Aqui sou mais do que eu
Mais do que a minha própria existência
Mais do que o meu próprio ser
Aqui, erguido em mais de novecentos anos
Com verdades e enganos
Sou tanta e tanta gente
Gente que faz e que fez, que luta e sempre lutou
Gente que canta a vitória que na primavera conquistou
Aqui sou todas e todos, sou milhões num só ser
Que pelo o amanhã que nos espera, gritam no anoitecer:
Não, não passarão!
Aqui sou mais do que eu
Sou gerações nascidas, mortas e vindouras
Sou tantos Camões e Pessoas
Sou Infantes derrotados e Arys amordaçados
Sou plebe, sou do povo, sou o que chora mas sabe rir
E que desgarra e agarra a flor de Abril por cumprir
Aqui sou mais do que eu
Sou a glória de um povo inteiro
Que desde o momento primeiro
Soube saber e soube ser
Sou cultura destemida, sou estranha forma de vida
E flores de pinho por abrir
Aqui sou mais do que eu
E luto contra os que traem a história mãe gentil
Ao renegarem a sua essência
E por orgulho e carência
Sou a gaivota que derrota o preconceito a extinguir
Aqui sou mais do que eu
E luto a cada instante
Até que o infame Dante em Hades me venha buscar
Aqui com tanta gente que não pode ficar indiferente
Com tanto mar por navegar
Aqui, em profundo silêncio amargurado
De um povo feito de fado
Voltarei sempre a repetir:
Não, não vou permitir!
Não voltaremos a tempos distantes
De memórias tão perturbantes
Que tantos querem apagar
Teremos de ser sangue novo
Em memória de todo um povo
Que lutou para aqui chegar
Sigamos de punhos erguidos
Não deixemos ser currompidos
As bandeiras são para hastear
Que a memória da dita que é dura
Não esfriem esta frescura que nos faz querer lutar
Aqui sou mais do que eu
Sou um povo por terras espalhado
Que não pode ser guilhotinado
E gritando a cada momento
Com força e sentimento
Na certeza de um só coração:
Não, não passarão!
Carlos Daniel Carreira
A porta e a janela 