Opinião: “Lembram-se?”

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Alguns não se lembram, outros nem se querem lembrar, muitos desconhecem. Por esta época, nas revistas “do social”, era o período áureo das festas de verão, dos “dias nacionais” das embaixadas lisboetas, dos que “recebiam”, era o início dos eventos chiques da “saison” algarvia, um mundo cheio de nomes sonantes, uns porque sim, outros porque eram repetidos à exaustão. A Comporta só veio mais tarde, o norte nunca foi muito “in”, salvo no registo de quem ia para os nevoeiros nobilitadores do Moledo.

Era o Portugal “dourado” da época, assente nos fundos europeus e na nova classe política, das fortunas antigas ou do dinheiro novo, das empresas na moda. Era o estatuto no novo regime. Em noites resplandecentes, eles estavam de smoking ou de calças vermelhas e camisas abertas até à cruz no peito, elas, “produzidas”, de longos cabelos loiros, peles escurecidas, sorrisos de circunstância, guarda-roupa muito cuidado. Alguns lutavam para aparecer nessas ocasiões e para a sua presença ser citada, às vezes pelos “nick names”. Os menos poderosos e mais arrivistas metiam cunhas aos fotógrafos ou a umas senhoras que iam dando indicações sobre de quem guardar a imagem para essa efémera posteridade, se me permitem a contradição. Outros estavam lá pela ordem natural dessas coisas, pelo apelido, pela “função” social, porque sim. Depois, com maior ou menor destaque, lá saíam todos, em papel “couché”, no “Olá Semanário” e revistas parecidas, num arremedo do que se fazia em Espanha, uma terra com mais aristocracia e “grandes” para mostrar.

Nos dias de hoje, a “Olá”, que até chegou a ter graça, desapareceu já há muito, mas surgiram entretanto os seus sucedâneos, mais modestos mas, nem por isso, menos coloridos. Ainda apareciam nas fotografias as crianças, hoje, pudicamente, com as caras glicerinadas, como nos quadros do Noronha da Costa. A sociedade – que, a certa altura, tinha já sido substituída por reportagens de casamentos e batizados de ignotas famílias, que pagavam o frete a metro – deixou definitivamente o lugar aos atores e atrizes das telenovelas, aos futebolistas, às figuras televisivas, aos saídos dos “big brother”. Reportam hoje separações, óbitos, azares, doenças, namoros, ciúmes, intrigas, perdas de emprego, programas que começam ou acabam, coisas assim. Para quem não segue muito esses mundos, chega a não ser fácil saber quem é essa “beautiful people” de nova extração. Mas que há quem ainda goste, lá isso há!

Por que me lembrei disto? Foi ontem, ao ver nas televisões as imagens de arquivo do caso BES. Recordei-me que há um mundo que, por um novo e receoso pudor, temente à inveja que campeia e à crítica raivosa da ostentação dos outros, tida como ofensiva para as desigualdades, passou a viver as suas festas atrás de muros e a ter uma vida social em voz mais baixa. Hoje, mostrar os cavalos ou os carros de última gama, as festas de champanhe e caviar, ostentar as jóias e tudo o que possa ser lido como sinais exteriores de riqueza, como belas mansões e até excessiva alegria passou a não estar no “l’air du temps”, no politicamente correto. É uma hipocrisia, deixemo-nos de coisas!, mas é assim mesmo. Essas pessoas passaram a ter de ser mais discretas, mais contidas na exposição da sua imagem. É a nova vida!

Francisco Seixas da Costa

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