Trabalho destacado na UE: Macron ataca-nos > defendemo-nos?

O Sr. Emmanuel Macron, Presidente da República de França, propõe-se piorar até Outubro a Diretiva  sobre o destacamento de trabalhadores, diminuindo o número de anos de duração autorizado às empresas a pagarem o salário nos países de destino e apertando a fiscalização. Anda pela Europa de Leste a tentar persuadir os países do grupo de Visogrado: teve êxito na Eslováquia, ignoramos a posição checa, a Hungria, a Polónia e a Roménia rejeitam. E o nosso governo como se posiciona? Ninguém sabe.

A questão é pertinente: Portugal é o país com mais trabalhadores destacados em França, depois da Polónia e da Roménia. Em proporção da população, somos os primeiros. A Diretiva interessa por isso aos países com salários mais baixos. Com a oferta de trabalho destacado na União Europeia  (EU),  aumentará o desemprego no nosso país.

O regime de destacamento da UE interessa sobretudo aos países de mais baixos salários.  Para o verificarmos, basta ver a posição daqueles três países no gráfico acima, que mostra os salários anuais na UE. A França está convencida que os seus patrões  não pagam os salários franceses aos assalariados portugueses: pensa que paga menos. É a lógica de criminalizar os empresários, à qual agora e inesperadamente adere o empresariozinho Macron. Talvez isso aconteça, mas a França nunca se deu à maçada de provar essa tese. Sucede que as contribuições patronais obrigatórias por assalariado são mais altas em França: 31%, contra 22% em Portugal e na Polónia, 25 na Roménia (dados de 2009). Esta diferença basta para explicar racionalmente  que os patrões franceses  queiram aumentar estes destacamentos. Para os assalariados, nem vale a pena explicar: os seus vencimentos mais do que dobram. Anotemos que estes destacamentos são odiados pelos sindicatos franceses.

A própria existência do trabalho destacado mostra a hipocrisia das regras da UE.  A liberdade de circulação de trabalhadores é uma das três liberdades básicas, ao lado das de circulação de capitais e de mercadorias. Se houvesse liberdade de circulação de trabalhadores, tal Diretiva seria desnecessária. Mas não há: os Estados-membros, aliados aos respetivos sindicatos, dificultam a circulação de trabalhadores oriundos, sobretudo na França, Alemanha, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Áustria.

O destacamento UE é uma das raras medidas de liberalização do mercado de trabalho dos países de altos salários. Por isso Berlim o consente e promove.  É uma válvula de segurança no proteccionismo europeu. O Sr. Macron foi eleito com um programa de liberalização do mercado de trabalho, que em geral está a tentar cumprir. Devia por isso propor o alargamento do âmbito de aplicação do destacamento. Porque viola os seus princípios? O Sr. Macron comprometeu-se a aprovar a liberalização das leis laborais francesas e não tem nada para dar aos sindicatos. De momento, todas as centrais sindicais estão contra ele, o que será politicamente insustentável, quando a sua popularidade pessoal já caiu para 34%. Procura em casa dos outros as pratas com que pagará as suas dívidas.  Como não lhe convém invocar esta triste realidade, foi ao leste europeu invocar os grandes princípios: o destacamento é «uma traição a ideal europeu». A avaliar pela imprensa e pela televisão francesas, não cuidou de especificar o ideal violado. O da livre circulação não é com certeza. Compreende-se que o Sr. Macron acuse a UE inteira de violar os seus princípios: ele viola os dele. É uma banal projeção freudiana.

Sabemos que o Sr. Macron está disposto a pagar esta retirada de direitos: ofereceu aos romenos a entrada no espaço Schengen e a discussão do transporte rodoviário de mercadorias. Nós já apresentámos a nossa conta ou em alternativa procurámos formar uma minoria de bloqueio? 

At https://oeconomistaport.wordpress.com/

Mais informações sobre este destacamento UE:

http://www.act.gov.pt/(pt-PT)/CentroInformacao/DestacamentoTrabalhadores/Vai%20trabalhar%20destacado%20Vai%20trabalhar%20destacado%20para%20o%20estrangeiro/Paginas/default.aspx

Artigo de opinião: “Um gajo que, assim a modos que…”

Marcio 14192627_10206303446739292_603832029436918451_nAviso desde já que não funciono em termos de moda. Arrogo-me, no entanto, que entendo um nadita de arte. Como acho que fazer trapos bonitos, novos e vistosos, pode ser uma arte, interesso-me pela coisa. E vai daí, curioso, persistente e vaidoso como sou, não desisti enquanto não percebi de tecidos, padrões, tendências, história das principais casas de alta costura e outras cenas adstritas. E como não sei fazer uma música a olhar para uma blusa ou uma saia, (d)escrevo-as.

Tenho uma amiga que diz e repete que, se eu não fosse jornalista e maledicente, a única coisa que me via a fazer para ganhar a vida era a inventar vestidos de senhora. Acho redutor, porque também sei fazer amêijoas ao natural e encher um depósito de gasolina. Mas compreendo a ideia da moça.

O que é mais estranho em mim, digo eu que ninguém nos ouve, é que, sendo eu manifestamente heterossexual, nem foi por causa das giraças que comecei a olhar para as revistas. Não, eu interesso-me desde a mais tenra idade por roupa. Mesmo. Aqui há uns anos atrás até namorei uma costureira, que não me deixa mentir no que digo.

Apresentado que me acho, todos os anos por esta altura folheio umas cenas que encontro nas tabacarias, antes ou depois de comprar cigarros. Mas, como sou homem para todas as estações, faço o mesmo seis meses antes, quer os cigarros que fumo há quase 40 anos, quer as revistas que vejo vai para quase toda a vida. Hão-de reparar, se ainda não o fizeram em termos, que nos quiosques onde se vende tabaco quase sempre existem revistas, e que nas papelarias que têm revistas quase sempre se vendem cigarros.

No fundo, o que eu sonhava de ser quando fosse grande era jornalista da ‘Marie Claire’. Em tempo de guerra, ia entrevistar as moças curdas guerreiras, quer as bonitas quer as quase feias – não há mulheres feias com uma espingarda a defender os seus e a sua ideia de vida – e no resto do tempo analisava de Valentino a Galliano, de baixo para cima, da frente e de costas. Se ainda me sobrasse ano, podia sempre ir visitar umas fábricas de têxteis caros ou aceitar convites para testar ‘spas’ e carros de senhora.

Sim, porque eu para moda masculina não tenho pachorra. É uma perspectiva egoísta, sei lá! E até algo narcísica e efeminada, confesso. É que quem faz o meu estilo sou eu. Isto por um lado. E, por outro, não me estou a ver a comprar um estampado de flores para oferecer a um amigo, a pensar como lhe ficaria bem se ele fizesse daquilo uma camisa. Nem que ele se chamasse Varoufakis!

Por outro lado, e ao contrário de Jack Nicholson naquele filme ‘As Good As It Gets’, no qual ele faz de escritor doido de novelas meladas e bastamente lidas por senhoras, eu nem quero pensar que para criar um personagem de fêmea tenho de ‘think of a man’ e ‘take away all reason and accountability’. Não, ‘this is not my way’. Eu sou profundamente feminino e feminista e, por isso, para criar o lado mundano e vaidoso que pretendo para mim, tenho de acrescentar aos pêlos do peito uma certa dose de incerteza e ‘galinha da vizinha é melhor que a minha, mas eu chego lá, que aquela vaca não é mais gira que eu!’ Melhor é impossível, acho.

Complexo? Não mais do que um abafo de ‘Comme des Garçons’ que vi outro dia, que deve ter muita saída nos jantares de Estado da Arábia Saudita, mas que para ser burka ainda lhe falta tapar os tornozelos da moça, que é a única coisa, incluindo os olhos, que se vê à mostra quando se contempla aquele repolho disfarçado de candeeiro barroco apagado da Sé Catedral da Moita, perdoem-me os da outra banda, principalmente a do Samouco, que para mim é a que dá mesmo festa à brava!

E não se esqueçam. Seja para a ‘night’ ou para ir à mercearia, vocês são mulheres, certo? Então não vão de pijama nem de alpergatas. O mínimo que se exige é que façam de conta que são a Raquel Prates. É que mais vale uns chinelos de quarto que umas sandálias de quarta! Principalmente à sexta e ao sábado. À noite, em específico. Depois, quando chegarem a casa, calcem lá o chinelo e tirem o ‘Manolo’. Aí sim, já ninguém se importa, nem sequer o tolo que mora convosco na cama, e que se foi bem escolhido só vos quer é rasgar a roupa.

Para a próxima prometo que falo de moda. Eu morra já aqui gaja se não o faço!

Márcio Alves Candoso

At http://raquelprates.pt

Raquel perfil_raquel-pratesNota introdutória: O Márcio Candoso é um Jornalista e escritor, daqueles a sério. Acho que hoje mais do que nunca todos nós entendemos o que isso quer dizer. Protector da palavra, que usa com rigor e de uma forma acutilante, sempre esteve habituado sobretudo aos artigos económicos, políticos e sociais, mas o Márcio é apreciador da estética e não só das palavras. A sua forma de escrever, que reinventa e respeita alguns dos maiores nomes da literatura Portuguesa, tem a virtude de se adaptar a quase todos os assuntos que despertam a sua atenção.
Conheci o Márcio através do meu marido e logo me apercebi do respeito e até um sentimento de admiração mutua que os une, são daquelas pessoas que gostam de amealhar conhecimento e que só por isso têm algo a dizer sobre muitos assuntos e quando não estão à vontade com algo… Aí estão eles a fazer um trabalho de investigação que os permita construir e fundamentar a sua opinião. Quando li as primeiras coisas escritas pelo Márcio sobre moda, fiquei impressionada, na altura ainda não tinha os conhecimentos que hoje tenho sobre a sua escrita. Ele revela aquela capacidade rara de descrever uma série de coisas que todos nós sentimos, mas que tão poucos conseguem expor de uma forma clara, mordaz, e até satírica. Foi por isso que o desafiei a escrever sobre moda no Raquelprates.pt e felizmente ele fê-lo. É com prazer que aqui o publico, melhor ainda é lê-lo e partilhá-lo. Espero que também sintam a mais valia que estes artigos têm para nós, e não o escondo.
Estejam atentas e atentos, ainda é só o começo. 😉

Raquel Prates