Artigo de opinião: “Os “lambe-cus””

Elisio Estanque 1205557Eles são a contraparte da vontade de bajulação de personagens “importantes” cujos enormes umbigos – e as lambidelas diárias – os fazem sentir-se muito mais importantes do que realmente são.

No Portugal antigo, nos tempos da sociedade rural e do paroquialismo, era a “graxa” que dava “lustro” aos mais poderosos. Mais tarde surgiram os “lambe-botas”; e atualmente, é o tempo dos “lambe-cus”. A espécie não é obviamente um exclusivo do “habitat” lusitano. Mas não tenho dúvidas de que por cá ela germinou, floresceu e hoje multiplica-se a olhos vistos. Isto porque aqui encontra as condições ideais para a sua multiplicação. Os atuais lambe-cus são descendentes dos “lambe-botas”. Não deixa, no entanto, de ser curioso, e aparentemente paradoxal, que os lambe-botas (os pais dos lambe-cus) tenham sido tão combatidos, quase exterminados, com a restauração da democracia, e depois ressurgiram tão vigorosamente. À medida que o regime democrático se foi acomodando às suas rotinas burocráticas e, posteriormente, começou a ser corroído por dentro, eles brotaram das entranhas e estão agora por todo o lado. Digamos que a corrosão da democracia está em correspondência direta com o aumento dos lambe-cus. Porque será que isto ocorre e porque será que o país se tornou um “viveiro” tão fértil para esta espécie?

Na era da escravatura e ao longo do feudalismo a subserviência era uma obrigação. A resignação era intencionalmente fabricada para uso caseiro de soberanos e poderosos. O escravo servia com zelo e dedicação no interior de palácios, fazendas e casas senhoriais, em ambiente mais ou menos despóticos. Nos tempos do salazarismo e do Estado-Novo os “lambe-botas” foram cultivados e cresceram dentro das hostes do regime, nas corporações, no interior das forças repressivas e junto dos grupos dominantes. O aparelho de Estado e a doutrina oficial impunham a obediência geral, pelo que o “lambebotismo” era intrínseco aos bastidores do poder.

Por outro lado, com a chegada da democracia deu-se uma viragem. Houve uma espécie de “PREC” anti-lambebotas. Acresce que nessa fase os cus mais gordos e bem tratados saíram de cena, isto é, ou exilaram-se ou entraram numa espécie de clandestinidade. E isto também porque com a multiplicação do cidadão ativo e ciente dos seus direitos, estas duas subespécies tiveram grande dificuldade em prosperar. O cidadão pleno e emancipado, com a espinha dorsal no sítio, afirmava-se por si próprio e, durante algum tempo, os próprios lideres e dirigentes prescindiram dos lambe-cus e das suas manobras. Esse cenário foi, no entanto, passageiro. Rapidamente se começou a notar a grande resiliência desta camada de gente, que aliás, rapidamente renasceu das cinzas.

Com a entrada na era da tecnocracia (anos oitenta, por aí…), o novo-riquismo apoderou-se das estruturas dirigentes, donde resultou o vazio da política e, em vez dela, cresceu a burocratização e os cargos de decisão reverteram-se nos principais locus de incubação dos novos lambe-cus. Do ponto de vista genético o lambe-cus é despojado de coluna vertebral, ao contrário dos seus antecedentes (os lambe-botas) que ainda tinham algum resquício de coluna, embora torcida e vergada aos seus amos. Na sua versão mais pura, o lambe-cus possui qualidades que lhe permitem detetar à distância onde se encontra o cú mais proeminente e atrativo para ser lambido. Alguns desenvolveram até uma língua bífida, especialmente elástica e hipertrofiada, o que lhes permite lamber vários cús ao mesmo tempo sem que os respetivos donos se apercebam da concorrência. Já quanto ao “caráter” é um atributo que, pelo contrário, se encontra atrofiado ou não existe sequer. O “ego” do verdadeiro lambe-cus só se faz notar quando algum cu poderoso dá sinais de querer ser lambido.  É dotado de instintos caninos. Ele projeta-se totalmente na satisfação plena do seu dono.

É verdade que alguns lambe-cus entram por vezes em desgraça, sobretudo quando, dominados por uma pulsão exibicionista denunciam em público os cus que andaram a lamber. Mas o seu habitat natural são as zonas subterrâneas do poder: as grandes corporações e grupos empresariais, os bastidores da política, dos municípios, das universidades, etc. Em todo o lado onde a cultura burocrática cresceu, os séquitos de lambe-cus proliferam e fazem fila. Muitos tiram benefício material e pessoal da sua atividade, podendo até enriquecer, sobretudo depois de terem ajudado os seus patronos a um enriquecimento milhões de vezes superior ao seu. Mas a sua verdadeira recompensa está no próprio ato de lamber. Sem essa prática, constante e repetida, a sua existência não tem qualquer sentido. Eles são a contraparte da vontade de bajulação de personagens “importantes” cujos enormes umbigos – e as lambidelas diárias – os fazem sentir-se muito mais importantes do que realmente são.

Elísio Estanque

At https://www.publico.pt/

A saúde do Baixo Alentejo e o interior

Pedro-do-Carmo-01Apesar do PS votar diferente, votei a favor da ampliação do Hospital de Beja e da reposição de comboios entre Cuba e Beja.

Para além do sonho e da utopia, a política é sobretudo a arte do possível.
Como arte do possível deve ser sempre um exercício de coerência, de sentido de responsabilidade e de noção da transitoriedade do desempenho das funções públicas, sempre com o foco nas pessoas e nos territórios.
Foi sempre assim que desempenhámos funções políticas e públicas, no plano local e regional.
Tem sido assim que temos exercido o mandato como Deputado na Assembleia da República eleito pelo círculo eleitoral de Beja, nas listas do Partido Socialista.

Desde 2015 que assumimos o desafio de dar expressão à voz dos Baixo Alentejanos, nos termos e com a extensão ditada pela minha consciência, pelo sentido dos compromissos do Partido Socialista com a região e com noção da necessidade de compatibilizar os recursos do país com as necessidades das populações do Baixo Alentejo. Por vezes, com visibilidade, mas, na maior parte das situações, com a discrição do trabalho parlamentar e de articulação com o governo de quem sabe que uma solução é sempre preferível ao mero sublinhar inconsequente de um problema ou de uma ambição.

Ser voz do Baixo Alentejo e dos Baixo Alentejanos significa ser coerente em Lisboa com o que se defende em Beja.

Foi com esse sentido de sempre que, apesar de votos em sentido diverso do Grupo Parlamentar do Partido Socialista, votei favoravelmente o Projeto de Resolução n.º 1677/XIII/3.ª, apresentado pelo PCP, que propõe medidas para que se iniciem os procedimentos para a remodelação e ampliação do Hospital de Beja e o Projeto de Resolução n.º 1103/XIII, apresentado pelo PSD, que recomenda ao Governo que reponha todos os horários dos comboios entre Cuba e Beja.

As expressões locais do Serviço Nacional de Saúde devem assegurar uma base fundamental de cuidados de saúde às populações independentemente das latitudes e longitudes do território nacional, que no distrito de Beja assumem particularidades relevantes que devem estar imunes às mudanças de governos e às dinâmicas nacionais e regionais que possam ser geradas. O Distrito de Beja precisa de ter respostas de saúde adequadas à sua população e às especificidades do seu território.
Os serviços públicos, como acontece com o transporte ferroviário, devem assegurar idêntica base de oferta de mobilidade aos cidadãos, imunes às circunstâncias da conjuntura e dos governos, em sintonia com as necessidades essenciais das populações.

Em função das disponibilidades do país, do apoio parlamentar que suporta o governo e das opções políticas que enformaram o atual quadro comunitário de apoios, Portugal 2020, registaram-se desde 2015 avanços na melhoria das condições de vida, no esforço de valorização de serviços públicos essenciais e na incontornável necessidade de valorizar o Interior e o Mundo Rural.

Muito já foi feito, muito ainda falta fazer, mas estão-se a dar passos.

Continuaremos a trabalhar para ter soluções sustentáveis, realistas e com sentido de futuro para o Baixo Alentejo e para os Baixo Alentejanos. Em coerência e com sentido de compromisso com o mandato recebido dos Baixo Alentejanos.

Pedro do Carmo

At https://www.facebook.com/

Alpalhoense de gema, Nabo Martins nomeado presidente-executivo da APAT

Nabo Martins 11007740_1033905696638309_5948071219493418242_n

A APAT – Associação dos Transitários de Portugal, nomeou António Nabo Martins para o cargo de presidente-executivo. Nabo Martins, que ocupava o cargo de diretor de Regulamentação e Segurança da Medway, irá substituir Joana Nunes Coelho, que em abril tinha sido reconduzida no cargo pela direção liderada por Paulo Paiva.

António Nabo Martins é um dos articulistas residentes da Transportes em Revista e esteve cerca de 30 anos na CP – Comboios de Portugal. Durante oito anos foi o principal responsável pela área do transporte multimodal da CP Carga, acumulando ainda as funções de diretor da divisão de transporte internacional, cargo que também ocupou na Medway, após a aquisição da empresa pública por parte do operador ferroviário detido pela MSC.

At http://www.transportesemrevista.com/

Castelo Branco sobre as portagens da A23

Hortense 31253012_10210194760859326_2449297038613938176_nVotei a favor dos projectos de resolução do PCP e do BE, que recomendavam ao Governo a eliminação das portagens na A23. Esta foi a votação dos deputados do PS eleitos por Castelo Branco, não votando com bancada parlamentar. Assumi mais uma vez este voto, com convição de justiça para com a nossa região e as populações do interior. Esta é a minha conviçao pessoal acerca da justiça para com a nossa região, numa Scut que foi construída em cima do IP aí existente. 

O compromisso eleitoral assumido pelo PS, foi no sentido da redução das portagens, algo que se iniciou já, com descontos de 15% para ligeiros e também para pesados e que tem que continuar. Anunciei uma Declaração de Voto a este respeito, com os detalhes da nossa votação. Mais uma vez, os deputados do PSD eleitos pelo distrito, se revelaram, votando contra. Como aliás sempre fizeram, quando defenderam o principio do utilizador pagador. Neste momento, as votações ainda decorrem, num total de mais de 80 paginas, assim culminando as votações nesta sessão legislativa.

Hortense Martins

At https://www.facebook.com/

Artigo de opinião: “O fim da planície e a morte do azeite: um dos maiores crimes ambientais de Portugal”

Beja IMG_3954

Há muito que não visitava a cidade que me educou e viu nascer: Beja. Recordo-a na imensidão da planície, entre a mutação persistente de um colorido que fazia desta região uma das belas do mundo. Recordo: o verde trigais; o amarelo dos pimpilhos; o branco da magarça; o roxo da sevagem; os cinzas que antecedem a chuva; o vermelho das papoilas… recordo os coelhos, as lebres, as perdizes, os bibes… Recordo o sentido da rotatividade que, contrastando, dava vida ao azul de um céu sempre puro. Um olhar sempre novo. Técnicas ancestrais de exploração da terra, não deixaram perder uma matriz ecológica que protegeu  a planície e permitiu, ao longo dos séculos, alimentar a nação e manteve este lugar insólito como um dos mais belos do Mundo. Lá, onde a vista não alcança, descansava o olhar num horizonte tão longo,  belo e definido.

Fui a Beja e fiquei chocada: petrifiquei o olhar na inexistência da planície. Um extenso olival, onde as árvores eram tantas que não cabiam no terreno ocupado, era apenas intervalado pela vinha plastificada e por intervenções que removeram a camada superficial, de forma profunda, do solo, na sua totalidade.

São visíveis, ainda, alterações a nível da orologia.  Estes terrenos, no espaço de cinco dias,  juntaram-se a outros tantos e deram origem a milhares de hectares de olival.

Não há vida na planície; não há vida nem rochas: removidas repousam num cemitério criado para o efeito. Percorri uma área de 33 km (e sei que a área é muito superior); de  toda a imensidão que ladeia a estrada: existe apenas um superintensivo olival. São milhares e milhares de hectares. Do horizonte já nem há memória; o plantio impede que se vislumbre o que me pareceu: o maior crime ambiental em  Portugal.

Fiquei incrédula com o infindável que a minha vista não alcança e decidi pesquisar: o que se passa na planície de Beja que parece incógnito ao país?

De imediato, percebo a pequenez do que visualizei. A catástrofe é muito mais grave- a ser verdade as parcas notícias de alguns dos principais meios de comunicação portugueses.

De acordo com o que li, a devastação não se limita à totalidade da flora e da fauna; engloba a totalidade do património arqueológico e paisagístico. Centenas (se não mais) de sítios arqueológicos foram profanados e destruídos: uma Necrópole da Idade do Ferro; uma ponte, um aqueduto e uma villa da época romana; um dos mais importantes “recintos de fossos” da pré-história portuguesa e muitos outros, inscritos no Plano Diretor Municipal (PDM) de Beja como área de sensibilidade arqueológica (um dos casos que relato refere-se a uma zona com mais de 18 hectares de importantes vestígios pré-históricos). A intensa mobilização dos solos, deixou visíveis materiais que comprovam a total destruição de (de acordo com o que li) centenas de sítios arqueológicos (no bloco de rega Baleizão-Quintos, as equipas do Impacte Ambiental registaram 193 ocorrências de âmbito arqueológico).

Avancemos,  a minha indignação é muito grande.

Percebi que em Beja não se sai da cidade e as janelas devem estar fechadas. Ninguém viu ou tomou conhecimento do grave atentado ao património que circunda a cidade? É um caminhante que ao deparar-se com a destruição do “povoado da Salvada 10” decide contatar um arqueólogo (a planície, ainda, não viram que já lá não está); e este informou a Direção Regional de Cultura do Alentejo (DRCA). Verificada e constada a sua total profanação:

 “Os proprietários foram identificados e notificados pela DRCA para suspender a intervenção para que fosse avaliada “a extensão dos danos e ponderadas as medidas corretivas” com a indicação de que a “inobservância de providências limitativas decretadas constitui crime” .

Mas não suspenderam e continuam; e continuam numa intensa e total movimentação  dos solos.

É incrível. No Alentejo, conseguem-se esconder milhares e milhares de hectares de um olival superintensivo e as pessoas não vêem o que destroem: “os autarcas de Beja não receberam qualquer pedido para a plantação do olival nem para a instalação do sistema de rega”; os proprietários das máquinas são surpreendidos pelo Jornal  “Público” quando este questiona sobre as profanações; apesar de alegadamente terem destruído património, não sabiam da sua existência e garantem ter cumprido a lei: “implicou rasgos na terra que “não ultrapassaram os 30/40 centímetros”- argumento contrariado pelas dimensões dos socalcos que vi e das rochas retiradas e depositadas no cemitério. A intervenção foi muito além do referido, por toda a planície.

As profanações do património histórico e paisagístico são atribuídas às culturas superintensivas de amendoeiras e olival. No entanto, pelo que observei, a vinha também me parece responsável pela danificação do património paisagístico.

Não se cansem que a história ainda é longa- infelizmente.

Após este primeiro contato com a inércia do país, decidi saber a quem pertenciam as terras e quem as explorava.

Encontrei esta referência relativamente às culturas de amendoeiras: “Prado Portugal S. A. terá arrasado “quase duas dezenas de sítios arqueológicos” para plantar amendoeiras, segundo relata o jornal”

Entre o olival, brilhava um edifício e o nome “Oliveira da Serra”: o edifício é apresentado como o maior lagar do mundo (fica bem a um país tão pequeno); “Oliveira da Serra” é o azeite que sirvo na minha mesa (doeu-me e, não havendo explicação que contrarie tudo o que fui lendo, observando e deduzindo, ficarei envergonhada).

Aqui e ali fui retirando informações. Pouco percetíveis, para mim. Compra-se, vende-se e formam-se grupos; não sabemos quando nem onde e quem fez. Pelo que percebi: a Sovena é proprietária da “Oliveira da Serra” e veicula na sua página : “é em 2007, em parceria com a Atitlan, que se cria o projeto Elaia, cujo objetivo é a plantação de cerca de 10 mil hectares de olival”. Este projeto adquiriu olivais à SOS Corporación Alimentaria- empresa de capitais espanhóis.

O projeto Elaia destinava-se a “criar um dos maiores e melhores” olivais intensivos (200 a 300 árvores por hectare e sistema de rega gota a gota) e transformou-se em culturas superintensivas (de 1800 a 2000 árvores por hectare). Pelas minhas contas: muitos hectares têm mais do que  2000 árvores.

Não sei quem foi; mas sei que a profanação é intensa. Mesmo com o sistema gota a gota o Alqueva depressa se esgotará. Não podemos esquecer que o mar Aral (o maior do mundo) desapareceu em menos de quarenta anos devido ao cultivo do algodão; dele, não restou vida: são os químicos os reis do solo, numa área de milhares de quilómetros. É muito cedo para se saber o verdadeiro impacto da situação, na saúde dos que lá habitaram: uma vez que as mutações genéticas ocorrem essencialmente na quarta geração. Será este o destino do Alentejo? Não. Pelas dimensões da barragem do Alqueva, o Alentejo não terá dez ou vinte anos de vida.

É tão grave a situação que decidi consultar a lei. Faz-me confusão que ninguém reaja ou limite a atuação destes grupos (ou de quem, de facto, está atrás do fim de uma região tão linda). Não consigo perceber os benefícios que a região obtém da destruição do seu património e da contaminação de solos e lençóis de água. Emprego? Li tanto sobre a existência de trabalhadores, oriundos de países estrangeiros, que vivem em regime de escravatura. E quem quer um emprego que signifique o nosso fim, dos nossos filhos, netos… Estará o meu país a destruir-se e a permitir a existência de escravatura para enriquecer grandes grupos? Será que Portugal não vê o impacte ambiental das atividades desenvolvidas? Temos ministro da agricultura? Não percebo nada de política.

Consultei o site do Ministério da Agricultura e partilho o lá veiculado:

“Os compassos a usar dependem da variedade, do solo, da possibilidade da cultura ser ou não regada e do destino a dar à azeitona – azeite ou conserva.

Para azeite devem ser plantadas entre 200 e 300 árvores/ha, devendo as linhas distarem 7 m entre si, para facilitar a colheita mecânica.

Para conserva podemos plantar mais de 300 árvores/ha”

Ops! Senhor Ministro? Não vi sete metros. Sabia que as plantações destinadas ao fabrico do azeite, no Alentejo, são de 2000 ou mais árvores por hectare? Concluo que aquele que era um dos melhores azeites do mundo: passa a óleo de gota do Alqueva com o dobro dos produtos químicos.

E os sobreiros e azinheiras? Há muitos por ali. Consultei o DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 121 — 25 de Maio de 2001

“) Povoamento de sobreiro, de azinheira ou misto —formação vegetal onde se verifica presença de sobreiros ou azinheiras, associados ou não entre si ou com outras espécies, cuja densidade satisfaz os seguintes valores mínimos:

i) 50 árvores por hectare, no caso de árvores com altura superior a 1 m, que não atingem 30 cm de perímetro à altura do peito;”

Ops! Senhor Ministro da Agricultura? A lei não fala em 2000 árvores.

O Diário da Republica pode estar enganado? Porque não se faz cumprir a lei?

“Nos povoamentos de sobreiro ou azinheira não são permitidas:

  1. Mobilizações de solo profundas que afectem o sistema radicular das árvores ou aquelas que provoquem destruição de regeneração natural;
  2. Mobilizações mecânicas em declives superiores a 25%;
  3. Mobilizações não efectuadas segundo as curvas de nível, em declives compreendidos entre 10% e 25%;
  4. Intervenções que desloquem ou removam a camada superficial do solo.”

A camada superficial do solo nem sequer existe.

Artigo 19.º

Embargo

A Direcção-Geral das Florestas e as direcções regionais de agricultura poderão requerer ao tribunal competente o embargo de quaisquer acções em curso que estejam a ser efectuadas com inobservância das determinações expressas no presente diploma.

Artigo 20.º

Medidas preventivas

A Direcção-Geral das Florestas e as direcções regionais de agricultura podem apreender provisoriamente os bens utilizados nas operações ou intervenções em áreas ocupadas por povoamentos de sobreiro ou azinheira, ou por exemplares isolados destas espécies, efectuadas com desrespeito ao disposto no presente diploma e adoptar as medidas destinadas a fazer cessar a ilicitude.

Artigo 22.º

Sanções acessórias

Sempre que a gravidade da infracção ou da culpa do agente o justifique, o Ministro da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas pode aplicar ao infractor as seguintes sanções acessórias:

  1. Perda, a favor do Estado, de maquinaria, veículos e quaisquer outros objectos que serviram ou estavam destinados a servir para a prática da contra-ordenação;
  2. Perda, a favor do Estado, dos bens produzidos pela prática da infracção, incluindo a cortiça extraída e a lenha obtida;
  3. Privação de acesso a qualquer ajuda pública por um período máximo de dois anos.”

Não se espantem: descobri que a plantação de Olival é subsidiada. Pagamos: o fim da planície; a degradação da qualidade do azeite; a poluição; a destruição da fauna, da flora e do património histórico; a existência de escravatura- e, certamente, não referi tudo.

É possível desenvolver uma região sem recurso ao crime e à escravatura- ambos ocorrem, na sua forma gravosa, no Alentejo que vos descrevi.. É esse desenvolvimento que todos queremos. A lei portuguesa não pode aplicar-se, apenas, à pessoa singular. Os grandes grupos tem a obrigatoriedade de a cumprir e o nosso país o dever de os sancionar aquando do incumprimento. De contrário, a legislação portuguesa tem que ser alterada;  deve, obrigatoriamente, referir quais são as leis e quantas pessoas deve ter um grupo para não haver obrigatoriedade no seu cumprimento. Ou seja, definir um número de pessoas, a partir do qual: qualquer ação é considerada “não crime”.

Vamos continuar calados  e a discutir a vida do vizinho do lado?

Sem Sorrisos

Guida Brito

At https://navegantes-de-ideias.blogspot.com/

Artigo: “Aos vinte anos reina o desejo, aos trinta reina a razão, aos quarenta o juízo”

albert-camus-frases

“Envelhecer é o único meio de viver muito tempo.
A idade madura é aquela na qual ainda se é jovem, porém com muito mais esforço.
O que mais me atormenta em relação às tolices de minha juventude, não é havê-las cometido…é sim não poder voltar a cometê-las.
Envelhecer é passar da paixão para a compaixão.
Muitas pessoas não chegam aos oitenta porque perdem muito tempo tentando ficar nos quarenta.

Aos vinte anos reina o desejo, aos trinta reina a razão, aos quarenta o juízo.
O que não é belo aos vinte, forte aos trinta, rico aos quarenta, nem sábio aos cinquenta, nunca será nem belo, nem forte, nem rico, nem sábio…

Quando se passa dos sessenta, são poucas as coisas que nos parecem absurdas.
Os jovens pensam que os velhos são bobos; os velhos sabem que os jovens o são.
A maturidade do homem é voltar a encontrar a serenidade como aquela que se usufruía quando se era menino.
Nada passa mais depressa que os anos.

Quando era jovem dizia:
“verás quando tiver cinqüenta anos”.
Tenho cinqüenta anos e não estou vendo nada.
Nos olhos dos jovens arde a chama, nos olhos dos velhos brilha a luz.
A iniciativa da juventude vale tanto a experiência dos velhos.
Sempre há um menino em todos os homens.

A cada idade lhe cai bem uma conduta diferente.
Os jovens andam em grupo, os adultos em pares e os velhos andam sós.
Feliz é quem foi jovem em sua juventude e feliz é quem foi sábio em sua velhice.
Todos desejamos chegar à velhice e todos negamos que tenhamos chegado.
Não entendo isso dos anos: que, todavia, é bom vivê-los, mas não tê-los.”

Albert Camus

At https://www.contioutra.com/