecrã passiva, com um Ipad oferecido pelas Câmaras, ignorante, repetitiva, compulsiva, sem se desenvolver com humanidade, apartados assim também da democracia.

Raquel Varela

At https://raquelcardeiravarela.wordpress.com/

Opinião: “Como se construíu um grande Partido democrático”

O PS nasceu clandestinamente na minha casa em Oliveira do Hospital e foi legalizado na Alemanha.

Mário Soares foi o seu criador no exílio em França. Havia na sua génese várias correntes de pensamento político ligadas pelo amor á Liberdade e á Justiça Social.

Após Abril Mário Soares foi o artifice de com um pequeno grupo de militantes construir o maior Partido nacional e ter sido o garante da Liberdade e da Democracia. Passei mais de uma década da minha vida dedicada á organização política do PS a nível nacional, sempre numa ligação umbilical com Mário Soares.

Nunca Mário Soares aceitou a marcação de um congresso sem ter garantida uma oposição interna o que me obrigava muitas vezes a fomentá-la. Felizmente havia o sótão do António Guterres.

António Guterres era de longe o homem mais bem preparado politicamente para suceder a Mário Soares. Mário Soares e eu fizemos tudo para que tal acontecesse. Infelizmente ele não aceitou. De uma bondade extrema não conhece a palavra mais importante de um político que é dizer não aos que o rodeavam.

Perdemo-lo como Primeiro Ministro, mas o Mundo elege-o como promotor da segurança e da Paz mundial. Portugal é isto, corre com os melhores e apoia os medíocres.

António Campos

At https://www.facebook.com/

Opinião: “Meu Caro Ascenso Confusões”

Meu Caro Ascenso Confusões,

Analisei atentamente as suas últimas declarações, em que justifica a sua posição contra o voto de pesar da Assembleia da República sobre a morte de Marcelino da Mata, e que me merecem algumas considerações.

Antes de mais, meu caro Inveja Simões, esclareço que o trato de caro, não porque por si nutra alguma consideração, carinho ou respeito, mas porque me é caro, a mim, e a todos os portugueses que o sustentamos, pois se desenvolve algumas atividades pro bono, não foi pro bono, mas sim pro bolso, que foi aquilo que pagamos durante os anos em que desempenhou funções na administração da ERSE…

Depois, caro Inveja Cifrões, trato-o agora de inveja, por que estou convencido de que uma das razões das sábias palavras que proferiu, os outros motivos comentá-los-ei mais à frente, é a inveja , a certeza de que quando morrer , mais tarde ou mais cedo, ninguém se vai lembrar de si , nenhuma celeuma vai surgir à sua volta, se deve ser glorificado ou criticado, pois caro Inveja Simões, o senhor não passa de mais um zero á esquerda, a quem, infelizmente os médias dão palco…

Mas esteja confiante, caro Esquecimento Simões, de que quando morrer, se for nos tempos mais próximos, o mais que se poderá ouvir será um generalizado e nacional suspiro de alívio, mas se for daqui uns anos, no momento da sua ascensão, Simões, ninguém se vai lembrar de si, ninguém irá falar em Ascenso Panteões…

Mas antes de passar ao elogio das suas nobres palavras, caro Inocente Simões, uma pequena declaração de interesses:

• Não tenho nada contra a sua cor de pele, não sou, portanto, racista, e isto apesar de, meu caro Aumento Simões, ter tornado a vida muito mais negra aos consumidores de energia em Portugal, sejam pessoas ou indústrias, durante a sua passagem pela ERSE.

• Não tenho nada contra as gentes de Vila Real, meu caro Ascenso Exceções, antes pelo contrário tenho a melhor das impressões das gentes daquela região, onde vivi sucessos e desgostos desportivos, proferi palestras académicas, e com cuja universidade, ainda hoje, desenvolvo, em trabalho conjunto, inovadores projetos profissionais. Tenho lá bons Amigos, e sempre houve um enorme carinho recíproco entre os habitantes de Vila Real e a minha humilde pessoa… Mas não há regra sem exceção…

• Não tenho nada contra a AESE/IESE , meu caro Infelizmente Simões, entidade de ensino que também frequentei, e que muito veio a contribuir para o meu desenvolvimento, tanto profissional, como pessoal, o que infeliz e excecionalmente, não parece ter sido o seu caso…

E após este longo prefácio, meu caro Inocente Simões, chegamos finalmente ao tema que aqui me trás, as suas palavras sobre a falta de sangue no 25 de Abril , sobre a negação da existência de uma civilização portuguesa pluricontinental, e sobre o desmantelamentos das obras que evoquem o sucesso de Portugal, e a sua importância como potência mundial, até ao advento do 25 de Abril de 1974.

Meu caro Ignorante Simões, tem como atenuante o facto de todos nós termos consciência de que hoje, para singrar no PS, salvo raras e honrosas exceções, tem de se ser ignorante, pouco culto, dotado de alguma flexibilidade de princípios, ser eticamente maleável, e não muito inteligente. Meu caro Ascenso Submissões, é do conhecimento geral, que um individuo normal, não dotado das características acima referidas, jamais aceitaria a vassalagem intelectual e moral para singrar no partido de que faz parte. Mas vamos comparar as suas torpes insinuações com fatos:

A primeira: no 25 de Abril “devia ter havido sangue, devia ter havido mortos”. Permita-me relembrar, meu caro Ascenso Insinuações, que do 25 de Abril resultaram:

• só em Angola, foram 2 milhões de mortos, 1.7 milhões de refugiados, e 80 mil estropiados; dois milhões de seres humanos que eram portugueses, até serem traídos e abandonados por si e pelos seus camaradas… 1, 7 milhões de seres humanos que eram portugueses, até serem traídos e abandonados por si e pelos seus camaradas… 80 milhares de seres humanos que eram portugueses, até serem traídos e abandonados por si e pelos seus camaradas;

• em Moçambique na guerra civil dos 16 anos foram mais de um milhão de vítimas da guerra e da fome, mais de um milhão de seres humanos que eram portugueses até serem traídos e abandonados por si e pelos seus camaradas. E a chacina ainda vai no adro…

Acha pouco sangue português? E falo aqui no sentido literal… É claro que não houve sangue entre os seus camaradas de abril, que por vis motivos de soldo, renegaram a Bandeira e a Constituição a que tinham jurado fidelidade, prestando-se a ser marionetes de interesses estrangeiros que vieram a ser responsáveis pela chacina acima descrita…

Meu caro Ascenso Traições, acha pouco sangue ainda? Pode então adicionar o dos portugueses da Guiné e de Timor, mais umas dezenas de milhares de seres humanos, que eram portugueses, até serem traídos e abandonados por si e pelos seus camaradas …..

A segunda: “Falta o conhecimento da história. Falta perceber verdadeiramente que não tivemos império nenhum. Que os tempos que vivemos desde o século XV até ao 25 e Abril foram tempos de grande instabilidade que nunca consolidaram império nenhum, mas esse império que está na nossa cabeça é o império salazarista. É uma construção simbólica do império salazarista…”

Meu caro Ignorante Simões, Portugal, sendo, no seu início apenas uma pequena nação na Europa, vive tempos de instabilidade desde a sua fundação até hoje; que saudades temos desses tempos de instabilidade, uns dias melhores outros piores, umas épocas mais fracas, outras mais ricas, mas sempre na perspetiva de que as dificuldades, de uma forma ou outra, seriam vencidas, e que dias melhores viriam.

Hoje, meu caro Esbanjamento Milhões, graças a si e aos seus camaradas, temos estabilidade na miséria:

Pedimos aos países ricos remédios como esmola, aos países civilizados que nos mandem médicos, enfermeiros e equipamentos, pedimos dinheiro emprestado para comprar comida no mercado mundial…

Espera-nos talvez o risonho futuro dos portugueses de Angola, Moçambique, Guiné, Timor, que vivem na miséria material e intelectual, nós vítimas, tal como eles de termos sido traídos e abandonados por si e pelos seus camaradas.

Atrevo-me a perguntar-lhe, meu caro Ascenso Negações: As populações das nossas antigas províncias ultramarinas vivem melhor hoje do que nos tempos da administração portuguesa? Será o atual triste destino dessas luso-Pessoas, o futuro aqui?

A terceira: que a ponte Salazar mudou de nome para ponte 25 de Abril, também o Padrão devia ser destruído enquanto “monumento do regime ditatorial” que é.

Meu caro Ascenso Sugestões, tenho vindo até aqui a criticá-lo, a desprezá-lo até, mas nesta questão, julgo que a sua sugestão tem algum cabimento; acho que o meu caro Descenso Padrões e seus camaradas devem ser poupados ao convívio com as obras dos regimes anteriores ao regime inaugurado em 25 Abril de 1974…

Mas caro Ascenso Revoluções, não vamos destruir o Padrão dos Descobrimentos, apesar de bem saber que a sua especialidade, e a dos seus camaradas, meu caro Ascenso Destruições, é destruir, destruir, destruir, sem nada construir!

Também não vamos tapar ou ocultar o Padrão, caro Ascenso Visões, proponho algo muito mais simples e económico:

Proibir a si Ascenso Restrições, e a seus camaradas, o usufruto, não só do Padrão dos Descobrimentos, mas de todas as obras construídas pelos regimes, monárquicos ou republicanos, anteriores ao regime inaugurado em 25 Abril de 1974…

É isso mesmo, meu caro Ascego Negações, para quê o Ascego, e seus camaradas, sofrerem, no seu dia a dia, o confronto com as realidades que negam, com as repudiantes estruturas que, de acordo com o que dizem, serão inexistentes, invisíveis, não passando de obras simbólicas das gerações e regimes anteriores ao 25/4.

Meu caro, já viu como o Propenso Nulações, e seus camaradas, seriam felizes se fossem poupados à visão, e banidos da sua utilização, de, entre outros:

• Padrão dos Descobrimentos

• Ponte Salazar

• Parlamento

• Hospital Santa Maria

• Metro

• Caminhos de Ferro

• Hospital Santo António

• Ponte da Arrábida

• Aeroporto de Lisboa

• Aeroporto do Porto

• Porto de Sines

• Porto de Lisboa

• Porto de Leixões

• Universidades

• Liceus

• Escolas

• Vias de comunicação

• Etc. Etc., Etc.

Meu caro Ascenso Soluções, estou certo de que, entre o aeroporto de Beja, alguns milhares de rotundas e estátuas autárquicas e pavilhões desportivos, Ascenso e seus camaradas encontrarão uma forma de viver não seja dependente de obras feitas por regimes anteriores.

Meu caro Ascenso Intervenções, despeço-me na humilde expectativa de ter o prazer de, em breve, voltar a ouvir as suas doutas palavras.

Passe bem, Ascenso Luís Seixas Simões!

Luís Sena de Vasconcelos

At https://portadaloja.blogspot.com/

PS: Legenda das fotos:

Lado Poente (1.ª foto):

1 – Infante D. Pedro, Duque de Coimbra (filho do rei João I de Portugal);

2 – Dona Filipa de Lencastre (Rainha, Mãe dos Infantes, mulher de D. João I);

3 – Fernão Mendes Pinto (escritor e aventureiro do Oriente);

4 – Frei Gonçalo de Carvalho (Dominicano);

5 – Frei Henrique de Coimbra (Franciscano);

6 – Luís Vaz de Camões (poeta épico, o maior de Portugal);

7 – Nuno Gonçalves (pintor);

8 – Gomes Eanes de Zurara (cronista);

9 – Pêro da Covilhã (viageiro);

10 – Jácome de Maiorca (cosmógrafo);

11 – Pêro Escobar (navegador/piloto);

12 – Pedro Nunes (matemático);

13 – Pêro de Alenquer (navegador/piloto);

14 – Gil Eanes (navegador);

15 – João Gonçalves Zarco (navegador);

16 – Infante D. Fernando, (o Infante Santo, filho do rei João I de Portugal).

Lado Nascente (2.ª foto):

1 – D. Afonso V de Portugal (Rei);

2 – Vasco da Gama (navegador/descobridor do Caminho Marítimo para a Índia);

3 – Afonso Baldaia (navegador);

4 – Pedro Álvares Cabral (navegador/descobridor do Brasil);

5 – Fernão de Magalhães (Navegador/Viagem de Circum-navegação);

6 – Nicolau Coelho (navegador);

7 – Gaspar Corte-Real (navegador/Península Labrador);

8 – Martim Afonso de Sousa (navegador);

9 – João de Barros (Cronista/Historiador);

10 – Estêvão da Gama (capitão);

11 – Bartolomeu Dias (navegador/descobridor do Cabo da Boa Esperança);

12 – Diogo Cão (navegador);

13 – António de Abreu (navegador);

14 – Afonso de Albuquerque (Vice-rei da Índia/governador);

15 – São Francisco Xavier (missionário/evangelizador);

16 – Cristóvão da Gama (capitão).

Artigo de opinião: “O nosso Parlamento e os apelos da Quaresma”

Vivemos em democracia, é certo e bonito. O debate é sempre possível e salutar, não existe a lei da rolha, pelo menos em teoria. No entanto, o uso deste dom maravilhoso que é a liberdade de pensar e dizer, é muito assaltado pela apetência de ultrapassar linhas vermelhas que interpelam pela negativa.

Acho estranho que, no século XXI, o Estado, em nome do progresso civilizacional, ainda se sinta no direito e dever de fomentar a cultura da morte em vez de garantir o necessário apoio para que cada pessoa se sinta estimada e cuidada até à morte e morte natural. Inclusive com os cuidados paliativos a que tem direito, mas que a maior parte do povo nem sabe que existem, nem o que são, nem para que servem, nem lhe é explicado tanto quanto baste, não convém!

É estranho que, para satisfazer desejos pessoais, por mais respeitáveis que eles sejam, o Estado, não satisfeito com os filhos órfãos de pais vivos, queira ser causador do nascimento de filhos órfãos por inseminação ‘post mortem’, desvalorizando todas as consequências e o direito de todas as crianças a ter um pai e uma mãe, em comunidade familiar de vida e amor. Tendo em atenção o caso que provocou este debate, alguém insinua que uma criança assim concebida, é mais olhada como instrumento e remédio para satisfazer o sofrimento saudosista de alguém, mesmo que compreensível, do que considerada como um valor em si mesma. O dever do Estado é cuidar do bem comum, não de casos pontuais fruto de meros sentimentos de alguém.

Perante tão estranhas questões da nossa polis, constatam-se vários posicionamentos. Uns, os filósofos de serviço, esmeram-se em busca de altíssimas razões, as suas, para provar a justeza e a oportunidade destes temas. Puxam da sua pieguice e dó em favor da dignidade e da humanidade de quem sofre, iludindo os menos precavidos. Outros, fidelizados até ao tutano aos seus mentores ou chefes, mesmo discordando na matéria, engrunham-se na hora de bater o pé, preferindo onerar a sua própria consciência e tornarem-se cúmplices do que vier a acontecer, a morte dos mais frágeis, o matar através do Serviço Nacional de Saúde! Outros, porém, menos pensantes e sem qualquer opinião, voláteis, preferem dar ares de progressista, encostando-se, amorfos, a fazer monte e número, na defesa de tais causas. Outros, ainda, da esquerda à direita, têm os pés bem assentes no chão, buscam o melhor, sabem ouvir quem mais sabe e têm a noção das consequências de tais iniciativas, mas nada conseguem fazer valer perante o desertar da razoabilidade dos seus pares. A vergonha assalta-os, o País parece que manifesta saudades pela pena de morte! Sendo a política uma arte nobre que deve ser exercida com nobreza, é estranho que, os representantes do povo, uma vez eleitos, se tenham logo como omniscientes e omnipotentes, desprezando até a ciência e os mais elementares princípios da Ética e do próprio bom senso ou do senso comum, em jeito de l’état cést moi.

Enquanto que a imprensa, nacional e estrangeira, refere que estamos na cauda da Europa, e do mundo!, em mortes covid, por exemplo, não se desiste de estar na linha da frente em causas fraturantes. É a forma encontrada pelo Estado para se esquecer das verdadeiras mazelas sociais e se devotar à promoção da cultura da morte e dar nas vistas, pelas piores razões. As filas da fome em busca da marmita não incomodam tais arautos, apesar de ser garantida por quem lhes merece o maior repúdio: a Caridade, o Amor! Negando o mais fundamental dos princípios humanos, isto é, o direito à vida e a garantia da sua inviolabilidade, lutam pela eutanásia, isto é, pela morte assistida, ou melhor ainda, defendem o homicídio e o suicídio, aquilo a que, para confundirem o povo e gerarem simpatia, eufemisticamente apelidam de morte medicamente assistida, como se de um ato médico se tratasse. Enchem-se de fogo, e zelo! De forma beata, fingindo muita compaixão por quem sofre, falam ao sentimento e compaixão de outros – não à razão! -, para arrebanhar prosélitos mesmo que estes nem saibam bem do que é que se trata. O que interessa é o ruído, o monte, o número. Se escutam alguém, não ouvem, nem sequer prestam atenção aos pareceres negativos dos especialistas em Ética, do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, do Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida, assim como de professores universitários, juristas, Associação de médicos, especialistas em bioética ou de entidades como a Associação Portuguesa de Fertilidade ou o Conselho Superior do Ministério Público, e de tantas outras, e de tantos outros. Inclusive, tapam os ouvidos e os olhos aos abusos e aos interesses imparáveis que já acontecem noutros países onde se abriu essa porta, uma porta a desembocar numa rampa cada vez mais larga e inclinada a convidar a tais abusos e interesses, interesses até de famílias e herdeiros.

Avalia-se o progresso civilizacional, não construído sobre o melhor que se recebe do passado e já confirmado pela História e pela convivência sadia dos povos, mas tentando inovar, sofregamente, se possível de forma rápida e em tempos de distração do povo, sobre matérias como se da descoberta da pólvora se tratasse e fossem até passíveis de prémio Nobel. Quantos erros por se fazer vista grossa às lições da História! Por razões semelhantes, até Jesus Cristo chorou sobre o povo e a cidade de Jerusalém, pois os seus chefes agiam como donos e levianamente, conduzindo a todos, sobretudo o povo, para a tragédia sem igual!

Entre nós, ao quererem levar a água ao seu moinho, quem contrariar tais pretensões, é logo rotulado de direita, de conservador, de tradicionalista, ou, então, se for alguém da Igreja, autoridade ou cristão assumido, é tido como retrogrado e obscurantista, a quererem fazer crer que, o que estes defendem, não passa de uma questão meramente religiosa, desprezível, e não de uma causa verdadeiramente humana e justa, de verdadeiro progresso histórico e humano. É a sua versão da lei da rolha, importa fazer calar!

O ruído em favor da cultura da morte e da orfandade vai continuar. Tal como aconteceu com a morte das crianças, isto é, com o aborto, ao qual, para suavizar e iludir, chamam, eufemisticamente, interrupção voluntária da gravidez, esperam que o mesmo aconteça com a eutanásia e com a introdução da inseminação ‘post mortem’ na lei da procriação medicamente assistida. Resta-nos a certeza de saber que aquilo que é legal, nem sempre é moral e eticamente aconselhável. A verdade e a dignidade humana não dependem de maiorias parlamentares, muito menos quando a maioria obtida é feita de silêncios pusilânimes ou subservientes, e na busca de uma nesga na Constituição para que tais leis possam por lá furar e dizerem: vencemos!, como se de uma vitória se tratasse. Além disso, a objeção de consciência é uma saudável arma na mão daqueles a quem querem impor a aplicação dessas leis, se, de facto, vierem a ser aprovadas.

Ninguém vai pedir aos senhores parlamentares que entrem num processo de metanoia. Até porque, se pararem, refletirem e tiverem como referência a verdade e o bem comum, a sua consciência o fará. Apenas lhes pedimos que não esqueçam os verdadeiros problemas do povo que neles confiou e a quem prometeram servir. Que lhe proporcionem uma vida saudável e feliz e que não fomentem a cultura da morte e outras velharias mais. Legislar e executar a morte, é estimular à morte, não é humano! Pode até o sofrimento físico, à partida, não ser grande, mas porque o sofrimento tem muitas caras e feitios, pode tornar-se “em situação de sofrimento intolerável”, sobretudo quando a pessoa percebe e sente que está a ser um grande incómodo ou um enorme peso para a família ou a sociedade, e entende que lhe estão a apontar a porta para que se suicide ou peça a um homicida que a mate! Como afirmava Miguel Torga, “o mais trágico na velhice doente é vermo-nos morrer antecipadamente no cansaço e no enfado de quem nos rodeia”. Entre quem nos rodeia, estão estes tão misericordiosos e sábios legisladores!…

Antonino Dias

Bispo da Diocese de Portalegre-Castelo Branco

At https://www.portalegre-castelobranco.pt/

Carta aberta da cultura a António Costa

Ao Exmo. Sr. Primeiro Ministro, António Costa,

As Entidades da Cultura subscritoras verificaram que no Plano de Recuperação e Resiliência a apresentar em Bruxelas, trazido a público para consulta no dia 16 deste mês, não existe qualquer proposta relativa ao investimento na Cultura.

Este Plano é reconhecido transversalmente como uma oportunidade de intervir de forma estruturante na definição da vida do país nos próximos anos: corrigindo assimetrias que bloqueiam o seu desenvolvimento e tornando-o mais competitivo, enfrentando fragilidades históricas nos vários sectores da vida nacional, promovendo a resiliência.

Estando conscientes das directivas específicas da União Europeia para os objetivos deste investimento, entendemos que este documento deve reflectir as principais preocupações e linhas estratégicas deste Governo para a recuperação económica de todos os sectores, “de forma a que ninguém fique para trás”.

Estranhamos, portanto, que a Cultura não esteja presente, nas suas variadas áreas – criação, património, fruição, acesso, e necessárias dimensões de capacitação tecnológica, infraestruturas e internacionalização. A que se deve esta ausência? Está este Governo, e o seu Primeiro-Ministro, a assumir que não vê na Cultura um motor fundamental de desenvolvimento e coesão nacional? Significa esta decisão uma desresponsabilização do Governo relativamente a este sector tão vasto, diverso e que gera um inegável valor?

É sabido, e assumido pelo seu Governo, que a Cultura tem sofrido de crónico sub-financiamento, precariedade e falta de investimento estrutural. É também conhecida a assimetria no acesso aos bens culturais e às infra-estruturas entre as diferentes regiões do país. Estas fragilidades históricas serão agravadas, e a recuperação e resiliência deste sector estão ameaçadas. Como pode este Governo, e o Senhor Primeiro-Ministro, querer perder esta oportunidade?

A omissão da Cultura neste plano a médio prazo terá consequências económicas, sociais e políticas de larga escala. Numa época em que a coesão democrática é um tema de preocupação transversal, parece-nos um erro grave que o nosso Governo opte por não investir no futuro de um sector tão fundamental para essa coesão.

Por estes motivos, vimos por este meio exigir a inclusão de um plano para a Cultura que aproveite a oportunidade que se nos apresenta, revitalizando de forma estruturante este sector tão central ao futuro da nossa vida nacional.

Subscritores:

Aldina Duarte
Ana Margarida de Carvalho
Anabela Mota Ribeiro
António Pinto Ribeiro
Bárbara Bulhosa
Camané
Carlos Vaz Marques
Guilherme Blanc
Irene Pimentel
Jorge Silva Melo
Maria do Céu Guerra
Miguel Lobo Antunes
Pilar del Río
Samuel Rego
Sérgio Godinho
Tiago Bartolomeu Costa
Tiago Rodrigues

Entidades subscritoras:

Ação Cooperativista de Apoio-Artistas, Técnicos e Produtores
Acesso Cultura
Agência da Curta Metragem
AMAEI – Associação de  Músicos Artistas e Editores Independentes
APNEIA – Associação de Produtores do Norte e Empresários Independentes do Audiovisual
APORDOC – Associação Pelo Documentário
APR – Associação Portuguesa de Realizadores
APTA – Associação Portuguesa de Técnicos do Audiovisual
APURO – Associação Cultural e Filantrópica
Arte Educadores em Luta
Associação Os Filhos de Lumière
Casa da Animação
Convergência Pela Cultura
Curtas Vila do Conde 
DocLisboa
IndieLisboa
Lovers & Lollypops
Monstra
Omnichord
PCIA – Produtores de Cinema Independente Associados
Plataformadança – Associação Nacional de Dança
Plateia – Associação dos Profissionais das Artes Cénicas
Porto Post Doc
Portugal Film
Queer Lisboa
Tremor Festival 
Why Portugal – Estrutura de Internacionalização da Indústria da Música Portuguesa

Subscritores serão actualizados diariamente. Para consultar, visitar: www.apordoc.org

(Para subscrever, enviar email para: cultura.carta.aberta@gmail.com)

Plano de Recuperação e Resiliência em fase de consulta pública até 1 de Março

O processo de discussão e auscultação pública da versão do PRR reflete a ambição e adequação das respostas aos constrangimentos e desafios de Portugal. Chegado o momento de conclusão dos trabalhos preparatórios, e antes do envio formal à Comissão Europeia, é novamente tempo de consultar a sociedade Portuguesa. Pela sua dimensão e relevância estratégica, pelo seu impacto estrutural e ambição, pelo seu simbolismo enquanto resposta conjunta da União Europeia a uma crise sem precedentes, o PRR deve ser o Plano de todos os Portugueses, dando resposta aos desafios que enfrentamos e que, em conjunto e com determinação, vamos superar.

O PRR é de aplicação nacional, com um período de execução até 2026, com recursos que ascendem a cerca de 14 mil M€ de subvenções, um conjunto de reformas e de investimentos que permitirão ao país retomar o crescimento económico sustentado, reforçando assim o objetivo de convergência com a Europa ao longo da próxima década.

Pode consultar:

https://www.portugal2020.pt/content/plano-de-recuperacao-e-resiliencia-em-consulta-publica-ate-1-de-marco

https://www.consultalex.gov.pt/ConsultaPublica_Detail.aspx?Consulta_Id=183

A taxa de desemprego é um bom indicador, mas não conta a história toda e outras 4 lições do INE em tempos de pandemia

A taxa de desemprego ajuda a perceber o impacto da pandemia no mercado de trabalho, mas a subutilização do trabalho é um indicador mais completo. A população empregada também tem mais que se lhe diga.

A pandemia, e as medidas que a ela tentam responder, continuam a induzir mudanças no mercado de trabalho, mas também na forma como olhamos para os vários indicadores do emprego e do desemprego. Através do Inquérito ao Emprego, os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) têm permitido quantificar o impacto da Covid-19 no mercado de trabalho e mostrado que só um indicador não conta a história toda. Além do desemprego, a subutilização do trabalho e as ausências ao emprego na população empregada ajudam a complementar a análise, também ela influenciada pela chamada “semana de referência”. No meio de tudo isto, as contas do INE mostram como Portugal deixou de cumprir uma importante meta de progresso.

1. A taxa de desemprego é um bom indicador…

O tombo não foi tão grande quanto se esperava. No total do ano de 2020, a taxa de desemprego ficou nos 6,8%, o que representou um aumento de apenas 0,3 pontos percentuais em relação ao ano anterior. O valor “corresponde à segunda taxa de desemprego anual mais baixa da série iniciada em 2011“. E ficou quase dois pontos percentuais abaixo da última previsão do Governo.

Em outubro, na apresentação do Orçamento do Estado para 2021, o Executivo projetava chegar ao final de 2020 com uma taxa de desemprego de 8,7% (a previsão chegou a ser de 9,6% em junho). Já o Conselho das Finanças Públicas apontava para 10% e o Banco de Portugal 7,2%. A taxa calculada pelo INE acabou, assim, por surpreender. Mas não está a contar a história toda.

Por um lado, a taxa de desemprego tem a vantagem de poder ser usada em comparações com outros países europeus. Como o Eurostat não procede à recolha de dados, cabe a cada Estado-membro implementar o chamado “Labour Force Survey” — em Portugal é o “Inquérito ao Emprego” — que segue uma metodologia uniforme nos vários países (é aplicado um inquérito com perguntas sobre a situação no mercado de trabalho numa determinada semana — a chamada “semana de referência”).

Até aqui tudo bem, não fosse o facto de a contabilização dos desempregados feita através desse inquérito estar a deixar de fora trabalhadores que, não estando a trabalhar, não são vistos como desempregados. E este é um ‘pormenor’ que faz uma grande diferença em momentos como o que vivemos.

2. … Mas a “subutilização do trabalho” permite uma análise mais completa

Para o INE, um desempregado é alguém entre os 15 e os 74 anos que, no período de referência, preenchia, simultaneamente, os seguintes requisitos:

  • Não tinha trabalho remunerado nem qualquer outro (mesmo que não remunerado);
  • Tinha procurado ativamente um trabalho, remunerado ou não, ao longo de um período específico (no período de referência ou nas três semanas anteriores);
  • Estava disponível para trabalhar num emprego, remunerado ou não.

Basta não cumprir um destes dois últimos requisitos para se considerar inativo. Ou seja, que pessoas não são consideradas desempregadas, mesmo estando sem trabalhar? Por exemplo, uma pessoa que, durante o confinamento, está sem trabalho, mas não pode procurar emprego ativamente devido ao dever de recolhimento ou porque, com o fecho das escolas, tem de tomar conta dos filhos. Ou então que até procura ativamente emprego, mas não estão disponível para trabalhar (por exemplo, porque está doente). Embora esteja desempregada, não o é na ótica do INE — para o instituto, é inativa.

Em 2020, a população inativa com mais de 15 anos foi estimada em 3.737,8 mil pessoas no total do ano, um aumento de 3,5%  — ou melhor: mais 126,8 mil pessoas — face ao ano anterior. Mas se, no segundo trimestre de 2020, a população inativa registou “as variações trimestrais e homólogas positivas mais elevadas da série iniciada em 2011“, o indicador tem vindo a diminuir, sobretudo porque as pessoas que apenas cumpriam um dos requisitos acima descritos, começaram a reunir os dois (por exemplo, devido ao relaxamento das restrições à procura de emprego), logo, passaram a ser incluídas no grupo dos desempregados.

É isso que mostram os números: “De facto, analisando a população inativa dos 15 aos 74 anos que não procurou emprego” verificou-se que “o número de pessoas que não terão feito uma procura ativa de trabalho devido às restrições à movimentação associadas ao estado de emergência e ao dever de confinamento diminuiu 14,6% (14,2 mil), situando-se agora em 82,5 mil“.

O INE tem outras explicações: os números de inativos que não procuraram emprego porque estavam à espera de voltar a ser contratados no emprego anterior, ou que não estavam disponíveis para trabalhar porque tinham de tomar conta de crianças ou idosos, também diminuíram no último trimestre do ano, para níveis semelhantes aos observados no pré-pandemia, aponta o INE.

Mas há um outro indicador que, além da inatividade e do desemprego, agrega outros indicadores importantes para conhecer o que se passa no mercado de trabalho. É a “subutilização do trabalho“, que inclui a população desempregada, os trabalhadores a tempo parcial, os inativos à procura de emprego mas não disponíveis para trabalhar e os inativos disponíveis mas que não procuram emprego. Este indicador pode ser medido com a taxa de subutilização do trabalho.

Em 2020, a subutilização do trabalho abrangeu 751,8 mil pessoas, uma subida de 9% (61,8 mil) do que em 2019, e a taxa de subutilização do trabalho foi de 13,9%, mais 1,2 pontos percentuais do que no ano anterior.  Mas o indicador acompanhou ao longo do ano várias tendências que a taxa de desemprego, sozinha, não reflete necessariamente. Entre o primeiro e o segundo trimestre, a população desempregada diminuiu, “o que foi compensado por um forte aumento do número de inativos disponíveis, mas que não procuram emprego”. Isso levou a que a subutilização do trabalho crescesse.

Já entre o segundo e o terceiro trimestres, a população desempregada “aumentou fortemente” e mais do que compensou a diminuição do número de inativos disponíveis mas que não procuram emprego. A subutilização do trabalho continuou, por isso, a crescer. Só nos dois últimos trimestres do ano, pela redução dos desempregados e do número de inativos, é que o indicador caiu.

A subutilização do trabalho

Em 2020, a população desempregada (350,9 mil) representou menos de metade (46,7%) da subutilização do trabalho e o grupo dos inativos disponíveis mas que não procuram emprego (226,0 mil) “reforçou o seu peso”, representando 30,1% da subutilização do trabalho (mais 5,8 pontos do que em 2019).

3. A população empregada também acrescenta um ponto

Com a pandemia, e as medidas adotadas pelo Governo, o INE passou a estabelecer claramente que os trabalhadores “ausentes do trabalho” por estarem em regime de layoff durante mais de três meses são classificados como empregados “por continuarem a auferir um salário superior a 50% do habitual”. Daí que analisar esta população — mais concretamente, os motivos da sua ausência — também ajude a perceber os impactos da pandemia no mercado de trabalho.

Este ano, depois de um segundo trimestre “atípico, com um número de ausências muito acima da média dos anos anteriores”, reflexo do “forte impacto” do confinamento e de um terceiro trimestre não muito diferente do de anos anteriores, no quarto trimestre as ausências voltaram a estar acima da média.

Quais as razões? Em 2020, a população empregada ausente do trabalho, na semana de referência, foi de 712,8 mil pessoas, “muito acima da média de 397,5 mil no período de 2011 e 2019“. A principal razão para a ausência foi a “redução ou falta de trabalho por motivos técnicos ou económicos da empresa”, onde se inclui o layoff — motivo apresentado por 213,5 mil trabalhadores, ou seja, “25 vezes a média dos anos anteriores (8,4 mil)“. A análise por trimestre mostra, porém, que há cada vez menos pessoas a apontar este motivo.

Também houve, em 2020, mais pessoas a indicar “doença, acidente ou incapacidade temporária” como motivo para não trabalharem (foram 178,3 mil, que compara com a média de 129,3 mil).

Os motivos de ausência no trabalho

A situação de layoff também se refletiu nas horas trabalhadas. No ano passado, a média de horas trabalhadas por semana foi de 31, menos 3 horas do que em 2019. A diferença foi mais expressiva no segundo trimestre, marcado pela primeira resposta à pandemia.

4. E a semana de referência também pode influenciar os resultados

No Inquérito ao Emprego, os técnicos do INE fazem aos inquiridos várias perguntas sobre a “semana de referência”. “As características observadas no inquérito referem-se fundamentalmente à situação no decorrer de uma semana pré-definida (de segunda a domingo), denominada semana de referência”, explica o INE. As semanas de referência “são repartidas uniformemente pelo trimestre e ano”, sendo que as entrevistas “realizam-se, normalmente, na semana imediatamente seguinte à semana de referência”.

Por isso, as respostas dadas reportam à semana de referência, quando a situação no emprego pode mudar rapidamente, e até várias vezes,  em poucas semanas (ou mesmo dias). Assim, a semana de referência pode também não estar a contar a história toda.

5. Como Portugal deixou de cumprir uma meta de progresso

A nível da União Europeia, foi estabelecida uma meta para o emprego, de aumento para 75% da taxa de emprego no grupo etário dos 20 aos 64 anos. O cumprimento desta meta é acompanhado através de indicadores do Inquérito ao Emprego. Só que, com a pandemia, Portugal deixou de cumprir… por poucas décimas.

“A análise dos indicadores de progresso revela que, em 2019, Portugal tinha ultrapassado o objetivo de uma taxa de emprego dos 20 aos 64 anos de pelo menos 75% (foi de 76,1%). Porém, em 2020, em resultado do impacto da crise sanitária no mercado de trabalho, aquela taxa de emprego diminuiu 1,4 p.p. relativamente a 2019, para um total de 74,7%, deixando de cumprir a meta estabelecida por 0,3 p.p.. Em 2011, Portugal encontrava-se a 6,2 p.p. de distância daquele valor”, refere o INE.

Beatriz Ferreira

At https://observador.pt/

Artigo de opinião: “A proteção do jogo e os limites da insanidade: a expulsão de Luis Díaz é a negação do futebol”

“A proteção do jogo e de todos os seus intervenientes é uma premissa fundamental no futebol moderno, recheado de talentos que precisam de ser defendidos de entradas assassinas”, escreve o ex-árbitro sobre o lance entre Luis Díaz e David Carmos, mas “isso não é nem pode ser sinónimo de expulsar qualquer jogador que, sem cometer qualquer falta (e esta é a parte mais relevante aqui), magoe um colega de profissão”

Há muito que FIFA, UEFA e International Board pretendem, com toda a razão, eliminar práticas de jogo violento e qualquer tipo de condutas que ponham em causa a integridade física dos principais atores do jogo. Estes devem ser protegidos de entradas maliciosas ou praticadas com força excessiva e/ou com intensidade/velocidade acima do necessário.

As instruções que os árbitros recebem regularmente vão nesse sentido e fazem todo o sentido.

Regra geral qualquer jogador que não respeite a saúde física do adversário, que “vá por cima” e parta-lhe a perna ou que lhe desloque o maxilar depois de entrada intempestiva, tem que ser mandado embora de imediato.

Mas este tipo de recomendações não podem aplicar-se em todos os lances que resultem numa lesão séria, porque há muitos em que isso acontece de forma absolutamente fortuita e inevitável. Sem que exista sequer falta. E leia-se aqui “inevitável” como algo que nenhum atleta poderia, de algum modo, conseguir evitar em determinado contexto de jogo.

Se assim não fosse, qualquer choque de cabeça que resultasse num ferimento muito sério para um dos atletas, obrigaria à expulsão do outro. E qualquer lance em que um jogador fosse pisado gravemente, por colocar o pé debaixo da bota do adversário que corria para o lance, teria que resultar num vermelho direto para aquele.

Será que é esta a justiça que o futebol pretende? Não. Não é. E se é, não pode ser.

A proteção do jogo e de todos os seus intervenientes é uma premissa fundamental no futebol moderno, recheado de talentos que precisam de ser defendidos de entradas assassinas, grosseiras ou com força excessiva.

Isso não é nem pode ser sinónimo de expulsar qualquer jogador que, sem cometer qualquer falta (e esta é a parte mais relevante aqui), magoe um colega de profissão.

Essa linha – a que separa uma realidade de outra – pode ser ténue e, em certas jogadas, difícil de calibrar. Há lances no limite. Que confundem. Que ficam na fronteira entre atuar e não atuar.

Mas há outros que não.

A expulsão de Luis Díaz é a negação do futebol, porque a alternativa ali era o “não remate”. Era não arriscar marcar o golo. Era abdicar da jogada. Se há lance em que um jogador nada fez a não ser exercer a sua profissão, foi o de ontem.

Não deixa de ser curioso que esta recomendação internacional esteja agora a ser levantada para legitimar a decisão, quando a semana passada nem sequer foi evocada num momento em tudo pior: Kritciuk, guarda-redes da BSAD, colidiu de cabeça com Nanu, num choque arrepiante. O jogador do FC Porto caiu inanimado, esteve inconsciente, saíu de ambulância e foi diagnosticado com concussão cerebral e traumatismo cervical. Tudo igual num lance diferente: ação totalmente involuntária de um lado, consequência terrível do outro.

Porque é que o guarda-redes da BSAD não foi expulso? Ainda bem que não foi, porque não tinha mesmo que o ser. Tal como ontem Díaz também não tinha.

Há não muito tempo, Son (do Tottenham) “colidiu” com André Gomes (Everton) e partiu-lhe a perna de forma inadvertida. Não fez falta nenhuma. Foi azar puro, que resultou numa lesão horrível e prolongada do jogador português. O árbitro, ao abrigo dessa instrução, expulsou o jogador sul-coreano com cartão vermelho direto.

A FA despenalizou-o pouco depois. Sabem porquê? Porque, apesar da terrível consequência, Son não tinha cometido infração, não tinha metido o “pé por cima” nem tinha atuado de forma desrespeitosa para com o jogo ou para com o adversário. Foi um lance normal e inevitável, com azar imensurável.

Percebem a diferença?

Não falta é igual a não cartão. É tão simples quanto isto. Se não for assim, fechem o futebol por favor.

Agora ao que realmente interessa, porque apesar de tudo, é só de bola que estamos a falar.

Primeiro, que David Carmo recupere rápido e bem, porque é um grande talento, um jovem fantástico e merece uma carreira recheada de coisas boas, muito boas.

Segundo, as reações. As reações que se tem visto sãos simplesmente inenarráveis.

Isto já não é apenas doentio, é criminoso. E se é criminoso, a justiça tem que atuar com toda a celeridade e de forma implacável.

Não é aceitável que uma decisão de jogo faça sair da toca pervertidos de toda a espécie. Não é aceitável que funcione como arma de arremesso para se fazerem ameaças graves ou para se divulgarem publicamente dados pessoais de árbitros e respetivos familiares.

Está tudo doido. Primeiro quem potencia tudo isto e depois os energúmenos que o materializam.

O futebol está mesmo doente e os árbitros – numa fase terrível em termos qualitativos – não criam monstros. Eles já existiam e só estavam à espera de sentirem legitimidade para fazer aquilo que fazem melhor: assustar, condicionar, magoar.

São uns canalhas, uns escroques, uns ordinários. Uns bandidos.

A casa está a arder e é preciso fazer alguma coisa. Há muita reflexão para fazer e ações para tomar, porque isto não tende a parar.

Duarte Gomes

At https://tribunaexpresso.pt/