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Editorial “Linhas de Elvas”: “Sociedade de Animais”

FB_IMG_1595498220588Leu bem o título, sociedade de animais e não sociedade animalista.

Uma nação onde, a diário, os telejornais dão primazia e destaque a notícias sobre salvamento de duas tartarugas, ao resgate de uma gato pela PSP, se arrecadam milhares de euros e toneladas de rações para alimentar animais e se ignora olimpicamente o crescente número de pedintes humanos a viver nas ruas das grandes cidades, é uma sociedade de animais e não animalista.

A prova do que escrevo, e assumo, vai ser a chuva de críticas que imediatamente irão surgir de quem não consegue ler o que acabo de transmitir. Não, não estou contra o salvamento de animais, obviamente luto pelo seu bem-estar e pela condenação exemplar de quem os mal-trata. Mas isso não implica esquecer os seres humanos, aqueles que hoje em dia o politicamente correcto ignora e despreza.

As sucessivas crises financeiras, a ganância humana, os desgovernos eternos a que a sociedade actual tem assistido estão a salpicar as grandes urbes com milhares de pessoas sem qualquer tipo de apoio familiar, sem abrigo, sem carinho, sem amor nem compreensão. São olhados com desdém por quem passa, a não ser que tenham junto a eles um pequeno animal que lhes garanta alimento, pois cheiram mal e instalam-se em frente de montras de roupas luxuosas e isso incomoda esta geração de meninos mimados e arrogantes.

Editorial solidariedade

As televisões, desde as públicas às sensacionalistas e histéricas, só lhes dedicam reportagens nas vésperas de Natal e quando as temperaturas descem abaixo de zero. Adoram mostrar a gratidão pela sopinha, a esmola caridosa que se dá quando chega a autorização dos comandantes da nova ordem mundial e a selfie presidencial. Depois, nos 364 dias que restam de cada ano, as atenções são canalizadas para condenar quem impeça, no entender de tanto intelectualoide, o salvamento de algo que tenha mais que duas patas.

A manipulação da opinião pública, por parte de redes bem organizadas, prontamente abraça causas e condena, na praça pública, quem ouse ir contra os seus ideais. Castigar quem abandona um idoso, um doente, um desempregado, um pedinte? Porquê, se não paga impostos, não está filiado em qualquer sindicato nem sequer se pode levar para casa nem passear à trela? A favor destes ninguém se organiza nem há quem aponte o dedo aos responsáveis por tanta desumanidade.

Vivemos numa sociedade de animais. Que tristeza!

João Alves e Almeida

Director

Editorial é escrito de acordo com a antiga ortografia

Artigo de opinião: “Ao Pingo Doce sabe bem pagar tão pouco”

mariana mortagua_0Um acordo europeu para medidas de urgência de resposta à crise (se existir) não é um ato de “solidariedade” e quem assim o apresenta apenas alimenta uma caricatura: transferências do grupo “frugal”, liderado pela Holanda, para os “esbanjadores”, que Portugal integra.

A ideia da “solidariedade” é errada, em primeiro lugar, porque a UE tem capacidade para financiar um ambicioso plano de recuperação através do BCE, sem exigir qualquer outra transferência entre países.

Em segundo lugar, porque o que os países europeus precisam é de instrumentos para lidar com a crise. A integração europeia eliminou e/ou centralizou esses poderes (como a emissão de moeda) e agora os “frugais” sequestraram-nos. Aos países que necessitem de financiamento, querem impor um programa liberal-autoritário, mesmo se essa não foi a escolha democrática dos seus povos. Uma espécie de servidão por dívida, já não à troika mas agora à Holanda (o que não parece desagradar a direita em Portugal, a julgar pela palavras de Rui Rio). Não deixa de ser irónico que o projeto europeu seja posto em xeque por governos da família socialista, mas esse sempre foi o prognóstico de quem, à esquerda, criticou a UE: uma Europa que, uma e outra vez, falha aos seus povos está condenada ao fracasso.

A ideia de um acordo europeu como ato de solidariedade é, finalmente, errada porque a “frugalidade” que tornaria os Países Baixos moralmente superiores é obtida à custa dos impostos que deveriam ser cobrados em outros países europeus. Todos os anos, o paraíso fiscal holandês cobra 10 mil milhões de impostos sobre os lucros que são desviados dos restantes países da UE. Um regime que nenhum país bloqueia, devido à livre circulação de capitais na UE, e que não é alterado porque os Países Baixos têm o poder de vetar legislação fiscal a nível europeu. Se considerarmos que a contribuição líquida dos Países Baixos para o orçamento europeu é de 4,9 mil milhões, o nosso parceiro “frugal” do centro da Europa é afinal financiado anualmente em 5 mil milhões de euros por estados como Portugal, que veem essa receita desaparecer das suas contas públicas.

Ratos holanda (2)

Esta hipocrisia é a mesma que, ao longo dos tempos, serviu as maiores empresas portuguesas: ao mesmo tempo que exigiam em Portugal leis e regras à medida dos seus interesses, não hesitaram em registar as suas sociedades em Amsterdão. Entre elas estão todas as maiores da Bolsa portuguesa. Em período de crise, o que se pede a essas empresas não é solidariedade. É apenas decência: mudem as vossas sedes para Portugal e paguem cá os vossos impostos.

Mariana Mortágua

At https://www.jn.pt/

Artigo de opinião: “Portugal e a Maçonaria em tempos de pandemia”

Antonio VenturaEste tempo de excepção é para a Maçonaria um tempo extraordinário, sem paralelo, pois, para existir, reclama a essencialidade insubstituível da presença física e da partilha presencial e simultânea do mesmo espaço e do mesmo tempo.

Constitui uma ideia pacificamente aceite que temos vivido tempos de excepção. Tempos de excepção que nos têm privado de comportamentos de proximidade, de comportamentos sociais que são essenciais ao Ser Humano. Numa palavra, temos sido privados de parte da nossa humanidade.

A ausência de proximidade física, a necessidade que temos sentido em estarmos mais distantes, tem feito com que, frequentemente, olhemos para os outros não como parte de uma mesma humanidade, mas antes como um potencial factor de risco a evitar. Todos nós, ao sairmos das nossas casas, em tempos de pandemia, já sentimos essa necessidade de nos afastarmos, de evitarmos os outros, de traçarmos outra rota, condicionados pelo medo que nos assola enquanto sociedade.

A Humanidade enfrenta, por isso, um enorme desafio: recuperar a confiança; uns nos outros, nas relações sociais, nas relações profissionais, nas relações familiares, nas relações de amizade, mas sobretudo nos afectos; ao mesmo tempo que convivemos com um vírus que corrói diariamente essas relações.

Este tempo de excepção é para a Maçonaria um tempo extraordinário, sem paralelo, pois, para existir, reclama a essencialidade insubstituível da presença física e da partilha presencial e simultânea do mesmo espaço e do mesmo tempo.

Assinalámos muito recentemente os 85 anos da publicação da Lei n.º 1901, de 21 de Maio de 1935, que proibia as “sociedades secretas”. O projecto inicial, da autoria do deputado José Cabral, foi apresentado em 19 de Janeiro na Assembleia Nacional – a primeira do Estado Novo –, destinado a proibir as associações secretas e punir os que a elas pertencessem, obrigando os funcionários do Estado e dos corpos administrativos, civis e militares, a declarar por sua honra que não pertenciam nem jamais pertenceriam a tais associações, obrigatoriedade que também era exigida aos alunos de qualquer grau de ensino pertencente ou subsidiado pelo Estado, a partir dos 16 anos de idade. Depois do parecer favorável da Câmara Corporativa, em 27 de Março, foi votado e aprovado por unanimidade em 6 de Abril.

Começava uma nova época para a Maçonaria Portuguesa, que teve de combater o triunfo momentâneo das forças do obscurantismo, da intolerância e do fanatismo.

Mas nem mesmo nesse tempo fomos privados da egrégora fraterna que nos eleva, pois, mesmo na clandestinidade, apesar dos riscos daí decorrentes, havia a cumplicidade da partilha presencial do mesmo tempo e do mesmo espaço.

No caminho para a recuperação da confiança, colocam-se à sociedade portuguesa – tanto quanto a outras – exigentes tarefas que importa enfrentar e que devem merecer o trabalho dos democratas em geral e de cada um dos maçons em particular, enquanto cidadãos empenhados na construção do bem comum, numa intervenção na sociedade que, não sendo orgânica, não pode nem deve deixar de ser feita.

Os tempos difíceis que enfrentamos afectam e continuarão a afectar de forma decisiva a nossa vida em comunidade. Aos que, como os maçons, encontram na democracia o caminho para a realização social impõe-se uma vigilância e uma actuação permanentes, face à nova realidade que vivemos

Vejamos seis tarefas que reputamos como essenciais.

A pandemia chamou-nos a atenção, de forma dramática, para a essencialidade da existência de um Serviço Nacional de Saúde, enquanto instrumento fundamental da promoção da dignidade humana e da igualdade entre os cidadãos. Abstraindo-nos das opções políticas concretas tendentes ao alcance desse desiderato, nas quais não nos imiscuímos, consideramos que esta é uma matéria em relação à qual se torna imperativo promover uma cultura de compromisso na sociedade portuguesa.

Os tempos difíceis que enfrentamos afectam e continuarão a afectar de forma decisiva a nossa vida em comunidade e terão sérias consequências nos planos económico, financeiro e social.

Aos que, como os maçons, encontram na democracia o caminho para a realização social impõe-se uma vigilância e uma actuação permanentes, face à nova realidade que vivemos.

Desde logo, combatendo, por todas as formas, os populismos e os extremismos de todos os matizes que, historicamente, tendem a crescer em períodos de excepção como o que vivemos e que também tenderão a crescer na sociedade portuguesa, quer de forma mais organizada, quer de forma mais inorgânica, mas igualmente preocupante.

Por isso, é imperioso continuar, como sempre temos feito, a defesa intransigente dos direitos, liberdades e garantias, que, também historicamente, nas épocas com maior propensão securitária, tendem a ser colocados em causa.

A crise económica e financeira que se desenha e que já afecta muitos dos nossos concidadãos trará, inevitavelmente, sérios problemas sociais, com o aumento dos níveis de desemprego à cabeça. A firme defesa da coesão social, as preocupações com os mais desfavorecidos e com as novas formas de pobreza são questões que nos devem ser particularmente caras, de forma a que, no progresso colectivo, “ninguém fique para trás”. Os números dos mortos, dos internados, dos infectados, dos desempregados, dizem respeito a pessoas concretas, a dramas pessoais e humanos concretos, que exigem a nossa atenção.

Esta crise multifacetada, económica, financeira e social, afectará a sociedade portuguesa de forma marcante e, para a sua resolução, impõe-se uma prática de intervenção pública e cívica centrada nos problemas, de forma a que os interesses da colectividade prevaleçam sobre os interesses individuais ou de grupo, com base numa promoção de inevitáveis compromissos, de que os maçons não se devem alhear, como homens que devem promover o diálogo no seio da Humanidade.

Por fim, as referidas crises afectarão a sociedade portuguesa num momento em que se tem assistido, ao longo dos últimos anos, a um enfraquecimento geral do peso das instituições, aliado a uma incapacidade crescente de renovação e de envolvimento das novas gerações. Impõe-se, por isso, uma intervenção cidadã e empenhada nas diversas instituições da sociedade portuguesa, fortalecendo-as. Impõe-se ainda uma credibilização dos actores públicos e devolução do sentido de nobreza à gestão da coisa pública. Ao fazê-lo fortaleceremos o país.

Cremos que a materialização deste “caderno de encargos” – valorização do Serviço Nacional de Saúde; combate aos diversos populismos e extremismos; defesa dos direitos, liberdades e garantias; defesa da coesão social; preocupação com o bem comum, assente numa cultura de compromisso; fortalecimento e renovação das instituições – contribuirá para a reconquista da confiança na sociedade portuguesa, objectivo que é de todos os democratas, mas também da Maçonaria. Como afirmava Magalhães Lima, em 1907, após a sua eleição como grão-mestre, “É precisamente para fomentar a confiança entre os homens que existe a maçonaria”.

António Ventura e Carlos Vasconcelos

At https://www.publico.pt/

Os Verdes amanhã em Elvas em contestação contra Almaraz

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☢️ ALMARAZ

ENCERRAR #ALMARAZ! – Amanhã em #Elvas – Voz de Os Verdes na Abertura das Fronteiras!

🌻 #OsVerdes marcarão presença, amanhã de manhã, durante o decorrer das cerimónias oficiais de reabertura das fronteiras, junto ao Caia, em Elvas, a exigirem o encerramento de Almaraz.

Leia aqui: http://www.osverdes.pt/pages/posts/encerrar-almaraz—amanha-em-elvas—voz-de-os-verdes-na-abertura-das-fronteiras-11095.php

At Facebook

Artigo de opinião: “Demissão”

Luis GodinhoO velho pescador cubano – Santiago, de seu nome – está há vários meses sem conseguir pescar um único peixe, apesar de todos os dias sair para o mar. “Era um velho que pescava sozinho num esquife na corrente do Golfo e saíra havia já por oitenta e quatro dias sem apanhar um peixe”. Quando a sua sorte muda, um enorme espadarte morde o isco e arrasta o barco para alto mar, para longe, cada vez mais longe, da costa. Santiago conseguirá capturar o animal mas será subjugado pelo destino no decurso do longo regresso a casa.

“O Velho e o Mar” é uma ode poética à coragem humana, um dos mais comoventes romances de Ernest Hemingway. Valeu-lhe o prémio Pulitzer em 1953. No ano seguinte seria distinguido com o Nobel da Literatura. “O Velho e o Mar”. Li-o pela primeira vez ainda adolescente. Era, aliás, um dos livros de leitura obrigatória no secundário – não sei se continuará a sê-lo. “Por Quem os Sinos Dobram” – um relato impressionista da guerra civil espanhola – é outra das obras que me tem acompanhado ao longo da vida. “Se era assim, bem, era assim. Mas que lei me obriga a aceitar isto? E nunca pensei que pudesse sentir o que estou agora a sentir. Nem que isso me pudesse acontecer”. O livro é de 1940. E, três anos depois, ainda Hitler dominava boa parte da Europa, Sam Wood adaptava-o ao cinema, num belíssimo filme com Gary Cooper e Ingrid Bergman.

“O Velho e o Mar”, com o pescador Santiago, e “Por Quem os Sinos Dobram”, a trágica história do americano Robert Jordan por terras de Espanha, integrado nas brigadas internacionais que resistem ao avanço das tropas fascistas de Francisco Franco… até ao início da pandemia era este o meu conhecimento – muito limitado, reconheço – da obra de Ernest Hemingway. E eis que com a covid-19, o confinamento e as compras online, lá surge por inesperada obra do acaso a oportunidade de uma leitura de toda a obra – ficção, não ficção, contos e pequenas histórias – de um dos mais marcantes escritores do século XX, em novas edições da Livros do Brasil. “Às vezes, a verdadeira vitória não se pode mostrar, nem a verdadeira coragem é tão visível ou evidente quanto se pensa”. Hemingway.

Foi assim, como que por acaso, que descobri a genialidade de obras como “Ilhas na Corrente” (1970) ou “Na Outra Margem, Entre as Árvores” (1950), além, é claro, de “Fiesta – O Sol Nasce Sempre” (um romance de 1926 centrado nas festas de Pamplona) e de “Verão Perigoso” (1960), livro que resulta de uma encomenda da revista “Life” que lhe atribuiu a missão de narrar os acontecimentos extraordinários do verão de 1959, quando dois dos mais célebres toureiros de todos os tempos – António Ordóñez e Luís Miguel Dominguín – se defrontaram nas arenas de Espanha.

Claro que Graça Fonseca, a senhora que está como ministra da Cultura, não deverá apreciar a obra de Hemingway. Mas sendo ministra, e da Cultura, não é aceitável que continue a tentar impor os seus preconceitos. A tauromaquia é uma arte, tutelada enquanto tal pelo Ministério da Cultura. O Campo Pequeno abriu para deixarmos o pimba em paz. Também é tempo de Graça Fonseca deixar a tauromaquia, e já agora o mundo rural, e já agora a cultura, em paz.

Luís Godinho

At Diário do Alentejo

Faleceu José Chambel Tomé

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NOTA DE PESAR

A UGT Portalegre, através do seu Secretariado distrital e restantes Órgãos Sociais, vem por este meio manifestar o mais profundo sentimento de pesar pelo falecimento, durante a noite de hoje, do seu anterior Presidente, José Chambel Tomé, numa altura em que esta organização regional completa 10 anos.

Fundador da UGT Portalegre a 17 de Abril de 2010, foi seu Presidente durante dois mandatos, com eleição para um segundo mandato em 10 de Maio de 2014, de que decorre a inauguração da actual sede a 30 de Outubro de 2015, tendo desenvolvido as actividades na organização durante os mandatos nacionais dos Secretários Gerais João Proença e Carlos Silva.

Neste momento de dor, a UGT Portalegre solidariza-se com a sua esposa, filhos e netos, e restante família e amigos, a quem apresenta as mais sentidas condolências, e agradece todo o trabalho e dedicação prestados a esta organização ao longo destes anos.

O Presidente da UGT Portalegre

Marco António Barreto Lourenço de Oliveira

Artigo de opinião: “Votar no Marcelo? Não, obrigado”

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Tendo nascido em 2002, as eleições presidenciais de janeiro de 2021 serão as primeiras eleições em que poderei votar. O sufrágio universal e a democracia são conquistas indispensáveis para a concretização de uma sociedade justa, e cabe à minha geração lutar por essa mesma sociedade e dar uso aos direitos que tanto suor custaram.

Como penso por mim mesmo e nunca segui modas e tendências momentâneas, não votarei Marcelo Rebelo Sousa. E não votarei por motivos morais, ideológicos e sociais.

Creio que sempre que falamos do nosso Presidente devemos nos recordar que figura política ele foi no passado (e continua a ser). Falamos de um político que avançou com uma plataforma, denominada de “Assim Não”, contra a despenalização da interrupção voluntária da gravidez (IVG). Segundo a interpretação de Marcelo Rebelo de Sousa, a mulher podia fazer um aborto, mas apenas às escondidas, nas condições em que pudesse pagar e arriscando-se a ser presa ou a morrer por complicações de saúde. Na prática, podia abortar num sítio sem o mínimo de condições higiênicas, mas nunca num local seguro e com as melhores condições de segurança e de dignidade. Ainda bem que a população não deu ouvidos a Marcelo e votou a favor do sim. Os ganhos da IVG são claros: zero mulheres mortas após a legalização da IVG e uma descida significativa no número de abortos em Portugal.

Mas as opções que Marcelo toma durante a presidência também nos devem preocupar. Como atravessaria este país a atual pandemia que vivemos, caso houvesse mais Parcerias Público Privadas na saúde, como o nosso presidente defendeu? O que seria deste país, nesta e noutras crises de saúde, sem a atual Lei de Bases da Saúde, que Marcelo Rebelo de Sousa se manifestou profundamente contra? Questiono-me igualmente se Marcelo, após o desastre levado a cabo por Bolsonaro nesta pandemia, continua a ter a mesma opinião que teve o ano passado, dizendo após uma reunião com o Presidente do Brasil que se tratava de “um encontro de irmãos”.

A minha geração, felizmente, tem uma visão do mundo mais progressista e ampla que a dos nossos pais. Visão essa que aceita o direito à diversidade sexual e de identidade de género. É pena que Marcelo Rebelo de Sousa aparente não o aceitar. Tanto aparenta que até vetou uma lei que permitia o “alargamento da possibilidade de mudança de identidade de género, tornando-a independente de qualquer avaliação clínica e passa a incluir os menores acima dos 16 anos no regime que se estabelece para os cidadãos maiores”. Mas, afinal, quem melhor que nós próprios para decidir quem somos e como nos queremos apresentar ao mundo?

No fundo, Marcelo Rebelo de Sousa é uma espécie de lobo em pele de cordeiro, que abraça meio mundo e dá muitos beijinhos, mas que estruturalmente é um homem alinhado com a política de centrão (tanto que já foi líder do PSD!) e que protege sempre os interesses do status-quo. Marcelo não representa nem a mim, nem às gerações que anseiam por prosseguir o caminho para um país mais livre e mais justo. Pode e será difícil tirar este populista astuto do poder, mas todos os votos contarão, um a um.

É tempo de mudança.

Eduardo Couto

At https://correiodafeira.pt/

Opinião: “Falta de decência”

Conferência de imprensa sobre a Fase final da Liga dos Campeões em Portugal

Era uma vez um país em que um quinto dos seus cidadãos vivia na pobreza ou no seu limiar, que tinha recebido milhares de milhões de euros por ano em transferências de fundos europeus, que mesmo assim tinha conseguido ir à falência, e que depois disso continuava a aumentar a sua dívida em várias dezenas de milhares de milhões euros por ano.

Nesse país, um dia reuniram-se as três principais figuras de Estado para anunciar pelas televisões ao país que – orgulho! – a Final da Champions seria realizada na nossa capital!!

Dizem que o tipo que escrevia os discursos do PM lá do sítio não jogava com o baralho todo, coitado. Os pais eram primos direitos e ele babava-se um bocado, mas tinha sido o melhor no ensino especial. Deixavam-no andar por ali porque ajudava a preencher as quotas para que a equipa de assessores fosse inclusiva.

O discurso tinha de mostrar ao país que esta grande conquista – não, não tínhamos nenhum astronauta na ISS, era muito melhor do que isso – era uma conquista de todos os cidadãos. O gajo adorava bola e estava em êxtase. Ele latejava de inspiração e o teclado já estava em brasa.

Se estivéssemos a atravessar mais uma época de incêndios, esta fantástica e maravilhosa conquista seria um prémio para os nossos bombeiros, os nossos heróis, mas como ainda não está a fazer calor… então ia bem era para os profissionais de saúde, pronto! Isso sim, era uma boa ideia. As palmas na varanda já lá vão. Eles mereciam alguma coisa objectiva e de efectivo valor. Era por isto que eles ambicionavam!

Felizmente o chefe dos Spins leu o discurso antes de o passar para as mãos do PM e achou que afirmar que este evento “era um prémio merecido para os profissionais de saúde” seria ofensivo para os próprios, riscou a frase e, à costa da mão, deu uma bofetada ao anormal que a tinha escrito.

E assim o último limite da decência foi salvo.

Paulo Sousa

At https://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/

Artigo de opinião: “Raios, a Inquisição fica-nos tão bem!”

Tanta vez que já escrevi sobre esta realidade, na altura tão remota, do medo que tinha de ver isto a acontecer… E que fizemos? Pouca coisa…

Podia chamar-lhes “filhos de uma grande meretriz”, “ingratos do baralho”, e podia continuar, mas acho que por hoje já é mais que suficiente…

Temos estado só a observar e a tentar digerir tanto tema, tanto assunto, tanta má notícia. Recorrentemente somos obrigados a assistir às sistemáticas faltas de educação da ministra para com esta “nossa” arte, estamos já todos cansados disto.

Hilariante e humilhante para os próprios, foi a sondagem do PAN, pobres coitados, saiu-lhes o tiro…

Sempre existiram ideologias atrozes ou ridículas, mas a mais moralmente
hipócrita numa sociedade que se alimenta fundamentalmente de animais, é o animalismo, levados por interesses puramente comerciais, como o do Bio e do Eco etc… Estes ditos “conceitos” terminados em “os”, onde é que andam agora?

Pois, não quero nem um piu, já se viu que afinal o gado não tinha culpa nenhuma no assunto!

Como diz o admirável e sempre apaixonado Dr. Joaquim Grave na sua brilhante reflexão: “Não me canso de dizer que o futuro do toureio estará a salvo quando a nossa realidade ecológica imprescindível seja conhecida, compreendida, aceitada e positivada pela sociedade portuguesa. (…) Esta é a nossa arma secreta e por muito que nos surpreenda, ninguém a conhece. Hoje não nos reconhecem como ecologistas, mas sim como mal tratadores de animais.”

Agora aprendam, se conseguirem!

A tauromaquia é o exercício de liberdade de um ritual, com um sentido profundo, mas que enfrenta uma sociedade que quer ser asséptica, inodora e incolor, e que estamos a ser engolidos pela globalização por uma cultura que não quer falar da morte, quando a tauromaquia é vida e morte. Tudo se resume a uma leitura superficial e hipócrita…

A tauromaquia nem sequer é um tema, não é uma questão, é o não assunto da banalidade – como não é assunto a gordura, a altura, o penteado ou a classe social, que produz todo o tipo de exemplares. 

Assim tem vindo a ser tratada… Assistimos a um protesto dos nossos profissionais no Campo Pequeno e bem, mas desde a história do IVA e da sinalética nas ruas em Lisboa que já se adivinhava o pior. Foi só aproveitar a maré, e o maldito vírus fez o resto do trabalho sozinho!

Será que agora é que as personagens estão a sair debaixo das pedras? – para o bem e para o mal, anda tudo a sacudir a vida e até a sanidade. Venha vida nova, vamos acreditar!

Só que entretanto, atiram-nos umas migalhas para nos sossegar e aguardar, como sempre.. Andam a brincar com gente séria que se manifesta de forma digna, atirando tostões para calarem os insurgentes.

Geração mimada de vidrinhos, qualquer coisa, ficam ofendidos e partem-se e amuam e destroem tudo o que não gostam. Ah esperem, na Inquisição também era assim…

Bem-vindos à Idade Média, pessoal! Isto está a ficar um mimo!

Onde é que andam os “Je suis” agora? Qual é a diferença entre ser terrorista islâmico ou nacional se destroem estátuas e culturas na mesma e são só primatas? É a causa que os distingue? Ou não é politicamente correcto?

É a mesma treta das minorias, mas quem é quem para achar o outro precisa de ser protegido em tom paternalista? Porque é superior? Desculpem lá, mas daqui à censura total é um tirinho, e apagar a História toda, outro!

Cá para mim, não passam de pessoas que não gostam delas, estão
militantemente deprimidas, descarregam nos outros e inventam “causas”, as tais que abominamos.

Mas as nações não se fazem com os erros? Temos que ser protegidos da História também? Mas que diabo, onde foi que errámos como sociedade para se chegar ao ponto de existirem criaturas que não entendem que não podem alterar e muito menos reescrever a História?

E tudo o que magoa, tudo o que não se gosta, solução, apaga-se! Perfeito, cambada de vidrinhos assépticos, primatas, egoístas, hipócritas e o pior de tudo, ignorantes!

São os mesmos que aplaudiam os polícias no início da pandemia e agora os maltratam?

Deviam todos, mas todos, ir limpar as estátuas com álcool gel para ser mais difícil e ir para o campo, dar beijinhos a toiros bravos, e só saírem de lá quando conseguirem.

E sem qualquer tipo de pretensão sindicalista, ou nos juntamos à séria e defendemos a Festa, ou estamos a caminho do que já tivemos o infortúnio de vislumbrar.

Não sou ninguém para fazer o que quer que seja, mas sou mais uma! E mais uns e mais umas, fazem muitos!

Vamos deixar de lado o “não-quero-saber”, abandonar a carneirada, arregaçar as mangas e fazer alguma coisa? Ou vamos continuar a colocar arco-íris coloridos à janela e acreditar que vai ficar tudo bem?

Em Espanha foi o que se viu, multidões na rua, a reter do discurso para lá de lúcido e assertivo, “Somos el mundo del toro, somos brutos y sabios, del sol y la sombra, de derechas y de izquierdas. Somos de la calle, de la cuerda y de la plaza” 

“Nuevos poderosos, en nuevos tribunales de inquisición, pretenden de nuevo prohibirnos. Pero tampoco podrán, porque la cultura no se censura, la cultura no se puede limitar, la cultura no se puede reprimir”.

Nada disto é talento ou fatalidade. 

E se algumas vezes fico triste por ser portuguesa por conta deste lixo eleito que nem todos fizeram por merecer, não duvido que este é o princípio do seu fim.

Vai ter de ser, acredito no poder evolutivo de todas as coisas, eternamente ligadas pelo mesmo umbigo da terra, e não pseudo-coisinhos-prepotentes-e-nada-democráticos.

Encolher os ombros não melhora o mundo, este não muda sozinho, muito menos o faz avançar. Sejamos a pessoa que queremos à nossa volta. Sempre. 

Os Espanhóis defendem o que é “nosso” com unhas e dentes, e nós? Vamos ser os Ingratos deste Baralho?

Ester Tereno