Artigo de opinião: “Mas cabe perguntar: acaso somos livres?”

Antonio Branco 54524196_2577165482313082_425913318125862912_nSeremos nós corresponsáveis pela perda parcial ou progressiva da liberdade individual ou coletiva?

Há uma frase atribuída a Adolf Hitler que, se não é dele, è ben trovata: “Alivio-vos do pesado fardo da liberdade porque não sois capazes de o suportar”.

Seja ou não dele – não encontrei nada semelhante nas páginas do Mein Kampf–, esta horrenda afirmação retoma a seguinte tese do Grande Inquisidor, de Dostoiévski (n’ Os Irmãos Karamazov): “Nunca os homens se julgaram tão livres como hoje e, contudo, obedientemente depuseram a nossos pés a sua liberdade”.

No romance do genial escritor russo, essa frase aparece na boca do representante da Inquisição durante o duro diálogo que ele trava com um Jesus Cristo reencarnado, numa Sevilha do século XVI, e na sequência da qual o manda prender, mas espanta a capacidade que ela tem de ainda falar connosco hoje, num contexto tão diferente daquele.

O paradoxo em que ela nos estica quase até ao rasgão talvez nunca tenha sido tão agudo como atualmente, sobretudo nas sociedades democráticas: nunca nos julgámos tão livres como hoje, ao mesmo tempo que da liberdade vamos abdicando um bocadinho todos os dias.

E, sendo a liberdade um dos alicerces principais da democracia, todos nós que temos consciência desse paradoxo tememos responder negativamente à pergunta “acaso somos livres?”, mesmo quando a sentimos cada vez mais ameaçada.

Preferimos um tranquilizador “sim, ainda somos”, seguido de um rol de indícios da sua permanência na sociedade em que trabalhamos, consumimos, amamos, geramos, vivemos. E assim nos vamos mantendo até ao momento em que ela se dissipa. A verdade é que o passado tem ensinado que, a não ser quando acontece uma rutura sangrenta, o desaparecimento da liberdade só se torna palpável depois de ela ter sido totalmente perdida e de as populações já estarem subjugadas pelo efeito desse desastre.

Sou, em muitas dimensões da minha vida, um convicto adepto da perspetiva do “copo meio cheio” perante as adversidades, os problemas, os obstáculos. Aprendi, à custa do sofrimento, que ser capaz de dar mais importância ao “copo meio cheio” do que ao seu oposto alivia os tormentos da alma e ajuda a ultrapassar as situações aparentemente impossíveis de suplantar. Contudo, cada vez me parece mais imprudente transpor essa ferramenta da psicologia para o plano político.

De facto, no que se refere a esta matéria, tenho sucessivamente vindo a preferir olhar para o “copo meio vazio” enquanto mecanismo de vigilância. Nesta perspetiva, cada regressão, por mais pequena que seja, assinala um afastamento dos ideais fundadores das democracias liberais, programaticamente criadas para promover o contrário disso.

Nesse contexto, a monstruosa afirmação atribuída a Hitler põe o dedo numa ferida dolorosa: seremos nós corresponsáveis pela perda parcial ou progressiva da liberdade individual ou coletiva? Depende.

A verdade é que, nessa demanda, não estamos todos em igualdade de circunstâncias: um trabalhador precário não se encontra no mesmo patamar do trabalhador com vínculo seguro (que as sucessivas alterações das Leis do Trabalho têm vindo enfraquecer); um profissional liberal que dependa da boa relação com, por exemplo, organismos do Estado, também não; um trabalhador da base da organização não possui os mesmos meios dos seus chefes; e por aí adiante.

Um dos aspetos que mais me impressionou no exercício do cargo de reitor foi a miríade de vezes em que senti a necessidade de reforçar, junto de estudantes e trabalhadores da Universidade que recebia amiúde, o seu direito a falarem livremente comigo. Mais do que isso me impressionaram e me fizeram refletir as inúmeras vezes em que esse meu apelo genuíno não funcionou, por muito que eu fizesse.

A observação direta dessa enorme patologia da nossa democracia – bem sintomática sempre que o medo de falar ou de agir, por questões de sobrevivência, se sobrepõe ao direito de intervir, de denunciar, de criticar – tornou-me mais consciente da vantagem de focar a minha atenção no “copo meio vazio”.

Por isso, saí da reitoria ainda mais convicto de que, quanto mais poderosos, mais responsabilidades temos na tarefa imperiosa de defender a nossa liberdade, é certo, mas, sobretudo, a de todos os outros em posição mais frágil do que a nossa.

Quando o exercício do poder, nos lugares de topo ou nos intermédios, no governo, na administração pública, nas empresas, nas associações, nas escolas, nas coletividades, não integra esta dimensão, ele é necessariamente maligno e fica esvaziado de legitimidade, ainda que aparentemente pareça não a perder.

Deixarmos a democracia viver nessa aparência é meio caminho andado para alguém se sentir mais tentado a tirar-nos a liberdade, por não termos sido capazes de a suportar. E, na realidade, nunca nenhum ditador sonegou a liberdade de um povo sem a conivência explícita ou tácita dos poderosos dos vários níveis. O ditador é sempre uma ampliação histórica e social dos ditadorzinhos.

Não posso concluir sem nos recordar uma dificuldade inerente ao combate diário e persistente pela Liberdade. É que os seus inimigos são tão manhosos (ah, que luminoso aquele verso de Sophia que não me canso de citar: «O velho abutre é sábio e alisa as suas penas») que reclamam para si esta nossa palavra. Veja-se o nome da recém-criada aliança de extrema-direita no Parlamento europeu, «Europa das Nações e das Liberdades», em que, entre outros, se agrupam os partidos de Salvini e de Marine Le Pen, o AfD alemão, os Finlandeses e o Partido do Povo Dinamarquês, sob a batuta do invisível maestro que conseguiu levar Trump ao poder: o inominável Steve Bannon.

Perguntemos, pois, todos os dias, a nós e aos outros: “Acaso somos livres?” E não tenhamos medo das respostas, por mais equívocas, temerárias ou assustadoras que elas nos pareçam. E ousemos encontrarmo-nos nas margens do tempo incerto, com essas respostas nos olhos, nas bocas, nas mãos.

Na consciência coletiva é que está o ganho, porque só a união faz a força.

António Branco

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