Leu bem o título, sociedade de animais e não sociedade animalista.
Uma nação onde, a diário, os telejornais dão primazia e destaque a notícias sobre salvamento de duas tartarugas, ao resgate de uma gato pela PSP, se arrecadam milhares de euros e toneladas de rações para alimentar animais e se ignora olimpicamente o crescente número de pedintes humanos a viver nas ruas das grandes cidades, é uma sociedade de animais e não animalista.
A prova do que escrevo, e assumo, vai ser a chuva de críticas que imediatamente irão surgir de quem não consegue ler o que acabo de transmitir. Não, não estou contra o salvamento de animais, obviamente luto pelo seu bem-estar e pela condenação exemplar de quem os mal-trata. Mas isso não implica esquecer os seres humanos, aqueles que hoje em dia o politicamente correcto ignora e despreza.
As sucessivas crises financeiras, a ganância humana, os desgovernos eternos a que a sociedade actual tem assistido estão a salpicar as grandes urbes com milhares de pessoas sem qualquer tipo de apoio familiar, sem abrigo, sem carinho, sem amor nem compreensão. São olhados com desdém por quem passa, a não ser que tenham junto a eles um pequeno animal que lhes garanta alimento, pois cheiram mal e instalam-se em frente de montras de roupas luxuosas e isso incomoda esta geração de meninos mimados e arrogantes.
As televisões, desde as públicas às sensacionalistas e histéricas, só lhes dedicam reportagens nas vésperas de Natal e quando as temperaturas descem abaixo de zero. Adoram mostrar a gratidão pela sopinha, a esmola caridosa que se dá quando chega a autorização dos comandantes da nova ordem mundial e a selfie presidencial. Depois, nos 364 dias que restam de cada ano, as atenções são canalizadas para condenar quem impeça, no entender de tanto intelectualoide, o salvamento de algo que tenha mais que duas patas.
A manipulação da opinião pública, por parte de redes bem organizadas, prontamente abraça causas e condena, na praça pública, quem ouse ir contra os seus ideais. Castigar quem abandona um idoso, um doente, um desempregado, um pedinte? Porquê, se não paga impostos, não está filiado em qualquer sindicato nem sequer se pode levar para casa nem passear à trela? A favor destes ninguém se organiza nem há quem aponte o dedo aos responsáveis por tanta desumanidade.
Vivemos numa sociedade de animais. Que tristeza!
João Alves e Almeida
Director
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