
(quando era pequenina, meu desejo era voar e lá de cima bem alto poder tudo observar)
E o meu avô dizia-me :
-Ninguém voa sem ter asas…
Mas sem ter asas voei
Voei nas asas dum sonho
Voei e subi bem alto
E, deveras, encantada,
Dei por mim no Universo!…
Tantas luzes a brilhar!…
Cada luz uma fogueira!…
Os astros iam falando
Em amena cavaqueira.
De ouvido à escuta fiquei
Fui ouvindo o que diziam
Falavam do Sol, da Terra,
Do que viam e ouviam
De todo o Espaço sem fim…
O Astro BISBILHOTEIRO:
-Será verdade ou mentira
Que o Sol namora a Terra
E a Terra namora o Sol?!
O Astro SÁBIO :
-Bem me parece que sim…
Todos os dias namoram
E, nunca, nunca se largam.
E, só quando a noite chega
É que ele se vai embora.
Ela dorme o seu soninho
E, vai esperando por ele
Até vir a madrugada.
Ele muito pontual
Chega sempre bem cedinho.
Acorda-a bem, de mansinho
Devagar, devagarinho,
P’ra ela não se assustar.
Com todo o seu romantismo
O seu olhar cheio de amor
Abre-lhe os olhos com beijos…
Dá-lhe energia e calor.
O Astro OBSERVADOR :
-Espera lá, ó companheiro
És sábio e também cego
Não vemos todos o mesmo!…
É que aquilo que estou vendo
Não é o que estás dizendo.
Não é ele que a procura
Ele está sempre quieto
Parado no seu lugar.
Eu cá nunca o vi andar!…
Ela é que mesmo a dormir
Nunca pára, sempre roda.
E, em sonho, o vem procurar.
Não está quieta um segundo
Roda, roda, sem parar.
Ele não a perde de vista
Seja de frente ou de costas
Nunca deixa de a olhar
O Astro MALANDRECO :
-HI! Hi! Hi!… Ele gosta muito dela!…
HI! Hi! Hi!… Eu já o vi um vez
Beijar-lhe as faces, maroto.
Já tão velhote que é, mas aparenta um garoto
Às vezes, é malandreco,
Queima a pele a muita gente.
Avisa-as desta maneira
Que se devem esconder dele
À hora em que está mais quente.
Ela veste lindas roupas
Toda vaidosa a cantar
Roda e dança à sua volta
Para o enfeitiçar.
O Astro ANÓNIMO :
-Ela? Oh! Oh! Oh! Eu bem a vejo daqui.
Vaidade é que não lhe falta.
Muda de trajes mil vezes
Pinta-se de várias cores,
Consoante as estações
P’ra ele a achar bonita.
Roda à volta de si mesma
Tal como gira o pião.
Não o larga, pois, então;
Gira, gira à volta dele
P’ra lhe ganhar afeição.
Fica cheia de ciúmes,
Se a Lua de vez em quando
Se vem por no meio dos dois.
E, fica bastante irritada e bastante enciumada.
E, sem ter papas na língua.
O Astro TERRA,
Com sua frontalidade, agressiva, diz à Lua :
-Ouve lá, ó pequenelha,
Andas sempre à minha volta…
Pára de me perseguir,
Vai para outro lugar,
Andas-me sempre a espiar!…
Cresce e, depois, aparece.
Ora não querem lá ver?
Tantos astros que há no céu…
Logo havias de escolher
Aquele que já é meu!…
O Astro LUA :
-Ao pé de ti sou pequena
Mas de ti não tenho medo,
Minha bola colorida!…
Se te faço companhia
É P’ra não ficares sozinha
Eu de ti até tenho pena!…
Tornaste-te invejosa
Quando aqueles que em ti vivem
Me vieram visitar.
Tens medo que te abandonem?!…
E, em mim queiram ficar?
-Ficar em ti, como assim? – responde a Terra –
Se és tão fria e tão gelada.
Falta em teu ventre o calor
Que gera a vida e o amor.
(O dia vai acabando, é hora da despedida.
E a Terra olha para o Sol, sonhadora e comovida) :
O Astro TERRA:
-É tão belo o pôr-do-Sol!…
Mas, sinto tal nostalgia!…
Que desejo ardentemente
Que a noite acabe depressa
E que venha o novo dia.
Se deixasse de te ver
Às escuras ficaria. Que mais aconteceria?
A pouco e pouco, é certo,
que tudo em mim morreria.
O Astro SOL:
-Amor assim como o meu
Eu te juro que não há
Eu nunca te irei deixar;
Pois, se tal acontecesse
O mundo iria acabar!…
O Astro AMBIENTALISTA:
-Tem cuidado, amiga Terra.
Os humanos que em ti vivem
Deviam tratar-te melhor
E, defender-se das feras
Que te querem fazer mal
Evitariam catástrofes
Tomando, de imediato, as medidas adequadas
HÁ UMA GUERRA GLOBAL
E NINGUÉM PÕE FIM A TAL?
O Astro TERRA:
-É bem verdade o que dizes.
E deixando de brincar, muito a sério vou falar:
Receio muito o amanhã:
Tempestades iminentes
Vejo o mar enfurecido invadir com suas águas
Cidades e muitas praias num abrir e fechar de olhos.
E, o vento muito zangado,
Com toda a força que tem, derruba casas e árvores
Tudo leva a sua frente.
Transforma, assim, paraísos
Em autênticos infernos.
O chão treme e abre fendas
Tudo engole à sua volta.
As águas dos rios estão sujas
Há peixes envenenados
que vão morrendo aos milhares.
Margens sem vegetação!… É tanta a poluição!…
Anda este mundo às avessas.
Já cai granizo no Verão!…
E os fogos assassinos?
Vão-nos matando a floresta.
Viveremos sem pulmões?…Não!…
É a guerra dos MILHÕES.
Quem vencerá esta guerra?
As VIDAS ou os TOSTÕES?
E a bela Amazónia?
Que tristeza vê-la assim
Destruída, maltratada, eu digo até retraçada
Qual irá ser o seu fim??
E, nos meus confins a fria e branca Sibéria!…
Com a temperatura a subir… os gelos estão a fundir.
E, coisa nunca antes vista:
“Faz-se esqui” de manga curta!…
Será que amanhã veremos
De biquíni e de calção
brincar na neve ou não?
A Gronelândia dá pena… troca o branco pelo negro
E a fusão dos glaciares fará transbordar Oceanos
Num desastre ambiental
Desaparecerão cidades e muitas e muitas praias
E a culpa é de quem? Do aquecimento global.
E é a actividade humana que contribui para tal.
E, perante tais cenários
Sinto-me gasta e doente.
Não consigo digerir
Tudo o que em mim depositam.
E tal como uma panela
Em constante ebulição
São muitas as convulsões.
E, a altas temperaturas
Da profundez das entranhas
Matérias incandescentes acabo por vomitar:
Lavas viscosas e quentes
Que com a pressa que trazem
Vão saindo aos empurrões
P’las crateras dos vulcões.
Dou sinais que não estou bem
Sinto-me já meio perdida.
Quem me salva? Quem me acode?
Eu corro risco de vida
A trilogia – Solo – Ar – Água
Indispensável à vida
Terá de ser saudável.
O Homem filma, vê tudo,
MAS resolve pouco ou nada…
E cada um a seu modo
Quer mandar no mundo inteiro.
Mundo que é uma balança
Uma balança de pratos
Quando desequilibrada
Vai um acima outro a baixo.
Procure-se o equilíbrio
P’ra que nenhum vá ao fundo
E, em paz e harmonia
Se possa viver no MUNDO.
Maria da Cruz Moura
(Alpalhão, Julho 2019)
Termino, citando palavras do Greenpeace
“Quando a última árvore tiver caído
Quando o último rio tiver secado
Quando o último peixe for pescado
Vocês entenderão que o dinheiro não se come… “
Tarde demais!!!…